Líder chinês elogia ex-presidente brasileira e Lavrov afirma que países associados terão prioridade em nova rodada de ampliação
O líder da República Popular da China, Xi Jinping, esteve na sede do Novo Banco de Desenvolvimento (NDB), em Xangai, nesta terça-feira, 29. Ele se encontrou com a ex-presidente Dilma Rousseff, atual chefe da instituição criada pelos países do Brics, e a parabenizou por sua reeleição à presidência do banco.
Segundo o Ministério das Relações Exteriores da China, o ditador afirmou que a cooperação entre os países do bloco atravessa uma fase de “desenvolvimento de alta qualidade”. Para o líder chinês, o NDB se consolidou como uma força relevante no sistema financeiro internacional. Ele ressalta que a gestão de Dilma pode marcar o início de uma “década dourada” para o banco.
Durante o encontro, Xi Jinping destacou que o NDB precisa melhorar sua estrutura de gestão, ampliar o número de projetos em áreas de tecnologia e finanças verdes e colaborar para reduzir a exclusão digital nos países em desenvolvimento.
Além disso, ele reafirmou o compromisso da China com os países do Sul. Como país-sede do NDB, o regime pretende reforçar alianças e dividir estratégias de crescimento com os demais integrantes do bloco.
“Presidente Xi Jinping parabenizou Dilma Rousseff por sua reeleição à presidência do NDB”, informa a embaixada chinesa. “Ele destacou que o banco é a 1ª instituição multilateral de desenvolvimento criada e liderada por mercados emergentes e países em desenvolvimento, uma força emergente no sistema financeiro internacional e um símbolo de união e cooperação entre do Sul Global.”
Dilma elogia liderança da China
Em resposta, Dilma argumentou que o ditador tem exercido papel central entre os países em desenvolvimento. Para a petista, Xi Jinping é uma liderança firme neste “mundo turbulento de hoje”.
A presidente do NDB elogiou os avanços econômicos alcançados pela China e destacou o papel do país asiático na reconfiguração da governança global.
Rússia indica retomada da expansão do bloco
Enquanto isso, no Rio de Janeiro, durante reunião ministerial do grupo, o ministro das Relações Exteriores da Rússia, Serguei Lavrov, disse nesta terça-feira (29) não ter dúvidas de que o processo de expansão do Brics será retomado “muito em breve” e afirmou que os membros associados terão prioridade para se juntarem integralmente ao bloco.
Nos últimos dois dias, Lavrov participou de uma reunião com os demais ministros das Relações Exteriores do Brics no Rio de Janeiro. O grupo atualmente é formado por Brasil, Rússia, Índia, China, África do Sul, Arábia Saudita, Egito, Emirados Árabes Unidos, Etiópia, Indonésia e Irã.
Além dessas nações, em 2024 foram incorporados como parceiros — ou seja, com um status menor — Belarus, Bolívia, Cazaquistão, Cuba, Malásia, Nigéria, Tailândia, Uganda e Uzbequistão.
“Foi decidido que tomaríamos uma pequena pausa na expansão para que pudéssemos acomodar a nova composição do Brics e o grupo pudesse transitar de forma suave para a nova situação”, disse Lavrov em uma entrevista coletiva. “O entendimento é que os países parceiros serão candidatos prioritários para serem membros planos. Não tenho dúvidas de que o processo de expansão será retomado muito em breve.”
Desafios da expansão
Embora a expansão tenha criado um bloco para quase metade da população mundial e 37% do PIB, a presença de países com posições diferentes sobre temas geopolíticos causou um cenário desafiador para o Brasil, que neste ano exerce a Presidência.
Na terça, os países membros não conseguiram chegar a um acordo para a publicação de um documento oficial por causa de uma disputa regional entre países africanos sobre qual deveria ser a linguagem do Brics para uma possível reforma do Conselho de Segurança da ONU.
O órgão tem 15 membros, dos quais dez cumprem mandatos de dois anos e cinco são permanentes e têm poder de veto — Estados Unidos, França, Reino Unido, China e Rússia.
O bloqueio ocorreu depois que o governo Lula propôs incluir no texto final uma menção específica à aspiração brasileira de ocupar um assento permanente no Conselho de Segurança da ONU. A ideia era retomar um texto acordado em 2023, quando o Brics passou por uma expansão, que também citava os pleitos de Índia e África do Sul.
Egito e Etiópia foram contra. Esses dois países resistiram a endossar um documento que privilegiasse pleitos dos membros antigos do grupo em detrimento dos novos. A menção específica à África do Sul era o principal problema para eles, uma vez que isso entraria em choque com uma posição sobre reforma da ONU já acordada no âmbito da União Africana (chamado de Consenso de Ezulwini).
Na terça, Lavrov abordou o tema e disse que o principal objetivo era confirmar as aspirações dos países em desenvolvimento a ter um papel mais ativo no conselho, e que isso pode ser feito de várias maneiras.
Crédito Folha e Revista Oeste