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Brasília termina semana com rumor de troca de Padilha por Silveira

PT pressiona por saída do atual ministro palaciano que cuida da articulação política; desempenho ruim nas eleições rachou cúpula, mas mudanças só devem vir no ano que vem.

O fraco desempenho do Partido dos Trabalhadores nas eleições municipais de 2024 escancarou o racha entre líderes petistas logo após o 2º turno, em 27 de outubro. A ala ligada à presidente do PT, Gleisi Hoffmann, pressiona para que o ministro Alexandre Padilha (Relações Institucionais) deixe o cargo. Ele é o responsável pela articulação política do governo.

A contenda foi levada ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), que passou a considerar tal possibilidade. O petista, porém, não quer nomear outro correligionário para a cozinha do seu governo, caso efetue a mudança.

Um dos nomes cogitados para assumir a articulação é o do ministro Alexandre Silveira (PSD), que hoje comanda o Ministério de Minas e Energia. Ele tem relatado a interlocutores a vontade de migrar para o Planalto, onde seria o 1º não petista.

É improvável, porém, que Lula efetue uma reforma ministerial, ainda que limitada, neste momento. O presidente deve mudar a composição do seu governo, se mudar, a partir de fevereiro de 2025, depois de os novos presidentes da Câmara e do Senado já terem tomado posse (a eleição é na primeira semana de fevereiro).

Há ainda um outro ponto da equação tanto de Lula quanto do PT a ser considerada no processo. Com a anulação de suas condenações na Lava Jato pelo ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) Gilmar Mendes, o ex-ministro da Casa Civil, José Dirceu, poderá ter alguma influência nos bastidores da política de Brasília. É improvável que ele volte a ocupar uma cadeira no Planalto ou na Esplanada, mas quer voltar a atuar na articulação do governo.

GLEISI X PADILHA

O embate entre a presidente do PT e o ministro da articulação política ficou público na 2ª feira (28.out.2024) quando Gleisi publicou uma dura crítica a Padilha em suas redes sociais.

Afirmou que o ministro ofendeu o partido ao ter dito naquele mesmo dia que a legenda não havia saído do “Z4” das eleições municipais desde que entrou no grupo em 2016. A expressão é usada no Campeonato Brasileiro para indicar os times que estão na zona de rebaixamento para a 2ª divisão.

Padilha também havia afirmado que o PT precisa avaliar como se reconectar com alguns segmentos de trabalhadores, como os que recebem de 2 a 10 salários mínimos e os mais jovens.

“Pagamos o preço, como partido, de estar num governo de ampla coalizão. E estamos numa ofensiva da extrema-direita. Ofender o partido, fazendo graça, e diminuir nosso esforço nacional não contribui para alterar essa correlação de forças. Padilha devia focar nas articulações políticas do governo, de sua responsabilidade, que ajudaram a chegar a esses resultados”, escreveu Gleisi em seu perfil no X.

Antes da publicação, em reunião da comissão executiva do PT, em Brasília, Padilha já havia sido alvo de crítica de outros petistas. “Se ficou na zona do rebaixamento, tem ministro que está jogando na várzea. E isso é perigoso pensando em 2026, nesse sentido”, disse o secretário de Comunicação do PT, Jilmar Tatto (SP).

Petistas presentes na reunião avaliaram que os ministros do partido não souberam capitalizar os feitos do governo federal que têm impacto direto para a população, especialmente com os programas sociais, e que os ministros do Centrão tiveram mais êxito nesse sentido. Gleisi cobrou maior interlocução do partido com o governo federal e disse que é preciso ter mais disputa política.

Ao anunciar aos demais correligionários na reunião que havia publicado no X (antigo Twitter) a bronca em Padilha, Gleisi foi aplaudida.

Durante o 2º turno das eleições, Gleisi e outros petistas se irritaram com o fato de Padilha ter “atravessado” o partido para articular diretamente com o presidente Lula gravações para campanhas de candidatos aliados.

A queixa é de que o ministro utiliza da proximidade com o presidente para articular a participação do petista nas campanhas sem comunicar ao partido. Segundo apurou o Poder360, não foi a 1ª vez que o fato acontece e virou uma reclamação constante nas reuniões da diretoria do partido.

Lula usou a manhã de 10 de outubro para gravar vídeos para diversos candidatos da base de apoio do PT para o 2º turno eleitoral na Granja do Torto. A filmagem não entrou na agenda oficial do presidente. A cúpula do PT teria descoberto da atividade só na noite do dia anterior, informada pelos postulantes a prefeituras que foram convidados e se encaminhavam a Brasília para participar das gravações.

PT NAS ELEIÇÕES

O Partido dos Trabalhadores elegeu 252 prefeitos em todo o país nas eleições municipais de 2024. Desses, só 6 das 103 maiores cidades (aquelas com mais de 200 mil eleitores). O partido do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) voltou a comandar uma capital depois de um hiato em 2020. Venceu em Fortaleza (CE), mas de uma forma postiça.

O vitorioso em Fortaleza, Evandro Leitão, foi a vida inteira um satélite do grupo de Cid Gomes no Ceará. Está apenas circunstancialmente filiado ao PT, mas sua carreira política é dependente muito mais de Cid do que do presidente Lula.

Evandro Leitão disputou várias eleições desde 2010 sempre filiado ao PDT. Depois de 2022, quando ganhou uma vaga de deputado estadual, saiu da legenda e entrou no PT por determinação de Cid Gomes (que, por sua vez, também deixou o PDT e está no PSB).

Essa diáspora partidária no PDT se deu por causa de um racha na família Gomes. Cid se desentendeu com seu irmão Ciro Gomes. Ciro ficou sozinho e isolado no PDT.

Quando se faz uma conta aritmética, o PT saiu das urnas em 2024 com mais prefeitos do que conquistou em 2020. Um crescimento de 184 para 252, ou seja, 68 prefeituras a mais. Só que esse desempenho é tímido para um partido que está na Presidência da República. A sigla até hoje não conseguiu voltar ao patamar de 2012, pré-operação Lava Jato, quando chegou ao maior número de cidades de sua história: 625. Na época, Lula havia acabado de encerrar seu 2º mandato com alta aprovação e havia feito sua sucessora, a ex-presidente Dilma Rousseff (PT), em 2010.

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