A Romênia, localizada em uma posição geopolítica estratégica e com bases militares da OTAN e de países como EUA e Reino Unido, enfrenta uma crise política inédita. Após a realização da primeira volta das eleições presidenciais, em 24 de novembro, e com a segunda volta programada para 8 de dezembro, o Tribunal Constitucional decidiu suspender as eleições, marcando um momento sem precedentes na história democrática do país.
Uma reviravolta na primeira volta das eleições
Na primeira volta, o cenário político foi surpreendido pelos resultados inesperados. Călin Georgescu, um candidato independente, venceu com 22,9% dos votos, superando Elena Lasconi (19,17%) e Marcel Ciolacu, do PSD (19,15%), que era considerado o favorito. O voto decisivo da diáspora, onde Georgescu obteve 43,35%, contribuiu para sua vitória inesperada. Esse resultado histórico excluiu os candidatos tradicionais da segunda volta, revelando o descontentamento da população com os partidos estabelecidos.
Decisão controversa do Tribunal Constitucional
Dias antes da segunda volta, o Tribunal Constitucional anulou as eleições, alegando irregularidades financeiras e interferência estrangeira. As autoridades de inteligência afirmaram que um usuário no TikTok teria investido mais de 361 mil euros em uma campanha para promover Georgescu. O tribunal alegou que a “agressiva campanha de promoção” teria distorcido os resultados, invalidando o processo eleitoral.
A decisão causou indignação imediata. Elena Lasconi, líder do USR e candidata à segunda volta, classificou a decisão como “ilegal e amoral”. George Simion, líder do AUR, chamou a medida de “golpe de Estado”. Já Georgescu afirmou que o sistema corrupto da Romênia “pisoteou a democracia”.
Situação antes da suspensão das eleições
Georgescu liderava amplamente nas pesquisas para a segunda volta, com previsões de até 77% dos votos, enquanto Lasconi marcava apenas 23%. Três fatores principais impulsionavam sua liderança:
- Apoio conservador e da diáspora: Georgescu conquistou o apoio de eleitores conservadores e nacionalistas, além de liderar o voto da diáspora com mais de 43% na primeira volta.
- Sociedade conservadora: A população romena é majoritariamente conservadora, o que reduzia as chances de Lasconi, que defendia uma agenda progressista.
- Sentimento anti-partido: Georgescu representava a insatisfação com o sistema político, fator determinante em um país onde o comparecimento eleitoral foi de apenas 31,95% nas eleições parlamentares de 2020.
Composição do Tribunal Constitucional
A decisão de anular as eleições também levantou questões sobre a independência do Tribunal Constitucional, composto por membros ligados a diferentes partidos políticos:
- PSD (Partido Social-Democrata): Vários juízes, incluindo Marian Enache e Gheorghe Stan, possuem laços diretos com o PSD.
- Presidência: Três juízes foram indicados pelo presidente Klaus Iohannis, reforçando a percepção de alinhamento político da corte.
Impactos futuros e incertezas
A suspensão das eleições cria um cenário de instabilidade e desconfiança nas instituições romenas. Novas eleições deverão ser agendadas, mas antes disso, será necessário um intervalo mínimo de três meses para organizar o processo. A coalizão governamental formada por partidos proeuropeus, como PSD, PNL e USR, exclui os soberanistas e nacionalistas, acirrando ainda mais as divisões políticas.
Caso as alegações contra Georgescu sejam confirmadas, ele poderá ser desqualificado para futuras eleições. Nesse contexto, George Simion, líder do AUR, poderia emergir como o principal representante do voto conservador e anti-establishment.
Repercussão internacional
A decisão de anular as eleições e a justificativa de interferência estrangeira geraram repercussão global. O atual presidente Klaus Iohannis declarou que o apoio estrangeiro a Georgescu constitui “uma questão de segurança nacional”. Já Marcel Ciolacu, primeiro-ministro, afirmou que a intervenção russa foi a responsável por distorcer os resultados das eleições.