A porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da China, Mao Ning, declarou nesta terça-feira (4) apoio ao governo da Nigéria e acusou o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, de usar o assassinato de cristãos no país africano como “desculpa” para intervir em seus assuntos internos.
A declaração foi feita após Trump criticar o presidente nigeriano Bola Tinubu por permitir ataques de extremistas islâmicos contra cristãos e ameaçar cortar ajuda financeira ou até autorizar ações militares. “Determinei que nosso Departamento de Guerra se prepare para uma possível ação. Se atacarmos, será rápido, feroz e certeiro, assim como esses terroristas atacam nossos queridos cristãos”, escreveu o presidente no Truth Social.
Na segunda-feira, o Departamento de Estado dos EUA incluiu novamente a Nigéria na lista de “Países de Especial Preocupação” (CPC) por violações graves à liberdade religiosa — categoria que também abrange China, Cuba, Irã, Coreia do Norte, Rússia e Arábia Saudita. A designação havia sido criada por Trump em 2020 e retirada por Joe Biden em 2021.
Tinubu negou as acusações e afirmou que seu governo protege a liberdade de crença de todos os nigerianos. Em resposta, Pequim reforçou seu apoio a Abuja. “Como parceira estratégica abrangente da Nigéria, a China apoia firmemente o governo nigeriano em liderar seu povo no caminho de desenvolvimento adequado às suas condições nacionais”, declarou Mao Ning.
“Opomo-nos veementemente a qualquer país que use religião e direitos humanos como pretexto para interferir nos assuntos internos de outros Estados ou ameaçá-los com sanções e força militar”, acrescentou.
A China é um dos principais parceiros econômicos da Nigéria, que participa desde 2018 da Iniciativa do Cinturão e Rota (BRI), atraindo bilhões em investimentos chineses. O país africano, no entanto, enfrenta dificuldade em proteger trabalhadores e empresas chinesas de sequestros e ataques.
O bloco regional CEDEAO (Comunidade Econômica dos Estados da África Ocidental) também apoiou a Nigéria e criticou a decisão de Trump, classificando-a como “equivocada” e “prejudicial à coesão social”.
Por outro lado, grupos de defesa da liberdade religiosa e a Comissão dos EUA sobre Liberdade Religiosa Internacional (USCIRF) elogiaram a medida de Trump. “É hora de responsabilizar os autores da violência e proteger as pessoas de fé”, disse a presidente da comissão, Vicky Hartzler. O vice-presidente Asif Mahmood acrescentou que as leis de blasfêmia aplicadas em 12 estados nigerianos justificam a nova designação.
Em carta recente, 36 organizações pediram a Trump que restaurasse o status de CPC da Nigéria, citando o aumento de ataques a cristãos na região central do país e a omissão do governo diante da violência praticada por pastores muçulmanos fulani. “Mesmo quando alertadas sobre ataques iminentes, as forças de segurança permanecem inertes”, alertaram os signatários.





