Economistas criticam Haddad por querer culpar governos anteriores

Analistas do mercado assistiram a 15 minutos de reclamações do ministro contra Temer e Bolsonaro e não identificaram uma agenda estrutural de corte de gastos

Economistas do mercado financeiro criticaram a apresentação do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, nesta 2ª feira (22.set.2025). Durante evento do “BTG Pactual MacroDay”, em São Paulo, o chefe da equipe econômica dedicou pouco menos de 15 minutos para fazer uma apresentação de slides que critica decisões dos governos Jair Bolsonaro (PL) e Michel Temer (MDB) para as contas públicas.

Ao terminar a apresentação, Haddad defendeu o diálogo para discutir os melhores caminhos para o Brasil.

Para economistas, o governo não entrega resultados concretos para reduzir as despesas públicas e o esforço para aumentar a arrecadação foi muito maior do que a dedicação para cortar os gastos.

Para analistas, falta esforço político do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) para aprovar projetos que visam a estabilizar a trajetória da dívida.

O ministro da Fazenda “culpou”, segundo economistas, os governos anteriores pelo desequilíbrio fiscal. As críticas de Haddad viraram memes entre investidores da Faria Lima. Uma conta no X resumiu a participação do ministro no evento: “A culpa é minha e coloco em quem eu quiser”.

Também na rede social, o economista Luiz Gustavo Medina afirmou que o governo Temer durou pouco mais de 2 anos e acabou em 2018, há quase 7 anos. “Haddad tá culpando o governo Temer por problemas nas contas públicas […] Aí é dureza”, declarou.

EXPANSIONISTA DESDE 2022

Em 2022, depois das eleições presidenciais, eram necessários ajustes no Ploa (Projeto de Lei Orçamentária Anual) de 2023, segundo economistas, mas o aumento das despesas foi desproporcional.

A PEC (Proposta de Emenda à Constituição) nº 126 de 2022 deu R$ 170 bilhões ao governo Lula fora das regras fiscais já no 1º ano de mandato. O valor ficou bem acima do necessário, de acordo com cálculos dos analistas.

Gabriel Leal de Barros, economista, ex-IFI (Instituição Fiscal Independente) do Senado e atual economista-chefe da ARX Investimentos, declarou que os gastos do Orçamento de 2023 eram, de fato, subestimados, e a equipe de transição apontava a necessidade de uma recomposição no Ploa.

“O problema é o tamanho do que foi feito. A recomposição necessária era de alguma coisa em torno de R$ 60 bilhões a R$ 70 bilhões. A PEC da transição foi muito acima disso”, declarou Leal de Barros.

A despesa adicional de aproximadamente R$ 100 bilhões fora do teto de gastos estava acima do que era indicado pelos agentes do mercado financeiro na época. A política expansionista dos gastos criou uma pressão de demanda que fomentou o crescimento econômico.

Em 2023, o governo criou o marco fiscal com base nos parâmetros do forte crescimento das despesas, o que exige um esforço anual do governo para a adoção de medidas arrecadatórias para viabilizar os pisos criados.

POLÍTICA EXPANSIONISTA

Para Leal de Barros, o arcabouço fiscal não é sólido nem crível, porque, para ficar de pé, precisa de grande volume de receitas extraordinárias – não ligadas à atividade econômica. Portanto, mesmo com o crescimento econômico e aumento da arrecadação federal, o governo não conseguiu ainda ter saldo positivo nas contas.

Nesta 2ª feira (22.set.2025), Haddad voltou a pedir colaboração do Congresso para aprovar medidas tributárias, como o fim da isenção para títulos da LCI (Letra de Crédito Imobiliário) e o aumento para taxação de bets.

O marco fiscal criou um piso de gastos elevado e, para honrar essa quantia, são necessárias ações extraordinárias anualmente para aumentar a arrecadação. O economista avalia que esse cenário impulsiona a alta do PIB (Produto Interno Bruto), porque o marco fiscal mantém o Orçamento com nível elevado de despesas.

