Morre José Roberto Guzzo, o maior jornalista do Brasil

Aos 82 anos, vítima de infarto, partiu uma das vozes mais corajosas e lúcidas da imprensa nacional

Na madrugada deste sábado, 2 de agosto, o jornalismo brasileiro perdeu sua maior referência com a morte de José Roberto Dias Guzzo, aos 82 anos, vítima de um infarto. Paulista da capital, nascido em 10 de julho de 1943, J.R. Guzzo, como assinava seus textos, consagrou-se como o mais brilhante profissional da imprensa nacional, deixando um legado imensurável para o jornalismo brasileiro.

Guzzo iniciou sua carreira aos 18 anos como repórter do jornal Última Hora de São Paulo, em 1961. Sua trajetória profissional foi marcada pela independência intelectual e pelo compromisso inabalável com a verdade. Passou pelo Jornal da Tarde antes de integrar, em 1968, a equipe fundadora da revista Veja, onde começou como editor de Internacional e depois se tornou correspondente em Nova York.

Foi na direção da Veja, cargo que assumiu em 1976 aos 32 anos, que Guzzo demonstrou sua genialidade jornalística. Sob seu comando até 1991, a revista saiu do vermelho e sua circulação saltou de 175 mil para quase 1 milhão de exemplares, alcançando o quarto lugar no ranking das maiores revistas semanais de informação do mundo, atrás apenas das americanas Time e Newsweek e da alemã Der Spiegel. Por sua habilidade de transformar textos complexos em leitura acessível, ganhou o carinhoso apelido de “mão peluda” na redação.

Durante sua carreira, cobriu eventos históricos como a Guerra do Vietnã e foi o único jornalista brasileiro presente ao encontro do presidente Richard Nixon com o líder chinês Mao Tsé-Tung, em 1972. Em 1988, passou a acumular a direção da Veja com o cargo de diretor-geral da Exame, transformando-a na publicação mais rentável da Abril em termos relativos.

Em 2020, aos 77 anos, Guzzo demonstrou que sua paixão pelo jornalismo permanecia intacta ao fundar a Revista Oeste, ao lado dos jornalistas Jairo Leal e Augusto Nunes. A publicação, autodefinida como conservadora, nasceu de seu compromisso com a liberdade de expressão e a independência editorial. “Ser conservador, em nosso entendimento, é defender claramente que as coisas boas sejam conservadas”, escreveu o próprio Guzzo sobre a filosofia da revista.

Desde 2019, Guzzo também era colunista do Estadão, onde se destacou pela coragem intelectual e pela independência com que analisava os principais temas do cenário político nacional. Sua última coluna, enviada na sexta-feira anterior à sua morte, criticava o governo brasileiro por defender o ministro Alexandre de Moraes diante das sanções americanas, demonstrando que sua lucidez e capacidade crítica permaneceram íntegras até o fim.

O jornalista Augusto Nunes, amigo e colega de décadas, prestou uma homenagem emocionante: “Conheci J.R. Guzzo em 1972. De lá para cá convivi com mais de 1.500 jornalistas. Guzzo foi o maior de todos. Despeço-me do velho amigo com um beijo e uma lágrima.”

O governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, definiu Guzzo como “uma referência intelectual que nunca se calou diante do poder”, ressaltando que o jornalista “marcou época por sua coragem, lucidez e compromisso inegociável com a liberdade de expressão”.

José Roberto Guzzo foi sepultado no domingo, 3, no Cemitério Congonhas, em São Paulo, em cerimônia que contou com a presença de familiares, amigos, colegas de trabalho e admiradores de sua trajetória. O Brasil perde não apenas um grande jornalista, mas um defensor incansável da verdade e da liberdade de imprensa.

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