Centrão pressiona Motta a romper acordo com PT para ter controle de emendas no ano eleitoral

Grupo quer evitar deputado governista na relatoria da Lei de Diretrizes Orçamentárias, promessa do presidente da Câmara para se eleger

Deputados do centrão pressionam o presidente da Câmara dos Deputados, Hugo Motta (Republicanos-PB), para que ele rompa o acordo firmado com o PT que garantiria ao deputado Carlos Zarattini (PT-SP) a relatoria do projeto da LDO (Lei de Diretrizes Orçamentárias) de 2026.

O grupo atua para que alguém menos alinhado ao Palácio do Planalto assuma a função, com o objetivo de aprovar regras que priorizem a execução das emendas parlamentares ao Orçamento em detrimento dos investimentos do governo no ano eleitoral.

Três parlamentares relataram à Folha que Motta ouviu as reclamações e teria prometido buscar uma solução negociada com o partido do presidente Lula.

Já entre os petistas, a expectativa é a de que ele cumpra o compromisso de entregar a relatoria à legenda, o que ocorreu em troca do apoio à sua eleição em fevereiro. Procurado, o presidente da Câmara não comentou.

A LDO é aprovada anualmente e estabelece as diretrizes que precisam ser seguidas na elaboração e execução do Orçamento. Em 2024, o Congresso tentou impor um calendário de execução das emendas, mas Lula vetou e só conseguiu fazer prevalecer sua posição com a promessa de apressar os pagamentos.

Para 2026, ano da eleição, o Congresso quer acelerar o empenho e pagamento das emendas para prefeitos aliados antes das vedações do período eleitoral. Por isso, novamente discute estabelecer um calendário mais restritivo para o governo e forçar que os recursos destinados pelo Legislativo tenham prioridade de execução.

Um dos combustíveis para a pressão em torno da mudança de relator é o que os congressistas consideram uma demora este ano na liberação das emendas, mecanismo pelo qual direcionam dinheiro para suas bases eleitorais.

Até agora, apenas R$ 23,7 milhões dos R$ 50,4 bilhões programados para o ano foram empenhados (primeira fase da execução orçamentária, quando se reservam verbas para aquela despesa).

Os governistas alegam que o atraso ocorreu por culpa do próprio Congresso, que não aprovou a lei orçamentária em dezembro e só concluiu a votação em março. A Secretaria de Relações Institucionais não comentou.

Outra ideia discutida pelos congressistas nos bastidores é usar a LDO para impor regras mais duras ao governo no manejo orçamentário, de forma a evitar manobras que busquem viabilizar projetos com objetivos eleitorais, mas com impacto nas contas do país.

O relator é o responsável por negociar com os demais parlamentares, com a sociedade e com o governo mudanças no projeto, que depois é submetido à votação. A LDO de 2026, por enquanto, tem 98 páginas, com 186 artigos, além de sete anexos. Muitas vezes, apenas o relator tem conhecimento de cada ponto alterado e os motivos por trás dessas mudanças.

O deputado Danilo Forte (União Brasil-CE), autor do calendário das emendas em 2020, é um dos que trabalham para que a relatoria fique com um deputado mais independente.

“Não é por ser o Zarattini, é por ser alguém do partido do governo. O Executivo já elaborou o projeto, agora precisamos de alguém que faça o contraponto e oxigene o debate”, afirmou.

Folha apurou com quatro integrantes de partidos do centrão e com dois petistas que há uma movimentação ampla entre os deputados para impedir que a relatoria fique com o PT. Um grupo diz que Motta não descartou nessas conversas a indicação de outro nome, mas ponderou que falaria com os petistas nesta semana para avisar da dificuldade de composição.

Já segundo os petistas, Motta teria reafirmado o acordo com o partido recentemente e a pressão deve ser esvaziada com a nomeação do relator. De acordo com eles, não há outra função que possa ser negociada em troca da LDO, e a escolha de outro deputado será interpretada como uma quebra de acordo com o governo e o PT.

Diante do impasse, o projeto de lei ainda não foi encaminhado à Comissão Mista de Orçamento pelo presidente do Congresso, Davi Alcolumbre (União Brasil-AP).

Um ofício foi enviado pela liderança do PT com a indicação de Zarattini, mas até agora não foi referendado pelo bloco de partidos que reúne PT, PL e as siglas do centrão (e que foi montado para distribuição das vagas na comissão).

Presidente da Comissão Mista, o senador Efraim Filho (União Brasil-PB) afirma que recebeu o ofício do PT, mas que aguarda a indicação oficial do bloco ou do presidente da Câmara.

“Na comissão, vamos prezar pelo senso de responsabilidade fiscal e entender que é importante evitar uma gastança desenfreada e que o equilíbrio não se faz apenas pelo lado da receita, com aumentos de impostos, mas também pelo corte de despesas”, diz.

Crédito Folha

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