Em depoimento ao STF, foi relatado que a PRF abordou 324 ônibus e reteve 13 em 30 de outubro de 2022
Operações realizadas pela Polícia Rodoviária Federal (PRF) no Nordeste durante o segundo turno das eleições de 2022 vieram à tona novamente nesta quinta-feira, 24, com o depoimento do ex-diretor da corporação Silvinei Vasques. Ele negou ter emitido ordens para impedir o deslocamento de eleitores do então candidato Luiz Inácio Lula da Silva (PT) naquela ocasião.
Durante o interrogatório, conduzido pelo juiz auxiliar Rafael Tamai, do Supremo Tribunal Federal (STF), Silvinei afirmou que a PRF abordou 324 ônibus na região em 30 de outubro de 2022, recolhendo 13 deles. “Nós abordamos 28 mil pessoas”, disse Vasques. “Não tem como interferir num universo de 150 milhões.”
Silvinei nega ter recebido ordens políticas
O ex-diretor explicou que, nos casos em que houve apreensão de ônibus por problemas técnicos, outros veículos foram acionados para transportar os passageiros. Em um episódio no Pará, Silvinei disse que viaturas policiais escoltaram os coletivos até o destino. Ele enfatizou que as operações visavam a coibir crimes eleitorais e nega ter havido direcionamento político ou ordens ilegais do então ministro da Justiça, Anderson Torres.
Silvinei Vasques, que responde como réu no chamado “núcleo 2” da ação penal sobre a suposta tentativa de golpe de Estado, declarou: “Eu nunca participei de uma organização criminosa, porque eu não conheço essas pessoas”. As investigações revelam que ele teria orientado agentes da PRF a dificultarem o acesso de eleitores às urnas, principalmente no Nordeste, onde Lula superou Jair Bolsonaro (PL).
No depoimento, Silvinei reforçou que a corporação seguia determinações institucionais. “Tudo que recebemos como determinação entendemos que deveria ser cumprido por dever legal”, destacou. “Não vi nenhuma ilegalidade nas falas do ministro. Foi isso que repassamos à PRF.”
Prisão, denúncias e relatos de sofrimento
Preso em 2023 sob acusação de coordenar operações que teriam impedido votos no segundo turno, Silvinei chegou a pedir votos para Bolsonaro em redes sociais naquele período. Em agosto de 2024, o ministro Alexandre de Moraes concedeu liberdade a ele, condicionada ao uso de tornozeleira eletrônica. Silvinei ocupou a direção-geral da PRF a partir de 2021, nomeado por Bolsonaro, e foi exonerado em dezembro de 2022, depois da repercussão dos fatos eleitorais.
As acusações do núcleo 2 da ação penal
O chamado núcleo 2 da ação penal é composto de réus acusados de tentativa de golpe, abolição violenta do Estado Democrático de Direito, dano qualificado, deterioração de patrimônio tombado e participação em organização criminosa armada. Segundo a denúncia da Procuradoria-Geral da República, esse grupo seria responsável por coordenar planos e ações para monitorar e neutralizar autoridades públicas.