Segundo a Colunista da Globo, Malu Gaspar, Moraes negociou soltura de assessor de Bolsonaro por cargo.
Leia na íntegra:
A articulação que convenceu Alexandre de Moraes a soltar coronel assessor de Bolsonaro
Marcelo Câmara foi preso em fevereiro durante operação da PF que mirou suspeitos de envolvimento em trama golpista.
Uma articulação de bastidores que durou semanas teve papel fundamental na decisão do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes, de soltar o coronel Marcelo Câmara, assessor de Jair Bolsonaro investigado no inquérito sobre os atos golpistas de 8 de janeiro de 2023.
Fontes envolvidas nas conversas contaram que o lobby teve a participação do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), do ex-presidente da República Michel Temer (MDB), responsável por indicar Moraes ao STF, e do comandante do Exército, Tomás Paiva.
Os três, em momentos diferentes e cada um à sua maneira, procuraram convencer Moraes de que manter a prisão preventiva de Câmara era um exagero e que o ministro precisava começar a “calibrar” suas decisões para diminuir os ataques a ele mesmo e ao Supremo por parte da extrema direita.
Nessas conversas, eles argumentavam que o longo período de prisão preventiva sem condenação e sem uma denúncia formal dava argumento à narrativa bolsonarista de perseguição por parte de Moraes.
De acordo com interlocutores de Tarcísio, a soltura de Câmara também entrou no “pacote” que envolve a absolvição do senador Jorge Seif (PL-SC) no processo que julga a sua cassação no Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Em troca, o governador descartou nomear um desafeto de Moraes para comandar a procuradoria-geral do Estado e colocou no posto um procurador aprovado pelo ministro.
Câmara estava preso desde 8 de fevereiro, quando a Polícia Federal realizou uma operação sobre integrantes do entorno bolsonarista acusados de participar do planejamento de um golpe de Estado.
Segundo a PF, o papel do coronel que trabalhava lado a lado com o ex-presidente da República no Palácio do Planalto seria o de vigiar pessoas. Uma das suspeitas era de que ele teria monitorado o próprio Alexandre de Moraes e produzido dossiês com a movimentação do ministro, o que ele nega.
Polêmica com Musk
O lobby pró-Câmara entrou em ação a partir do momento em que Moraes aceitou marcar uma audiência com o advogado do coronel, Eduardo Kuntz. Em meados de abril, o gabinete do magistrado marcou horário para a semana passada, ou seja, 30 dias depois, no Salão Branco do Supremo – uma sala que fica anexa ao plenário do tribunal, para onde os ministros vão nos intervalos das sessões.
Naquele momento, não tinham acontecido ainda a polêmica pública de Moraes com o dono do X (ex-Twitter), Elon Musk, em razão de suas decisões mandando remover perfis das redes sociais e a divulgação pelo Congresso americano de ofícios sigilosos do ministro.
Também não tinha acontecido ainda a viagem dos ministros do Supremo para participar de um evento de uma empresa privada em Londres, que teve má repercussão.
Nesse meio tempo, houve também um lobby de senadores pela absolvição de Seif.
Toda a pressão funcionou, e Moraes executou um recuo tático – que, além de operar uma guinada radical na posição do relator do caso Seif, também levou à soltura do ex-ajudante de ordens de Bolsonaro, Mauro Cid, no último dia 3.
Nesse contexto, no dia 7 de maio o procurador-geral da República, Paulo Gonet, deu um parecer pela soltura de Câmara, argumentando que não havia mais motivos para mantê-lo preso porque ele não teria mais como atrapalhar as investigações, que já estão em estágio avançado.
Ou seja: entre o momento que Moraes marcou a audiência com o advogado de Câmara e a reunião propriamente dita, na última quinta-feira, mudou todo o contexto político envolvendo o ministro, o bolsonarismo e até mesmo o Congresso Nacional.
Ao receber Kuntz, diante de vários outros advogados e ministros da Corte, Moraes estava bem humorado e sorridente, e prometeu dar seu parecer em breve. No dia seguinte, o assessor de Bolsonaro estava solto.
Câmara foi para casa, mas ainda precisa usar tornozeleira eletrônica, tem que se apresentar toda semana à Vara de Execuções Penais do Distrito Federal e está proibido de deixar Brasília.
Respostas de 5
É repugnante que isso aconteça no âmbito das decisões judiciais. Isso é coisa de gangsterismo, jamais de um juiz de corte suprema.
Fátima tens toda razão , isto é coisa de gangterismo nunca deveria existir em um país civilizado
Será que a coisa vai virar?
Miriam acredito que sim , só espero estar vivo para ver .
Prisão ilegal não resulta em narrativa. É fato
. Provava perseguição.