Declarações foram feitas em entrevista ao jornal Folha de S. Paulo
A filósofa Marilena Chaui voltou a fazer seus conhecidos ataques contundentes à classe média e a dizer que continua fiel ao marxismo. As declarações foram dadas ao jornal Folha de S.Paulo, em entrevista publicada no último sábado (27), na qual reforçou seu posicionamento ideológico e disse com todas as letras que odeia a classe média até o fim de seus dias.
– Ah, sim, [eu odeio a classe média] com todas as minhas forças. Eu odeio a classe média até o fim dos meus dias. Por que é que eu odeio a classe média? A sociedade capitalista tem duas classes fundamentais: a classe trabalhadora, que produz a mais-valia, e a burguesia. O trabalho da burguesia é explorar o trabalhador, porque uma parte do trabalho dele não é paga e vira capital. O lugar, o papel, o significado, a relação dessas duas classes são claríssimos. Entre elas, tem uma terceira, que não tem lugar econômico, porque não está nem na classe trabalhadora nem na classe burguesa. E a função da classe média é ideológica: espalhar as ideias da burguesia, da classe dominante – disse.
Chaui disse ainda ser marxista “pra valer” e defendeu que é necessário pensar “a partir da economia” para só então seguir para a ideologia.
– Sou [marxista], pra valer. Tem que pensar a partir da economia, senão você pensa só a partir da ideologia. Você começa a ideologizar tudo e corre o risco de ideologizar os movimentos sociais, que passam a ter conflitos entre si e a se dividir internamente também. Muito me preocupa o fato de que possam surgir bolsões de intolerância – declarou.
Ao ser questionada sobre os rumos da esquerda, Chaui disse enxergar um risco de os chamados “movimentos identitários” fragmentarem essa posição ideológica.
– A esquerda não fez isso [se atualizar]. Nós ainda não acertamos o passo da reflexão e da ação. Nós estamos um pouco antiquados. E corremos o risco, o que me deixa desesperada, de os movimentos identitários nos fragmentarem em vez de nos unirem. A grande contradição da nossa sociedade continua a ser entre classe trabalhadora e classe burguesa, ou seja, a produção da mais-valia – apontou.
A filósofa também comentou a cultura do cancelamento e chamou a prática de uma forma de “assassinato”.
– Até um mês atrás eu não sabia que existia essa figura chamada cancelamento. Ou seja, é o assassinato, né? Não vi ninguém analisar o cancelamento como um assassinato socialmente aceito. E sobretudo entre os mais jovens, há casos de suicídio mesmo. Eu costumo dizer o seguinte: nasci na primeira metade do século 20, em 1941, e não vou entrar no século 21. Não vou conseguir – resumiu.