Secretário do PT é sócio de empresa ligada a fraudes no INSS

Ricardo Bimbo afirmou que sua atuação na Datacore Informática era limitada e negou qualquer ligação com o escândalo dos descontos indevidos

Transações financeiras que envolvem a Datacore Informática, empresa da qual o atual secretário nacional de Ciência e Tecnologia da Informação do PT, Ricardo Bimbo Troccoli, é sócio minoritário, chegaram a R$ 11,1 milhões entre 2023 e 2024.

Os repasses partiram de intermediárias ligadas a associações investigadas por fraudes em aposentadorias do INSS.

Documentos do Coaf e da Receita Federal, obtidos pela CPMI do INSS e relatados inicialmente pelo jornal Metrópoles, mostram que a Datacore foi a terceira maior beneficiada por transferências da ADS Soluções e Marketing, principal empresa do esquema.

Entre os valores recebidos, constam R$ 8,3 milhões da ADS, R$ 1,4 milhão da G8 Cursos e Consultoria e R$ 121 mil da Sempre Empreendimentos.

Intermediadores e conexões com investigações

Além disso, empresas cujos sócios são apontados como intermediadores de recursos das associações transferiram R$ 1,4 milhão para a Datacore no mesmo período.

Entre essas empresas estão 360 Soluções e Marketing (R$ 693 mil), JT Corretora (R$ 579 mil) e Pactual Serviços (R$ 50 mil), todas citadas em investigações da Polícia Federal (PF).

Ricardo Bimbo Troccoli, conforme nota enviada pelo PT ao portal g1, destacou que detém participação minoritária na Datacore, nunca recebeu dividendos e desconhece os contratos ou as operações com as empresas investigadas.

“Ressalta-se ainda que Ricardo Bimbo não teve contato ou relacionamento com as empresas mencionadas e nunca teve ciência ou qualquer contato direto com contratos ou operações das referidas empresas”, diz a nota.

No Imposto de Renda, a Datacore declarou ainda ter a receber R$ 6,7 milhões de duas dessas empresas, sendo R$ 5,6 milhões da ADS, desativada em junho de 2025, e R$ 1 milhão da G8 Cursos.

Apesar do volume de recursos movimentados de 2021 a 2024, não há registro de gastos com salários de funcionários nem propriedade de sede própria, mas consta aluguel de R$ 4 mil anuais em endereço na Avenida Faria Lima, em São Paulo.

Em 2023, a Datacore repassou R$ 122 mil à CH Soluções de Tecnologia da Informação, cujo sócio, Rosenilton Santos de Brito, é beneficiário do Bolsa Família no valor de R$ 300.

Secretário do PT nega envolvimento em fraudes no INSS

A principal operadora das transferências irregulares, a ADS Soluções e Marketing, criada em fevereiro de 2023 em Aracaju, gerenciava recursos para três associações suspeitas de desviar verbas do INSS: Universo, APDAP/Acolher e Asbrapi.

Em nota complementar, Ricardo Bimbo esclareceu que sua atuação na Datacore se limitou à promoção de oportunidades para o uso de um game educacional em instituições de ensino, tendo participado de poucos pregões e sem receber nenhum lucro, participação ou dividendos.

Ressaltou ainda que exerce voluntariamente a função de coordenador setorial do PT, sem poder decisório.

Associações investigadas estão sediadas no Nordeste

Essas associações, todas sediadas no Nordeste, firmaram acordos com o INSS entre 2022 e 2023, tornando-se aptas a realizar descontos em benefícios previdenciários.

Entre julho de 2022 e março de 2025, os descontos nos contracheques somaram R$ 493 milhões.

A ADS, por sua vez, movimentou R$ 116 milhões no mesmo intervalo, até ser desativada em junho de 2025.

De acordo com a Polícia Federal, o sócio formal da ADS, Ivaldo Carvalho Silveira, também presidia a Unidos – Associação de Defesa dos Aposentados e Pensionistas, que descontou R$ 155 mil em mensalidades.

Silveira chegou a solicitar auxílio emergencial em 2020, mas teve o benefício bloqueado.

Investigações revelam que a ADS atuava como intermediadora dos recursos desviados das entidades.

Servidores afastados do INSS, como André Fidelis e Virgílio Oliveira, mantinham relações indiretas com a ADS, inclusive por meio de repasses a familiares.

As associações envolvidas, embora antigas, passaram a operar descontos depois de firmar acordos com o INSS, e nenhuma respondeu às reclamações de ressarcimento feitas por aposentados.

Dados da Dataprev enviados à CPMI revelam que, até setembro, 299.536 pessoas solicitaram reembolso de descontos realizados pelas três associações, totalizando 507 mil reclamações.

O governo já devolveu R$ 190 milhões dos R$ 423 milhões descontados entre 2022 e 2025, segundo registros oficiais.

Crédito Revista Oeste

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