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Pressionado, Lula mantém discurso por “transparência” na Venezuela

Ao lado do presidente do Chile, Gabriel Boric, Lula diz que a sua decisão é motivada pelo “respeito à soberania popular”.

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) disse nesta 2ª feira (5.ago.2024) defender que haja transparência dos resultados da eleição presidencial realizada na Venezuela em 28 de julho. Afirmou que o “respeito pela tolerância e pela soberania” e o “compromisso com a paz” é o que o faz pedir ao governo do presidente venezuelano, Nicolás Maduro, diálogo e entendimento com a oposição.

“O respeito pela tolerância e pela soberania popular é o que nos move a defender a transparência pelo resultado. O compromisso com a paz é que nos leva a conclamar as partes ao diálogo e promover o entendimento entre o governo e a oposição”, disse Lula em declaração conjunta com o presidente do Chile, Gabriel Boric, durante sua visita oficial ao país.

O líder chileno se absteve de falar sobre o assunto e só disse que o abordará na 3ª feira (6.ago). “Essa visita se trata da relação Chile e Brasil”, disse.

Lula falou sobre o tema na parte em que leu seu discurso. Disse que expôs a Boric as iniciativas que tem “empreendido” com os presidentes da Colômbia, Gustavo Petro, e do México, Andrés Manuel Lópes Obrador, em relação ao processo político na Venezuela.

Em 1º de agosto, os 3 presidentes publicaram uma nota conjunta pedindo que a autoridade eleitoral da Venezuela, ligada ao regime chavista, avançasse “de forma expedita” com a divulgação dos boletins de urna, mas não houve críticas à demora na divulgação.

O sistema eleitoral venezuelano é eletrônico e permite uma divulgação quase imediata dos votos em cada equipamento –da mesma forma que se dá no Brasil. Apesar disso, não se sabe quando e nem se as atas serão apresentadas.

Também pediram “contenção” e “cautela” de todos os “atores políticos e sociais” para evitar uma escalada da violência na Venezuela. A maioria dos manifestantes que têm ido às ruas no país vizinho são de opositores a Maduro que cobram dados detalhados da apuração e sugerem que houve fraude. A nota foi elogiada por Maduro.

Sem mencionar a Venezuela e fazendo referência à relação do Brasil com o Chile, em outra parte do discurso, Lula disse que “cada país tem a sua cultura, seus interesses e suas nuances políticas”. Declarou ainda não ser possível “querer que todo mundo fale a mesma coisa, tente a mesma coisa. Nós não somos iguais. Nós somos diferentes, e isso é extraordinário, porque as diferenças permitem que a gente procure encontrar as nossas similaridades, as coisas que nos ajudam”.

Visita de Estado

Lula chegou à Praça da Cidadania às 10h40 (horário de Brasília), onde depositou flores junto ao monumento ao Libertador Bernardo O’Higgins. Em seguida, foi recebido por Boric e passou em revista às tropas chilenas. Ao ter seu nome anunciado pelo locutor, Lula recebeu aplausos e vaias de pessoas comuns que assistiam à cerimônia nas imediações.

Os 2 presidentes fizeram 1º um encontro restrito e depois ampliaram para uma reunião com ministros e congressistas dos 2 países. Embora oficialmente o impasse eleitoral na Venezuela não estivesse na agenda oficial do encontro, o tema foi um dos principais pontos de discussão.

Logo depois da eleição venezuelana, Lula e Boric divergiram. Ambos cobraram a divulgação das atas das urnas eletrônicas do país vizinho depois que o Conselho Nacional Eleitoral venezuelano declarou o presidente Nicolás Maduro (Partido Socialista Unido da Venezuela, esquerda) reeleito. A oposição contesta até o momento o resultado, diz que houve fraude e que Edmundo González Urrutia (Plataforma Unitária Democrática, centro-direita) é o verdadeiro vencedor do pleito.

Na época, Boric foi enfático ao dizer que não reconhecerá a vitória do líder chavista sem que os resultados possam ser verificados, inclusive por observadores internacionais. Disse ser “difícil de acreditar” no resultado. O embaixador chileno na Venezuela, Arévalo Méndez, foi expulso em 29 de julho por causa dos questionamentos de Boric.

Lula, por outro lado, minimizou a situação. Disse em 30 de julho que “não há nada de grave” ou de “anormal” no processo eleitoral do país vizinho. Afirmou que cabe à Justiça decidir sobre o resultado e criticou a imprensa por tratar o caso como se fosse a “3ª Guerra Mundial”. Embora faça cobranças, a diplomacia brasileira adotou um tom de neutralidade para se colocar como mediadora do diálogo entre Maduro e a oposição.

O presidente brasileiro tem sido cobrado pela comunidade internacional a endurecer sua posição sobre Maduro. Nesta 2ª (5.ago), 30 ex-líderes de 13 países pediram que Lula defenda a democracia no país vizinho. O grupo pede que o governante reafirme “seu inquestionável compromisso com a democracia e a liberdade”.

As declarações foram dadas em carta divulgada pela Idea (Iniciativa Democrática da Espanha e das Américas). Para o Itamaraty, o que a carta pede já está sendo feito pelo governo brasileiro em relação à Venezuela, inclusive com o reconhecimento da oposição. No domingo (4.ago), María Corina Machado, uma das principais opositoras de Maduro, agradeceu a Lula por “posições muito firmes” sobre o pleito.

A ex-presidente do Chile Michelle Bachelet (Partido Socialista do Chile) participou da reunião ampliada com Lula e Boric, em que ministros dos 2 países também estiveram presentes. Ao chegar ao palácio presidencial, a ex-presidente disse a jornalistas concordar com a posição de Boric de cobrança para que o governo de Nicolás Maduro, na Venezuela, publique os boletins de urna das eleições presidenciais e permita que elas sejam analisadas por observadores independentes.

“Compartilho plenamente da opinião do presidente. Ele teve postura muito clara, em que pedimos que possa [o governo venezuelano] apresentar as atas eleitorais para que haja claridade com respeito aos resultados. Creio que o importante é que o governo siga na mesma lógica de assegurar que possamos ter os resultados verdadeiros da Venezuela”, disse.

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