Acareações não impactam investigação de suposta tentativa de golpe

STF e PGR afirmam que ‘tudo ficou exatamente igual’ depois de confrontarem as versões de Cid e Braga Netto e os de Torres e Freire Gomes

As duas acareações realizadas nesta terça-feira, 24, no Supremo Tribunal Federal (STF) — entre Mauro Cid e o general Walter Braga Netto, e entre o ex-ministro Anderson Torres e o ex-comandante do Exército Marco Antônio Freire Gomes — não devem alterar o curso das investigações sobre a suposta trama de golpe de Estado que mirava impedir a posse de Lula depois das eleições de 2022. 

Essa é a avaliação tanto de ministros do STF quanto da cúpula da Procuradoria-Geral da República (PGR). “Tudo ficou exatamente igual”, afirmou um ministro da Corte ao portal G1. 

Apesar das divergências de versões registradas nos depoimentos, a PGR considera que o conjunto de provas e testemunhos colhidos até agora tem fortalecido a acusação contra o ex-presidente Jair Bolsonaro e outros 30 réus, entre eles ex-ministros, militares e policiais. 

A expectativa no STF é que o julgamento do chamado “núcleo crucial” da investigação — formado por Bolsonaro, Braga Netto, Mauro Cid, Anderson Torres e outros quatro acusados — aconteça até setembro deste ano.

Na acareação entre Cid e Braga Netto, manteve-se o impasse sobre a entrega de dinheiro vivo no Palácio da Alvorada. Cid reafirmou ter recebido uma caixa de vinho com R$ 100 mil das mãos do general, em 9 de dezembro de 2022, supostamente para financiar ações dos chamados “kids pretos”. 

Braga Netto nega a acusação e diz ter apenas encaminhado um pedido de apoio financeiro ao tesoureiro do PL, sem repassar valores diretamente a Cid.

Questionado sobre o local exato da entrega, Cid falou não se recordar exatamente e que poderia ter sido em um dos três lugares onde transitava mais no Alvorada: a garagem privativa, a sala da ajudância de ordens ou o estacionamento ao lado da piscina. O ex-ajudante de ordens de Bolsonaro também disse que a sacola estava lacrada e que calculou o valor aproximado “pelo peso”, sem abrir o conteúdo.

Freire Gomes acusa Torres de suporte à “minuta do golpe”

Na segunda acareação, Freire Gomes declarou que a minuta de golpe encontrada na casa de Anderson Torres em janeiro de 2023 era “semelhante” a um documento apresentado por Bolsonaro em uma reunião com comandantes militares realizada em dezembro de 2022. 

Os dois confirmaram que houve reuniões com Bolsonaro para discutir decretos visando a contestar o resultado das eleições de 2022. No entanto, Torres negou ter redigido alguma versão da chamada “minuta do golpe”, mas Freire Gomes o descreveu como o responsável por dar “suporte jurídico” à ideia.

“A testemunha diz que a minuta apresentada no dia 7 teria o conteúdo semelhante à encontrada na residência do réu Anderson Torres”, diz a ata da acareação, divulgada pelo STF. “A testemunha não diz que as minutas são iguais ou com conteúdos idênticos. Mas, sim, que os conteúdos são semelhantes.”

Plano não avançou por causa das Forças Armadas, diz ex-oficial

Para os ministros do STF, as contradições entre os depoentes são esperadas e devem ser exploradas pelas defesas, mas não fragilizam o conjunto probatório já reunido pela Polícia Federal. A percepção geral é que os relatos confirmam, ao menos, a existência de articulações com potencial de ruptura institucional, o que sustenta as denúncias apresentadas pela PGR.

Entre os depoimentos considerados mais contundentes por integrantes da PGR ouvidos pelo jornal O Globo, está o do ex-comandante da Aeronáutica Carlos de Almeida Baptista Junior. Em depoimento de uma hora e 20 minutos prestado em maio, ele confirmou sua participação em reuniões no Alvorada, onde Bolsonaro teria discutido medidas para impedir a posse de Lula. 

Baptista Junior também mencionou a ameaça de prisão feita por Freire Gomes ao então presidente caso o plano fosse levado adiante e revelou que a prisão do ministro Alexandre de Moraes chegou a ser discutida. Segundo o ex-comandante da Aeronáutica, a articulação só não se concretizou porque não houve adesão unânime das Forças Armadas.

Crédito Revista Oeste

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