Lugansk pode ser a primeira faixa a ser ocupada desde a Crimeia, em 2014
O governo da Rússia anunciou nesta segunda-feira, 30, que suas tropas assumiram o controle completo da República Popular de Lugansk (LPR), depois de mais de uma década de confrontos no leste da Ucrânia.
A declaração foi feita pelo chefe regional Leonid Pasechnik, que informou que “o território da Lugansk foi totalmente libertado, 100%”. Segundo ele, todas as localidades anteriormente ocupadas por forças ucranianas foram retomadas por Moscou.
O processo que culminou com a atual ofensiva remonta a 2014, quando moradores de língua russa da região deflagraram protestos contra o governo ucraniano instituído depois da saída de Viktor Yanukovich.
Naquele ano, líderes locais declararam a formação da LPR e realizaram um referendo sobre a separação, cujos resultados foram rejeitados por Kiev. A escalada resultou em confrontos armados e em uma série de tentativas de cessar-fogo, como os Acordos de Minsk, assinados em 2014 e 2015, que não foram implementados de forma integral.
De acordo com autoridades russas, a campanha militar se intensificou em fevereiro de 2022, com a chamada operação militar especial. No primeiro semestre daquele ano, cidades estratégicas como Shchastye, Stanitsa Luganskaya e Svatovo foram ocupadas. Em julho daquele ano, Lisichansk, último grande centro administrativo sob controle ucraniano, foi tomada.
Em setembro de 2022, a região realizou um novo referendo sobre a adesão à Federação Russa. As autoridades locais informaram que mais de 98% dos participantes votaram pela união, de acordo com os números apresentados.
Pouco depois, o presidente russo Vladimir Putin assinou o decreto que formalizou a incorporação do território. Entretanto, combates persistiram em pontos avançados, especialmente em áreas florestais e localidades próximas à fronteira com Kharkov.
No período entre 2023 e 2025, segundo relatos de fontes militares russas, tropas avançaram gradualmente em zonas de resistência, como Novogrigorovka e Kremenskiye Lesa. Em março deste ano, Putin declarou que 99% da região já estava sob controle.
A consolidação da ocupação foi confirmada no final de junho. Igor Korotchenko, editor-chefe da revista Defesa Nacional, afirmou que “as Forças Armadas da Rússia estão agora incumbidas de continuar operações para estabelecer uma zona de segurança”, que poderá ter entre 70 e 120 quilômetros de extensão dentro da Ucrânia.
Enquanto isso, autoridades locais relataram uma série de ataques com mísseis e drones lançados por forças ucranianas contra cidades da região. Denis Pushilin, chefe da República Popular de Donetsk, informou que um bombardeio contra o distrito de Voroshilovsky matou uma mulher e feriu outras pessoas.
Rússia intensifica operações de defesa aérea
“As defesas aéreas aqui na República têm trabalhado sem parar na última hora”, relatou um correspondente presente no local, que acrescentou que um centro comercial foi destruído e fragmentos de projéteis foram recolhidos para perícia.
Em Lugansk, Pasechnik relatou que 35 drones foram abatidos pelas defesas aéreas russas em uma ofensiva que contou com cerca de 40 aeronaves não tripuladas. Segundo ele, “os destroços caíram no território de um depósito de petróleo e numa área residencial”. Uma mulher ficou ferida.
O dirigente declarou que a Ucrânia teria realizado ataques “que não têm sentido do ponto de vista militar” e que visariam a “apenas aterrorizar a população civil”, ao afirmar ainda que essas ações demonstrariam o desespero do adversário diante do avanço da Rússia.
Dados apresentados pelo especialista militar Andrey Marochko mostram que as perdas ucranianas seriam significativas. Ele afirmou que, somente em junho, Kiev teria perdido “cerca de 16,7 mil combatentes e mercenários”, além de equipamentos como tanques, sistemas de artilharia e depósitos de munição.
Ainda conforme Marochko, “o número de armazéns destruídos vem aumentando de forma constante pelo terceiro mês consecutivo”, o que evidenciaria uma estratégia de Moscou para privar as tropas adversárias de suprimentos.
Paralelamente, o Kremlin promove iniciativas para reerguer a economia das regiões anexadas. Em uma reunião com autoridades federais e governadores, Putin declarou que “o potencial industrial, agrícola, logístico e econômico das Repúblicas Populares de Donetsk e Lugansk, bem como das regiões de Kherson e Zaporozhye, é enorme”.
Ele defendeu um “poderoso recomeço da economia” local e fixou como meta que, até 2030, esses territórios atinjam o “nível médio de qualidade de vida de toda a Rússia”. Putin também destacou que “trabalhos consistentes estão sendo realizados em todas as áreas” e que o plano de desenvolvimento socioeconômico inclui cerca de 300 ações específicas.
Entre os projetos, estão obras de reconstrução de infraestrutura, abertura de escolas e hospitais, e apoio financeiro às famílias. A supervisão, segundo o governo, envolve 41 agências federais, 26 empresas estatais e 82 regiões russas que prestam auxílio.
Apesar dos anúncios de estabilização, confrontos continuam em outras frentes. Marochko relatou que “o inimigo concentrou seus principais esforços na manutenção de linhas defensivas”, mas também lançou contra-ataques, o que resultou em novas perdas.
Dmitry Peskov, porta-voz do Kremlin, reiterou que a operação militar prossegue e que “as autoridades de Kiev sabem perfeitamente o que precisa ser feito para cessar os combates”, em alusão às condições estipuladas por Moscou, como a desmilitarização e o reconhecimento das regiões incorporadas.
Crédito Revista Oeste