Lula avalia compra de novo avião presidencial

Petista pretende substituir aeronave oficial, mas teme desgaste político em ano eleitoral

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva analisa a possibilidade de adquirir um novo avião presidencial. O processo, porém, encontra obstáculos em razão do elevado custo da aeronave, estimado entre R$ 1,4 bilhão e R$ 2 bilhões, conforme estimativas de mercado, num momento em que as contas públicas se deterioram em razão da disparada dos gastos públicos no governo petista. Além disso, 2026 é ano eleitoral e o gasto bilionário poderia ser mal visto.

De acordo com o jornal O Globo, o orçamento do avião deve ser apresentado ao presidente no começo de 2026, enquanto a fase de cotação de preços está quase concluída no Ministério da Defesa e na Aeronáutica. Desde 2024, o petista avalia adquirir uma nova aeronave oficial.

A iniciativa de substituir o avião atual é motivada pela insatisfação de Lula e da primeira-dama do país, Janja da Silva, com as condições do modelo utilizado hoje. O presidente deseja uma aeronave com autonomia estendida para viagens internacionais, ambientes adequados a reuniões, área vip e um quarto mais confortável para o casal.

O comandante da Aeronáutica, Marcelo Kanitz Damasceno, relata dificuldades para encontrar, no exterior, aeronaves que atendam a essas exigências específicas. Um dos desafios é a baixa oferta internacional de aviões com esse padrão, o que pode prolongar o processo de aquisição por meses, devido à necessidade de adaptações exclusivas. A produção global desse tipo de aeronave, voltada para chefes de Estado, não acompanha a demanda existente.

Por isso, a Aeronáutica recorreu a corretores especializados, que buscam em diferentes países fabricantes capazes de fornecer modelos que cumpram os critérios do Palácio do Planalto. A aquisição deve ser feita por meio de licitação, informa O Globo. Em 2024, a Força Aérea Brasileira chegou a consultar preços de aeronaves alemãs, como uma usada pela ex-chanceler Angela Merkel, mas as negociações não avançaram.

Gastos e desgaste

Um dos motivos que preocupam a equipe do governo é o desgaste político com um gasto tão elevado em ano eleitoral. Possivelmente, a compra só se finalizaria no segundo semestre, quando começa a campanha, e Lula deve disputar a reeleição.

Aliados também consideram o custo das viagens eleitorais. Durante a campanha, despesas de deslocamento devem ser pagas pelo PT. Um avião mais moderno poderia elevar esses gastos, já que, mesmo em ano eleitoral, Lula só pode usar aeronaves da FAB, acompanhado do Gabinete de Segurança Institucional. O partido precisa ressarcir o governo pelos custos e declarar esses gastos ao Tribunal Superior Eleitoral.

Além disso, a compra ocorreria em um momento de insatisfação dos militares com o orçamento restrito das Forças Armadas. Para o próximo ano, o orçamento da Defesa é de R$ 141 bilhões, dos quais R$ 108 bilhões correspondem a despesas com pessoal. Um gasto com o avião presidencial poderia aumentar ainda mais a insatisfação.

Incidentes com o avião presidencial

Lula expressa preocupação com os perigos enfrentados em viagens oficiais. O incidente mais recente ocorreu em outubro, no Pará, quando uma falha no motor antes da decolagem obrigou a comitiva presidencial a trocar de aeronave.

O problema aconteceu antes da partida para Breves, na Ilha do Marajó, forçando todos a desembarcarem por precaução, segundo o próprio presidente. O avião envolvido no episódio pertence à frota de 11 unidades do modelo C-105 Amazonas, operado pela Força Aérea Brasileira desde 2006 e fabricado pela Airbus.

Outro episódio constrangedor foi registrado em março, quando o Airbus A319CJ, chamado Aerolula, precisou arremeter ao tentar aterrissar no Aeroporto de Sorocaba, interior paulista. Segundo a Secretaria de Comunicação Social da Presidência, a manobra foi causada por ventos fortes, exigindo novo procedimento de pouso.

Em outubro de 2024, o Aerolula passou por uma pane no México depois de falha em uma das turbinas, forçando a aeronave a voar quase cinco horas em círculos sobre a Cidade do México para consumir combustível e garantir um pouso seguro no Aeroporto Felipe Ángeles. Depois disso, Lula e sua equipe seguiram para Brasília em outro avião.

O presidente brasileiro relatou, durante a primeira reunião ministerial de 2025, que considerou ter corrido risco de morte naquele episódio. “Pensei na minha vida porque eu fiquei 4 horas e meia dentro de um avião, sabe, esperando um milagre de Deus para que o avião não caísse”, disse Lula. Desde então, o Aerolula opera com uma turbina alugada. A previsão é que dois novos equipamentos sejam entregues em janeiro para renovar os motores da aeronave presidencial.

O Aerolula e o “Aerojanja”

O Aerolula foi adquirido há duas décadas, no primeiro mandato de Lula, e tem três áreas distintas: a parte da frente tem dez poltronas reservadas para o presidente, chefes de Estado e ministros; ao centro, há uma sala de reuniões; atrás, assessores e convidados dispõem de cerca de 40 assentos semelhantes aos de voos comerciais.

Infográfico publicado na Revista Superinteressante sobre o Aerolula | Arte: Emiliano Urbim/Juliana Vidigal/Patrícia Vieira/Sattu/Luiz Iria/Reprodução/Superinteressante

A autonomia reduzida é apontada como um dos principais problemas, exemplificado por viagem ao Japão, em maio de 2023, quando Lula precisou realizar duas escalas para abastecimento.

O investimento na compra do Aerolula, atualizado, foi de R$ 495 milhões. O avião recebeu críticas e foi apelidado pela oposição, que utilizou o caso como símbolo de despesas elevadas do governo. Esta é a segunda tentativa de Lula de adquirir uma nova aeronave; no fim de 2024, o plano foi adiado em razão de debates sobre o ajuste fiscal, e opositores passaram a chamar a iniciativa de AeroJanja.

Crédito Revista Oeste

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