Foto - Sergio Camargo
Recorte ideológico do evento causou desconforto a alguns países, que mencionaram ditadura de esquerda na Venezuela
O governo do presidente Lula (PT) e o do premiê da Espanha, Pedro Sánchez, encaminharam a um grupo de países um documento cujo texto afirma que há uma “crescente coordenação de movimentos de extrema direita no mundo” e que as “fake news têm sido usadas como arma por atores extremistas”.
Segundo apuração do jornal Folha de S.Paulo, a nota acompanhou o convite para um evento que será presidido pelos dois líderes em paralelo à Assembleia-Geral da Organização das Nações Unidas (ONU), que acontece no fim deste mês, em Nova York.
O texto também cita os atos do 8 de janeiro em Brasília e a invasão do Capitólio, a sede do Congresso norte-americano, como símbolos de “movimentos violentos com elementos comuns, como a rejeição da alternância democrática e da diversidade, além da exaltação de uma forma exclusiva de identidade nacional”.
Os ex-presidentes Jair Bolsonaro (PL) e Donald Trump não são mencionados.
O evento, intitulado “Em defesa da democracia: lutando contra o extremismo”, vai ocorrer na tarde de 24 de setembro, mesmo dia da abertura da Assembleia-Geral, em que Lula faz tradicionalmente o primeiro discurso.
O Brasil confirmou a participação dos presidentes da França, Emmanuel Macron, do Chile, Gabriel Boric, e da Colômbia, Gustavo Petro. A presença do norte-americano Joe Biden, no entanto, ainda é incerta. Lula fez o convite ao presidente dos Estados Unidos em uma ligação em 30 de julho, durante a qual discutiram a crise política na Venezuela.
Também foram convidados México, Alemanha, Reino Unido, Canadá, Cabo Verde, Quênia e o Conselho Europeu.
Ideologia de evento de Lula gerou desconforto
O recorte ideológico do evento causou desconforto em algumas delegações, que argumentam que é impossível discutir a erosão da democracia sem mencionar a repressão na Venezuela, uma ditadura de esquerda.
Sobre essa crítica, membros do governo brasileiro ouvidos reservadamente pela Folha dizem que os líderes participantes terão liberdade para tratar os casos que acharem necessários em suas intervenções.
O documento encaminhado com o convite diz ainda que a polarização tem sido usada como ferramenta política.
“As redes sociais e as mídias digitais facilitaram o acesso à informação, mas o excesso de informação também resultou em desinformação, uma tendência que o advento e uso difundido de ferramentas de inteligência artificial generativa vai multiplicar em termos de alcance e velocidade”, afirma o texto.
“As fake news se tornaram uma arma para atores extremistas”, acrescenta o documento, que, segundo a Folha, também alerta para o aumento da manipulação de informação do exterior, a interferência em processos eleitorais e na política institucional.
A nota enviada pelo Brasil aos convidados da cúpula também aponta a articulação entre “movimentos extremistas”.
“A crescente coordenação entre movimentos de extrema direita representa um risco sério de regressão democrática, inclusive de erosão de direitos básicos”, informa o documento. “Os direitos das mulheres estão em jogo. Os direitos LGBT estão sendo minados. As mudanças climáticas e a ciência estão sendo negadas. A intolerância está aumentando. A desigualdade está crescendo. Minorias estão sob ataque.”