O vazamento de informações sobre o primeiro depoimento concedido pelo tenente-coronel Mauro Cid à Polícia Federal sobre um suposto plano de golpe de Estado após as eleições de 2022 gerou críticas dos advogados que fazem a defesa do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) no processo.
Bolsonaro foi indiciado em dezembro de 2024 pela PF por ter supostamente participado da articulação de um golpe de Estado e tentativa de abolição violenta do Estado Democrático de Direto. O ex-presidente nega qualquer envolvimento ou articulação dos atos.
Em nota assinada por Paulo Cunha Bueno, Daniel Tesser e Celso Sanchez Vilardi, os advogados afirmam que a defesa do presidente Bolsonaro, tendo tomado conhecimento da divulgação de trechos da colaboração premiada de Mauro Cid, “manifesta sua indignação diante de novos vazamentos seletivos”, assim como seu inconformismo diante do fato de que, “enquanto lhe é sonegado acesso legal à integralidade da referida colaboração, seu conteúdo, por outro lado, veio e continua sendo repetidamente publicizado em veículos de comunicação, tornando o sigilo uma imposição apenas às defesas dos investigados, evidentemente prejudicadas em seu direito a ampla defesa”.
Mauro Cid foi ajudante de ordens do ex-presidente Jair Bolsonaro. Ele revelou em sua primeira colaboração com a PF que uma equipe composta por mais de duas dezenas de pessoas teria elaborado dois planos com o objetivo de, supostamente, reverter o resultado da eleição presidencial de 2022. A defesa de Bolsonaro tem tentado acesso ao conteúdo dos depoimentos e do processo, o que tem sido negado de forma sistemática.
Vazamento
Os depoimentos estão protegidos por sigilo por determinação do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Alexandre de Moraes. No entanto, o conteúdo do primeiro depoimento foi divulgado no sábado (25) pelo colunista Elio Gaspari, do jornal Folha de S. Paulo e elenca como diferentes nomes teriam incentivado ações para reverter o resultado das urnas.
A defesa de Bolsonaro avalia que investigações “semi-secretas” — em que “às defesas é dado acesso seletivo de informações, impedindo o contexto total dos elementos de prova —, são incompatíveis com o Estado Democrático de Direito, que nosso ordenamento busca preservar”.
As revelações feitas por Mauro Cid trazem à tona detalhes sobre supostas articulações e grupos que orbitavam o ex-presidente Jair Bolsonaro. Cid teria detalhado como diversas figuras públicas e militares, divididas em grupos com diferentes intenções, participaram de encontros no Palácio da Alvorada para discutir estratégias que iam desde a tentativa de contestar os resultados das eleições até a proposição de um suposto golpe de Estado.
Fontes ligadas às investigações relataram à Gazeta do Povo que muito do que foi dito por Cid em seu primeiro depoimento acabou “desconfigurado” ao longo de dois anos de investigações. Houve mudanças em seus, ao menos, dez depoimentos à PF e ao STF. Muitos detalhes ou informações omitidas ou descaracterizadas teriam sido incorporadas por Cid em novos depoimentos após provas colhidas em operações policiais e identificadas em arquivos recuperados de dispositivos e equipamentos eletrônicos.