Assessor para Assuntos Internacionais da Presidência recebeu deputados e integrantes da sociedade civil no Planalto; procurado, Amorim citou ‘diálogo franco e construtivo, no qual reiterou a posição histórica do Brasil em defesa da paz e dos direitos humanos’
O assessor para Assuntos Internacionais da Presidência, Celso Amorim, afirmou nesta quarta-feira, 11, que o governo Lula estuda tomar medidas contra Israel, especialmente em relações militares. Amorim disse que tratou do tema mais cedo com o presidente Lula e o ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira. As declarações, obtidas pela Coluna do Estadão, foram dadas durante uma reunião no Palácio do Planalto mais cedo com deputados.
Procurado pela Coluna do Estadão, o Itamaraty orientou questionar a Presidência, que não respondeu. Em nota, Celso Amorim afirmou que teve um “diálogo franco e construtivo, no qual reiterou a posição histórica do Brasil em defesa da paz e dos direitos humanos”. “O Brasil tem um compromisso inabalável com a solução diplomática dos conflitos, baseado no direito internacional e no respeito às resoluções da ONU”, seguiu o comunicado. Leia a íntegra ao fim da reportagem.
“Acho que passos adicionais podem ser tomados. Hoje mesmo isso foi conversado com o presidente da República, por mim, pelo ministro Mauro (Vieira, das Relações Exteriores). Não me cabe anunciar, cabe a ele (Vieira) anunciar as medidas no momento em que isso vier a acontecer”, disse Amorim no encontro com cerca de 20 deputados aliados do governo Lula.
E acrescentou, mencionando medidas na área de relações militares: “Há várias outras medidas que podem ser tomadas. Acho que sobretudo em termos das relações militares, que para eles são muito importantes, não só importantes militarmente mas importantes economicamente. Acho que esse é um campo em que nós estamos estudando medidas que possam ser tomadas”, continuou o assessor para Assuntos Internacionais da Presidência.
O ex-ministro disse que a ofensiva militar de Israel em Gaza é a maior barbárie que ele já viu na vida. Afirmou ainda que o rompimento amplo de relações com Israel seria algo complexo e prejudicaria o atendimento a brasileiros na região.
Amorim foi ministro das Relações Exteriores nos dois primeiros mandatos de Lula. No governo Dilma, chefiou o Ministério da Defesa.
Uma das presentes à reunião foi a deputada Natália Bonavides (PT-RN), que defendeu a adoção de “medidas efetivas de sanções, respaldadas pelo direito internacional, para parar esse genocídio”.
Amorim também ressaltou aos parlamentares e integrantes da sociedade civil que Lula tem sido “muito claro” nas declarações em que chamou de “genocídio” a atuação israelense na guerra.
Lula acusou ‘genocídio’ de Israel diversas vezes
O presidente vem criticando o governo de Israel desde o começo da guerra do país com o grupo terrorista Hamas, no fim de 2023, a exemplo de uma declaração no último dia 3. “(Israel) vem dizer que é antissemitismo. Precisa parar com esse vitimismo e saber o seguinte: o que está acontecendo na Faixa de Gaza é o um genocídio. É a morte de mulheres e crianças que não estão participando de guerra”, afirmou o petista.
A declaração foi uma resposta à Embaixada de Israel no Brasil, que havia insinuado que Lula “comprava mentiras” do Hamas sobre o conflito no Oriente Médio. Dois dias antes, Lula havia afirmado: “O que estamos vendo é um exército altamente militarizado matando mulheres e crianças. Isso não é uma guerra, é um genocídio”.
Na ocasião, Lula também leu uma nota pública do Itamaraty que criticava o anúncio de 22 novos assentamentos de Israel na região da Cisjordânia, feito no último dia 29. O ministério condenou o plano “nos mais fortes termos” e apontou “flagrante ilegalidade perante o direito internacional”.
Lula persona non grata e Brasil sem embaixador em Israel
A disputa diplomática também teve lances em 2024. Em fevereiro daquele ano, Lula disse que o Exército de Israel cometia genocídio contra os palestinos e fez alusão ao Holocausto durante a ditadura nazista de Adolf Hitler. “O que está acontecendo na Faixa de Gaza com o povo palestino não existiu em nenhum outro momento histórico. Aliás, existiu. Quando Hitler resolveu matar os judeus”.
Como consequência, Israel convocou o embaixador brasileiro no país para um evento no Museu do Holocausto, atitude que foi lida pelo Itamaraty como uma humilhação. Lula foi declarado “persona non grata” pelo governo israelense, ou seja, alguém que não é bem-vindo no país. Três meses depois, o Brasil retirou seu embaixador de Israel. O posto segue vago.
Leia a íntegra da nota de Celso Amorim:
“Em resposta à consulta recebida sobre a reunião do Embaixador Celso Amorim com parlamentares, ocorrida na manhã desta quarta-feira (11/06/2025) no Palácio do Planalto, informamos:
O encontro foi solicitado por um grupo de parlamentares preocupados com o acirramento da crise na Faixa de Gaza e suas graves consequências humanitárias. Amorim recebeu os deputados para um diálogo franco e construtivo, no qual reiterou a posição histórica do Brasil em defesa da paz e dos direitos humanos.
Crédito Estadão