As mídias estatais chinesas limitaram seus comentários em inglês sobre as eleições presidenciais americanas nesta terça-feira, preferindo descrever a escolha entre a vice-presidente Kamala Harris e o ex-presidente Donald Trump como tendo pouco impacto em uma América que, segundo Pequim, está dividida, violenta e em declínio.
A China é um país comunista totalitário em que o Partido Comunista controla todos os aspectos do governo e da vida cotidiana dos cidadãos. As mídias estatais frequentemente publicam propaganda condenando o conceito de eleições e governança republicana, afirmando que eleições “não podem realmente refletir a essência da democracia” sem um tirano supervisionando todos os aspectos do Estado. As mídias estatais criticam especialmente os EUA como uma “democracia de baixa qualidade” que traz “caos” ao mundo por meio de eleições com mais de um partido e candidatos com diferenças autênticas de política.
Antecipando o dia das eleições, o jornal estatal China Daily publicou uma charge política mostrando um burro e um elefante – mascotes dos partidos Democrata e Republicano – discutindo enquanto flutuam em boias, com a Estátua da Liberdade se afogando ao fundo. A mensagem parece ser que os dois partidos se odeiam mais do que amam seu país.
O jornal também publicou um vídeo aparentemente inofensivo sobre os preparativos dos EUA para o dia das eleições, mas se referiu de forma depreciativa ao processo, dizendo que pode ser “o mais caro da história” e sugerindo uma chance significativa de violência.
“Medidas de segurança rigorosas estão sendo implementadas em várias partes dos Estados Unidos, com alguns estados convocando a Guarda Nacional e partes do Arizona até mesmo considerando o uso de atiradores de elite,” afirmou o veículo de propaganda, concluindo que os americanos estão muito “divididos” e que “muitos veem seus compatriotas como irredimíveis.”
Um artigo da agência de notícias estatal Xinhua, que pretendia analisar os problemas nas eleições americanas, criticou tanto republicanos quanto democratas, sugerindo que nenhum dos partidos consegue abordar as principais questões dos americanos. O texto ainda afirma que o “crime violento” é um problema nacional e critica os EUA por permitir debates políticos abertos sobre o aborto, afirmando que o tema se tornou um “símbolo político” que agrava as divisões na sociedade americana.
A China, que permite o aborto em todas as fases da gravidez e tem uma das maiores taxas de aborto do mundo, promoveu durante décadas a política de um filho, que incluía abortos forçados. Essa política “impediu” que 400 milhões de pessoas nascessem, o que resultou em uma queda acentuada da taxa de fertilidade no país.
A Xinhua publicou ainda uma análise cômica, descrevendo as eleições como “um jantar de Ação de Graças onde ninguém concorda sobre o peru”. Os âncoras cômicos afirmam que “as rachaduras na América estão ficando cada vez mais profundas”.
Em uma reflexão mais séria, o colunista Kang Bing, do China Daily, lamentou que os americanos agora estejam mais conscientes do roubo de propriedade intelectual, espionagem e imperialismo praticados pela China. Ele afirmou que, em contraste, a China – que atualmente realiza genocídio contra várias minorias étnicas e prende dissidentes – “cresceu a passos largos.”
Kang também alegou que, apesar da ampla cobertura das eleições americanas pela mídia estatal, a propaganda do governo chinês foi “amplamente silenciosa” em relação ao pleito americano, afirmando que a mídia chinesa está “preocupada com a possibilidade de ser acusada de interferir nas eleições dos EUA”.
Kang omitiu evidências de que o Partido Comunista Chinês tenta interferir na política americana, promovendo narrativas políticas divisivas e violentas. Em dezembro de 2023, o Escritório do Diretor de Inteligência Nacional (ODNI) divulgou um relatório cheio de evidências de que a China estava usando plataformas como o TikTok para promover conteúdos “divisivos”, incluindo conteúdos que minam a confiança nas eleições americanas.