Lula usa viagens e atos oficiais para antecipar campanha à reeleição

Petista disse em 2022 que seria “presidente de um mandato só”, mas já está em busca do quarto

Na quinta-feira, Lula desembarcou em Sorocaba para entregar consultórios odontológicos sobre rodas. A solenidade tratava de investimentos na saúde bucal, mas o presidente aproveitou para soltar a língua em defesa da reeleição.

“Um mandato do Lula incomodou muita gente”, gracejou, falando de si na terceira pessoa. “Dois mandatos incomodaram muito mais. Três mandatos muito, muito mais. Imagina se tiver o quarto mandato”, concluiu, para delírio da claque que assistia à cerimônia.

O petista tem usado viagens e atos oficiais para promover sua pré-candidatura. Em julho, após vistoriar obras de uma ferrovia no Ceará, encerrou o discurso nos trilhos da campanha. “Podem ter certeza que eu serei candidato para ganhar as eleições, porque eu não vou entregar este país de volta para aquele bando de malucos”, prometeu.

Duas semanas antes, em cerimônia da Petrobras no Rio, esqueceu refinarias e gasodutos para projetar o desejo de mais um mandato. “Se acontecer tudo que eu estou pensando, este país vai ter pela primeira vez um presidente eleito quatro vezes”, proclamou.

Lula já disputou seis eleições presidenciais — recorde só igualado por Eymael, o democrata-cristão. O petista perdeu três vezes, em 1989, 1994 e 1998, e venceu outras três, em 2002, 2006 e 2022. Na última campanha, disse ser candidato a “presidente de um mandato só”. Prometeu fazer um governo de transição e abrir espaço para “gente nova” em 2026.

Acreditou quem quis, e agora ele expõe abertamente o plano de concorrer pela sétima vez. O presidente só admite desistir por razões de saúde. No dia do segundo turno, terá 81 anos de idade.

Desde que a emenda da reeleição foi aprovada, todos os inquilinos do Alvorada tentaram prorrogar a estadia no palácio. FH, Lula e Dilma conseguiram, e Bolsonaro foi o único barrado.

Apesar de ter desconversado na última campanha, Lula tem direito a concorrer de novo em 2026. O que não pode é usar a máquina do governo e as solenidades oficiais como palanque. O cargo já dá uma vantagem natural ao candidato que tenta a reeleição. Quem exagera na dose desequilibra o jogo e pode ser punido por propaganda antecipada e abuso do poder político.

No mês passado, em visita ao Chile, o presidente enalteceu a alternância de poder. “Você pode eleger um empresário num tempo, pode eleger um trabalhador num outro tempo. Essa que é a maravilha da democracia”, exaltou. Bonitas palavras, mas a prática mostra que alternância boa é para os outros.

Crédito O Globo

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