Sequestro contas de uma empresa não implicada na desobediência, somente porque Musk é um de seus acionistas, é impróprio
A decisão do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes de suspender o acesso ao Twitter/X no Brasil, se for avaliada em si mesma, merece reparos pela desproporcionalidade de algumas medidas. É o que destaca o editorial do jornal Folha de S.Paulo desta segunda-feira, 2.
Apesar disso, o jornal destaca que a insistência da empresa em descumprir ordens judiciais não poderia passar sem sanção.
“O dono da plataforma, Elon Musk, deliberadamente empurrou o magistrado do STF para essa situação, não porque o empresário seja paladino das liberdades”, afirma a Folha. “Musk é um conhecido aliado da ditadura chinesa em nome da proteção das operações da sua montadora, a Tesla, no país asiático.”
No entanto, apontar a farsa sustentada por Musk não serve para justificar todas as medidas tomadas por Moraes. “Há aspectos abusivos no rol das deliberações, como o de sequestrar contas de uma empresa não implicada na desobediência, a provedora Starlink, somente porque Musk é um de seus acionistas”, diz a publicação.
Felizmente o próprio ministro recuou de outra arbitrariedade, a de banir a oferta de aplicativos VPN [rede privada virtual, em tradução livre], que protegem redes privadas de acessos não autorizados.
Seria também punir firmas e pessoas sem ligação com a desobediência do Twitter/X apenas porque o VPN pode ser usado para acessar furtivamente a rede social.
Pontos frágeis da decisão de Moraes precisam ser corrigidos
A Folha avalia que, para que os pontos frágeis da decisão de Moraes possam ser criticados e corrigidos, seria urgente que os 11 integrantes do Supremo deliberassem sobre ela. O ministro relator preferiu, no entanto, submetê-la nesta segunda-feira, 2, ao crivo da 1ª Turma, onde atuam cinco ministros.
“O incidente sobre o Twitter/X, vale ressaltar, é apenas sintoma do desequilíbrio original que foi a Corte se autoconceder poderes extraordinários, mal delimitados e incompatíveis entre si, a título de combater ameaças de extremistas contra o tribunal”, afirma o jornal. A anomalia dos inquéritos especiais completou cinco anos.
“Por meio desse mecanismo esdrúxulo, cidadãos diversos têm sido atingidos em seus direitos de se expressar, pelas decisões que derrubam contas em plataformas digitais, e de ir e vir, com a anulação de passaportes”, acrescenta a publicação.
As medidas de força ocorrem em surdina, pois as ordens monocráticas são secretas, e as pessoas atingidas não têm acesso a elas para exercer o seu direito de defesa. Até hoje ninguém além de Moraes sabe exatamente quantos cidadãos foram alvejados nem as alegações de cada ação restritiva.
O presidente do STF, Luís Roberto Barroso, em entrevista a esta Folha, acenou com a conclusão do inquérito das fake news, a partir da avaliação do procurador-geral da República, que poderá fazer denúncias baseadas no material ou solicitar o arquivamento das apurações.
“O exemplo brasileiro ressalta a sapiência dos idealizadores do moderno Estado Democrático de Direito”, afirma o jornal. “Entregar a alguém, mesmo que bem-intencionado, poderes de mais e controles de menos é dar margem a abusos.”
Uma resposta
Sem sombra de dúvida, o ministro Moraes não tem mais condições de proferir seus arestos, de modo a transmitir segurança jurídica às partes envolvidas e a própria sociedade…