Documentos revelam que estrutura financeira controlada pelo Hans 95 aplicou R$ 2,5 bi em negócios ligados ao dono do Banco Master
O fundo Hans 95, um dos principais alvos da Operação Carbono Oculto, movimentou bilhões em investimentos ligados a Daniel Vorcaro, preso pela Polícia Federal (PF) nesta terça-feira, 18. A investigação apura o uso do sistema financeiro para lavar dinheiro do Primeiro Comando da Capital (PCC). As informações são do portal UOL.
O Hans 95 pertence à gestora Reag e opera por meio de uma complexa rede de fundos interligados, o que dificulta o rastreamento do verdadeiro destino dos recursos.
Dados obtidos na Comissão de Valores Mobiliários (CVM), em Juntas Comerciais e cartórios revelam que a maior parte dos aportes ocorreu por meio de fundos fechados — com poucos cotistas e sem acesso público. A estrutura em cascata permitiu esconder os beneficiários finais, prática comum nos esquemas investigados pela PF.
Um dos focos da operação envolve a aquisição de ativos financeiros do Banco Master por fundos ligados ao Hans 95. Em outubro de 2024, o próprio Hans 95 investiu R$ 124 milhões em CDBs da instituição.
Dois fundos controlados indiretamente por ele reforçaram o vínculo. O Astralo 95 registrou R$ 622 milhões em papéis do banco em março de 2025, com 95% de suas cotas sob controle do Hans 95. Já o Murren 41 alocou R$ 103 milhões em CDBs do Master no ano anterior. No total, foram pelo menos R$ 849 milhões movimentados em títulos da instituição presidida por Vorcaro.
O Master enfrentava uma grave crise de liquidez. Documentos judiciais da Operação Compliance Zero revelam que o banco oferecia ao mercado títulos de crédito considerados “podres”. As empresas emissoras eram, segundo os investigadores, de fachada ou controladas por laranjas vinculados ao próprio banco.
Fundos da Reag ignoraram obrigações legais
Com patrimônio de quase R$ 35 bilhões, o Hans 95 descumpriu normas da Receita Federal e da CVM. Desde 2022, não entregava declarações obrigatórias ao Fisco. Também não submeteu auditorias de 2022 a 2024, como exige a regulação.
Na última avaliação formal, em 2021, auditores se recusaram a opinar por falta de dados confiáveis. A omissão, segundo os investigadores, pode ter servido para mascarar os aportes e inflar artificialmente o patrimônio do banco.
O Hans 95 ainda figura como principal investidor de outra empresa com laços diretos com Vorcaro: a Akka Empreendimentos. Em junho de 2024, o fundo Murren 41 possuía R$ 1 bilhão em ações da Akka — valor muito superior ao capital social declarado pela companhia, de apenas R$ 31 milhões.
A maior parte desse capital foi injetada por Vorcaro e seu sócio Augusto Lima em 2022. Não há registro de atividade econômica da Akka. Assim como a Super Empreendimentos, empresa ligada a outro braço dos investimentos do Hans 95, a Akka é uma sociedade anônima fechada, protegida por sigilo fiscal.
Fundo investiu em imóvel de luxo ligado a Vorcaro
O Termopilas, quarto elo abaixo do Hans 95, aportou R$ 1,65 bilhão na Super Empreendimentos — empresa que adquiriu a casa onde Daniel Vorcaro residia em Brasília. A mansão, com 1.699 m², foi comprada em junho de 2024 por R$ 36,1 milhões.
A Super não tem atividade conhecida. É uma S.A. fechada, com site inativo. De 2021 a 2024, o empresário e pastor Fabiano Zettel, cunhado de Vorcaro, esteve na diretoria.
Zettel negou que o fundo estivesse investido na empresa enquanto fazia parte da diretoria. No entanto, dados públicos da CVM mostram que o Hans 95, por meio da cascata de fundos, já controlava a maior parte do capital da Super em junho de 2024.
O Astralo 95, por sua vez, além de aplicar R$ 622 milhões no Master, investiu outros R$ 300 milhões no Galo Forte FIP. Esse fundo foi usado por Vorcaro para adquirir parte da Galo Holding, que controla o Atlético Mineiro. O jornal O Estado de S. Paulo revelou o elo financeiro.
Com isso, o Hans 95, por meio da cadeia de controle do Astralo, está também vinculado à operação que colocou Vorcaro como acionista relevante do clube mineiro.
Documentos ligam Hans 95 a suspeito do PCC
Relatórios da Receita Federal revelam repasses diretos da mulher de Mohamad Hussein Mourad — suspeito de integrar o PCC — ao Hans 95.
Foram R$ 17 milhões enviados em 2023 por meio do BK Bank, fintech investigada como elo da facção no sistema financeiro. Outros R$ 45 milhões, de origem não identificada, também chegaram ao fundo pela mesma via em 2022.
O Hans 95 investiu ainda em dois fundos sob suspeita de ligação direta com Mohamad: o Gold Style e o Mabruk II. Ambos aparecem dois níveis abaixo na estrutura. Os recursos eram repassados por parentes e empresas do grupo investigado. O Mabruk II, segundo a Receita, mantinha a maior parte do patrimônio em debêntures emitidas por empresas do próprio Mohamad — indicativo de ativos inexistentes e fluxo circular de lavagem.
Empresas e envolvidos silenciam
Daniel Vorcaro e o Banco Master não responderam às perguntas enviadas pelo UOL. A defesa do banqueiro se limitou a afirmar que ele e seus advogados sempre se colocaram à disposição das autoridades.
A Reag, gestora do Hans 95, também não comentou os aportes. Em nota publicada no lançamento da Carbono Oculto, afirmou colaborar com as investigações.
Por fim, a defesa de Augusto Lima declarou que as operações sob investigação ocorreram depois da saída dele do Banco Master e que não têm ligação com sua atuação anterior. Já Fabiano Zettel, por nota, alegou que o fundo Hans 95 não integrava a Super Empreendimentos durante sua gestão.





