Presos na operação Contragolpe usavam palavrões e expressões que, segundo a PF, sugerem a elaboração de um plano para tentar dar um golpe de Estado
A operação Contragolpe, deflagrada pela PF (Polícia Federal) na 3ª feira (19.nov.2024), interceptou uma série de trocas de mensagens entre militares que supostamente tramavam um plano para matar o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), o vice-presidente Geraldo Alckmin (PSB) e o ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) Alexandre de Moraes.
Nas trocas, os militares falaram, por exemplo: “quatro linhas da Constituição é o caceta” e “vamos ao vale tudo”. Também citaram o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) em diversas oportunidades, como se estivessem esperando uma ordem para agir.
Leia abaixo uma relação das mensagens mais incisivas e seus autores:
- “Quatro linhas é o ca…” – coronel Reginaldo Vieira de Abreu
Em 5 de novembro, o coronel Reginaldo Vieira de Abreu encaminhou um áudio a Mário Fernandes em que incita o companheiro a prosseguir com o plano que os militares vinham trabalhando. A PF relacionou o termo a uma expressão frequentemente usada por Bolsonaro para se referir a uma atuação dentro dos parâmetros de legalidade (“quatro linhas”).
“O senhor me desculpe a expressão, mas quatro linhas é o ca…. Quatro linhas da Constituição é o caceta. Nós estamos em guerra, eles estão vencendo, está quase acabando e eles não deram um tiro por incompetência nossa. Incompetência nossa, é isso. Estamos igual o sapo, a história do sapo na água quente. Você coloca o sapo na água quente, ele não sente a temperatura da água mudar e vai se aumentando, aumentando, aumentando quando vê ele tá morto. É isso.”
- “Primavera brasileira” – coronel Reginaldo Vieira de Abreu
No mesmo dia, Reginaldo enviou outra mensagem a Fernandes. Dessa vez relacionando a trama ao episódio da “Primavera Árabe” em que houve manifestações que resultaram na deposição de líderes de 5 países árabes.
“Vou lhe mandar um documento para o senhor ler falando sobre a primavera árabe que houve, que a população se movimentou através das redes sociais e os governos bloquearam as redes sociais, então os países de fora colocaram os provedores à disposição para que ocorresse a primavera árabe. Tem que ter a primavera brasileira.”
- “Forçada de barra” – general de brigada Mário Fernandes
Em 4 de novembro, o general Mário Fernandes enviou um áudio ao general Luiz Eduardo Ramos Baptista Pereira, então ministro chefe da Secretaria Geral da Presidência da República, a quem ele se refere como “kid preto”. Na mensagem, diz que é preciso dar uma “forçada de barra” para avançar com a operação que, segundo PF, mirava impedir que Lula assumisse a Presidência.
“Mas Kid Preto, porr.., por favor, o senhor tem que dar uma forçada de barra com o alto comando, cara. [..] Não dá mais pra gente aguentar esta porra, tá fod…. Tá fod…. E outra coisa, nem que seja pra divulgar e inflamar a massa. Pra que ela se mantenha nas ruas, e aí sim, porr…, talvez seja isso que o alto comando, que a defesa quer. O clamor popular, como foi em 64. Porque como o senhor disse mesmo, porr…, boa parte do alto comando, pelo menos do exército, não tá muito disposto, né. Ou não vai partir pra intervenção, a não ser que, pô, o start seja feito pela sociedade, porr…”
- “Vamos partir para a guerra, vamos para o vale tudo” – Helio Osorio Coelho
Em 4 de novembro de 2022, uma pessoa identificada como Hélio Osorio Coelho, um suposto líder evangélico, enviou um áudio para o general de brigada Mário Fernandes afirmando estar “pronto para a guerra” contra “comunistas”. Na mensagem, o interlocutor diz que aguarda um posicionamento do então presidente Bolsonaro sobre tomar algum tipo de atitude contra o governo recém-eleito de Lula.
“Vamos partir pra guerra, vamos pro vale tudo, entendeu? Eu estou disposto, entendeu, a lutar pelo meu país, porque eu tenho vários amigos aqui, tenho sobrinhos, sobrinhas pequenas, e eu não quero ver, né, não consigo enxergar os meus amigos, seus filhos, meus parentes, sob o julgo desses comunistas, né? Não dá, não dá, a gente não consegue enxergar isso. Nós, como militares, a gente não consegue enxergar isso. Então, estamos aí, o que o presidente decidir, o meu grupo aqui já falou, o meu grupo aqui de pastores, que são os líderes, já falou, o que o presidente decidir, a gente vai abraçar a causa, a gente vai abraçar. O presidente tem o nosso total e irrestrito apoio.”
- oportunidades perdidas – general de brigada Mário Fernandes
Em 8 de dezembro, o general Mário Fernandes enviou um áudio para o ex-ajudante de ordens de Bolsonaro, Mauro Cid, para sugerir que o militar converse com Bolsonaro para a escolha de um momento para colocar o plano em prática. Na mensagem, Fernandes chama Lula de “vagabundo” e declara que já perderam muitas oportunidades para agir.
“Cid, boa noite. Meu amigo, antes de mais nada me desculpa estar te incomodando tanto no dia de hoje. Mas, porr…, a gente não pode perder oportunidade. São duas coisas. A primeira, durante a conversa que eu tive com o presidente, ele citou que o dia 12, pela diplomação do vagabundo, não seria uma restrição, que isso pode, que qualquer ação nossa pode acontecer até 31 de dezembro e tudo. Mas, porr.., aí na hora eu disse, pô presidente, mas o quanto antes, a gente já perdeu tantas oportunidades. E aí depois meditando aqui em casa, eu queria que, porr…, de repente você passasse pra ele dois aspectos que eu levantei em relação a isso. A partir da semana que vem, eu cheguei a citar isso pra ele, das duas uma, ou os movimentos de manifestação na rua, ou eles vão esmaecer ou vão recrudescer”.