Foto – EPA/BIDEN CAMPAIGN/ADAM SCHULTZ
A menos de um mês das eleições presidenciais
Kamala Harris enfrenta um dilema difícil em sua campanha. Se criticar a administração Biden, da qual ainda é vice-presidente, estará criticando a si mesma. Mas se apoiar completamente tudo o que foi feito, não poderá se apresentar como uma mudança, algo que uma maioria dos americanos parece estar buscando.
Até agora, sua estratégia tem sido tentar ignorar essa contradição, simplesmente não a abordar, e, quando questionada diretamente em entrevistas — o que já aconteceu —, responder com suas respostas evasivas ou com o simples fato de que ela não é Joe Biden.
O problema não é apenas que a campanha de Trump não vai deixá-la escapar dessa questão; o maior desafio é que Harris enfrenta um saboteador de peso dentro de seu próprio partido: Joe Biden.
Os mais benevolentes atribuem esses “sabotagens” à tendência de Biden, por conta de sua idade avançada, de cometer gafes. No entanto, muitos acreditam que se trata de uma vingança sutil do presidente, que foi vítima de um evidente golpe político interno e guarda um profundo ressentimento contra sua vice-presidente.
O episódio em que Biden foi visto usando um boné “MAGA” (Make America Great Again) pode ser interpretado como uma provocação leve ou uma fraqueza. Porém, o mais recente incidente é difícil de enxergar de maneira tão inocente.
Enquanto Harris se esforça para se distanciar de sua própria administração, Joe Biden aproveita todas as oportunidades para lembrar ao público que Kamala Harris é uma parte integral da administração Biden. Ele insiste, inclusive, que Harris participou ativamente de todas as decisões importantes, tanto na política interna quanto externa.
Além disso, há a questão do furacão Helen e do governador da Flórida, Ron DeSantis. A administração Biden tem enfrentado muitas críticas por sua atuação durante a crise do furacão, e Harris tentou culpar o governador republicano pela má gestão da situação, acusando-o de fazer política em vez de colaborar com o governo federal. No entanto, no momento em que Harris fez essas declarações, Biden apareceu na televisão elogiando DeSantis, dizendo que ele estava fazendo um ótimo trabalho.
Quando os jornalistas pressionaram Biden para criticar DeSantis pela suposta falta de colaboração, Biden respondeu: “O governador da Flórida cooperou. Ele disse que conseguiu tudo o que precisava. Ontem, voltei a falar com ele e disse: ‘Sei que você está fazendo um ótimo trabalho. Tudo está indo bem, agradecemos, e literalmente dei meu número de telefone pessoal para ele ligar. Então, não sei… Houve um começo difícil em alguns lugares, mas todos os governadores, da Flórida à Carolina do Norte, cooperaram totalmente e reconheceram o que esta equipe está fazendo, e estão fazendo um trabalho incrível. Mas ainda temos muito trabalho pela frente”.
Essas declarações contraditórias de Biden colocam Harris em uma posição ainda mais delicada, destacando as tensões internas e os desafios que enfrenta em sua tentativa de se desvincular da atual administração e se apresentar como uma candidata de mudança.