Marinha cancela Operação Formosa em meio à crise com EUA

Ministério da Defesa determinou que comandantes priorizem exercício conjunto e COP-30

A Marinha do Brasil informou nesta quarta-feira (20) que cancelou a realização da Operação Formosa, treinamento militar que ocorre desde 1988 na cidade de Formosa, em Goiás. O exercício estava previsto para começar no início de setembro.

Militares de diferentes regiões do país, que participariam da operação, inclusive já estavam em deslocamento para o Centro-Oeste, mas a atividade foi suspensa por restrições orçamentárias.

Segundo apurou a CNN, o ministro José Múcio Monteiro orientou os comandantes das Forças a priorizarem a Operação Atlas — que reúne Exército, Marinha e Força Aérea Brasileira — e também a destinação de recursos para a COP-30.

O cancelamento da Operação Formosa ocorre também em meio à crise diplomática com os Estados Unidos e à sinalização de militares americanos sobre desistência de participar do exercício conjunto em Goiás e de outras atividades no Brasil.

Em nota, a Marinha informou que a Operação Formosa foi cancelada para dar prioridade à Operação “Atlas – Armas Combinadas”, exercício conjunto com Marinha, Exército e Força Aérea Brasileira, que “contará com ampla mobilização logística, deslocamento estratégico de meios e emprego de tropas em larga escala”.

“Diante da amplitude operacional e dos recursos orçamentários necessários à Operação Atlas, a Marinha do Brasil cancelou a edição de 2025 da Operação Formosa, reafirmando seu compromisso com a integração das Forças Armadas e a preparação conjunta para a defesa dos interesses nacionais”, informou a nota.

Fontes das Forças Armadas relataram ainda à CNN que há uma preocupação com a falta de recursos e, por isso, a necessidade de priorizar também a atuação de militares durante a COP-30, em novembro, em Belém do Pará.

A suspensão da Operação Formosa surpreendeu integrantes das Forças Armadas ouvidos sob reserva pela CNN. Até terça-feira (19), militares envolvidos na logística do treinamento trabalhavam para a realização do evento.

O cancelamento da operação ocorre após a própria Marinha ter realizado, no dia 11 de agosto, uma cerimônia que marcou o início do deslocamento de 2 mil militares, mais de 100 viaturas e oito helicópteros, tanto para a Operação Atlas, em Boa Vista (RR), quanto para a Formosa (GO)

“A mobilização em curso constitui instrumento de afirmação de presença efetiva do Estado. Representa, sobretudo, expressão inequívoca da capacidade de projeção de Poder Naval enquanto vetor de soberania e de dissuasão do País na Amazônia. São homens e mulheres forjados no rigor da doutrina, que percorrerão aproximadamente 1.500 quilômetros até Formosa, onde serão incorporados a meios adicionais da Força Naval”, afirmou na ocasião o comandante da Marinha, almirante Marcos Sampaio Olsen.

Como mostrou a CNN, a restrição orçamentária deve fazer também o Exército cancelar o Combined Operation and Rotation Exercise (CORE), um programa de cooperação entre Brasil e Estados Unidos, firmado durante o governo Jair Bolsonaro (PL), que previa ações de treinamento conjuntas.

A informação de fontes das Forças Armadas é que o tensionamento diplomático entre Brasil e EUA é o principal motivo, além da restrição orçamentária. Haveria pressão para que todo relacionamento bilateral que envolva a embaixada americana — que vem atacando o STF — fosse revisto.

Operação Formosa

A Operação Formosa esteve no centro do noticiário político em agosto de 2021, quando blindados da Marinha que seguiam para o treinamento em Goiás desfilaram em frente ao Palácio do Planalto antes de seguirem para o destino.

O desfile de blindados da Marinha, então comandada pelo almirante Almir Garnier, ocorreu no dia em que o voto impresso foi derrubado no plenário da Câmara dos Deputados. A exibição dos veículos foi encarada como uma tentativa de ameaça ao Legislativo, na ocasião.

Naquele ano, Bolsonaro acompanhou pessoalmente parte do treinamento, que teve até apresentação ao som da trilha sonora de “Missão Impossível”.

O episódio entrou na investigação da suposta tentativa de golpe de Estado. Em depoimento ao STF (Supremo Tribunal Federal), o ex-comandante da Marinha, um dos réus, negou que o desfile de blindados tenha tido o objetivo de pressionar a Câmara ao ser questionado pelo ministro Alexandre de Moraes, relator do processo.

“Todos os anos na cidade de Formosa, a Marinha realiza uma operação. Esse planejamento logístico leva meses de antecedência, porque esses blindados vêm do Rio de Janeiro. Ao assumir o comando em abril, eu falei ‘olha, vamos fazer uma visitação pública com esses veículos aqui na Esplanada. Todo mundo pode ver. Contudo, isso não foi programado para o dia da votação no Congresso”, disse.

Crédito CNN Brasil

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