Ministério das Relações Exteriores da Venezuela divulgou nota em resposta a comunicado do Itamaraty sobre a crise entre os dois países
A ditadura da Venezuela divulgou nota neste sábado (2) na qual acusou novamente o Brasil de se intrometer em assuntos do país, um dia após o Itamaraty ter criticado o “tom ofensivo” e “ataques pessoais e escaladas retóricas, em substituição aos canais políticos e diplomáticos”, por parte do chavismo nas relações entre os dois países.
“O Governo da República Bolivariana da Venezuela considera incompreensível o recente comunicado elaborado pela chancelaria brasileira (Itamaraty), no qual tenta enganar a comunidade internacional, fazendo-se passar por vítimas numa situação em que claramente agiram como vitimizadores, o que surpreendeu a sociedade brasileira, venezuelana e latino-americana”, escreveu o Ministério das Relações Exteriores da Venezuela, num comunicado divulgado no canal do chanceler Yván Gil no Telegram.
“A Venezuela demonstrou, através da denúncia pública, com dezenas de evidências, como o Itamaraty empreendeu uma agressão descarada e grosseira contra o Presidente Constitucional, Nicolás Maduro Moros, instituições e poderes públicos, bem como a sociedade venezuelana, numa campanha sistemática que viola os princípios da Carta das Nações Unidas, tais como a soberania nacional e a autodeterminação dos povos, violando inclusive a própria Constituição brasileira em seu mandato de não ingerência nos assuntos internos dos [outros] Estados”, acrescentou a nota.
O comunicado divulgado pelo Itamaraty na sexta-feira (1º) foi uma resposta a um post da Polícia Nacional Bolivariana no Instagram, que mostrava o presidente Luiz Inácio Lula da Silva com o rosto escurecido e a bandeira do Brasil ao fundo, com a mensagem “Quem se mete com a Venezuela se dá mal”. Após a nota do Itamaraty, essa postagem foi apagada.
O ditador Nicolás Maduro e outros integrantes do seu regime vêm criticando o Brasil por ter vetado a entrada da Venezuela nos Brics como país-parceiro, durante a cúpula do bloco realizada em Kazan, na Rússia, na semana passada.
Na quarta-feira (30), o regime chavista anunciou a convocação do encarregado de negócios do Brasil no país caribenho e chamou a Caracas o embaixador venezuelano em Brasília, Manuel Vadell, para consultas, para manifestar “repúdio”. Um dia depois, veio a postagem da Polícia Nacional Bolivariana.
Na nota de sexta, o Itamaraty justificou que cobra a divulgação de atas de votação da eleição presidencial na Venezuela, realizada em julho e fraudada para que Maduro permanecesse no poder, porque foi testemunha dos Acordos de Barbados.
Tais compromissos foram assinados no ano passado pelo chavismo e pela oposição venezuelana para que ocorressem eleições presidenciais livres este ano no país, mas a ditadura os desrespeitou, ao impedir a participação da líder oposicionista María Corina Machado como candidata.
Depois, ocorreu a fraude eleitoral que tirou a vitória de Edmundo González, que substituiu Machado na principal chapa opositora.
No comunicado deste sábado, a Venezuela negou que o Brasil tenha sido testemunha dos Acordos de Barbados.
“O argumento expresso pelo Itamaraty, para se intrometer nas questões eleitorais e políticas da Venezuela, intitulando-se testemunha dos Acordos de Barbados, carece de veracidade e é uma artimanha que deve cessar imediatamente, uma vez que os referidos acordos foram desenvolvidos exclusivamente por venezuelanos”, alegou a chancelaria venezuelana.
“O Governo Bolivariano insta, mais uma vez, a burocracia do Itamaraty a desistir de se intrometer em questões que só dizem respeito aos venezuelanos, evitando a deterioração das relações diplomáticas entre os dois países, para as quais deve assumir uma conduta profissional e diplomática respeitosa, como a Venezuela demonstrou através da sua política externa”, finalizou o ministério.