Leal de Barros declarou que o crescimento não é orgânico e saudável. O PIB está “anabolizado” pela política fiscal frouxa.

“É difícil você sustentar esse equilíbrio por muito tempo, porque você precisa ter uma carga tributária tão mais alta para pagar esse gasto que essa agenda fadigou, que é o que acontece agora. O Congresso já fadigou. Cansou de aprovar aumento de imposto. O governo tem dificuldade de aprovar matéria de aumento de receita”, disse o economista.  

O resultado da política fiscal expansionista é uma taxa de juros elevada. A taxa básica, a Selic, está em 15,0% ao ano, o mesmo nível de 2006. As despesas do governo com juros da dívida aumentaram. No acumulado de 12 meses até julho, o deficit nominal –que inclui os gastos com juros– foi de R$ 968,5 bilhões.

“Estamos rodando em patamares de deficit nominal compatível com níveis da Dilma. Diferentemente da narrativa, o reflexo deste arranjo de política econômica te entrega juros mais alto”, disse.

ELEIÇÕES DE 2026

Luís Otávio de Souza Leal, economista-chefe da G5 Partners, declarou que o governo está em campanha eleitoral.

“Ele atribuiu todos os problemas que ele tem agora aos governos anteriores, não que não tivessem culpa, mas já estão há 3 anos [de mandato de Lula]”, disse.

O economista declarou que algumas tentativas de diminuir as renúncias fiscais “bateram” no Congresso e não foram aprovadas, mas que o ministro força a barra ao querer culpar o governo Temer pelos saldos negativos no resultado primário.

Ele disse que não espera ajuste fiscal no curto prazo por causa das eleições de 2026.

“A fala dele hoje só corrobora uma sensação que todo mundo já tem, que a campanha eleitoral de 2026 começou muito antes, dos 2 lados. Essa fala do ministro foi mais uma prova disso”, declarou.

Daniel Xavier, economista-chefe do Banco ABC Brasil, disse que os argumentos do ministro mostram que ele está “olhando para trás”, com o foco no que já foi feito e sem muita indicação dos próximos passos para equilibrar as contas públicas.

“Todos os itens ali ele tem batido desde o início do mandato, como a questão dos incentivos fiscais e gastos tributários. Está desde janeiro de 2023 na pauta do Ministério da Fazenda. O que faltou, e todo mundo está de olho, são as medidas estruturais e de contenção de despesas”, declarou o economista.

Para Xavier, o governo Lula não dá sinais de que haverá uma agenda mais sustentável do ponto de vista dos gastos, principalmente pela proximidade das eleições de 2026.

O economista-chefe do Banco ABC Brasil avalia que o governo Lula é expansionista do ponto de vista fiscal. Afirmou que Haddad coloca a “culpa” nas gestões anteriores, mas não apresentou “nada” que pudesse reduzir a trajetória de crescimento dos gastos de modo estrutural.

Quando você pega o caso do Brasil, que você já pega um nível de carga tributária elevada, e, portanto, desconfortável, qualquer delta deste nível causa um desconforto ainda maior. É o que está acontecendo”, disse o economista.

Haddad disse mais cedo que não está satisfeito e que ainda há temas que precisam avançar, mas que precisa “se defender” e mostrar que houve avanços nos últimos 2 anos. Ele critica quem defende que não há nada de melhor no país do ponto de vista da política fiscal.

APRESENTAÇÃO DE HADDAD

Haddad voltou a dizer que a arrecadação federal foi impactada por causa da tese do século, uma discussão tributária que foi definida no Judiciário, em votação do STF (Supremo Tribunal Federal) em 2021. Afirmou que a medida aumentou a dívida pública em 10%.

O Supremo entendeu que uma cobrança de imposto era inconstitucional –a incidência de um tributo estadual, o ICMS (Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços), na base de cálculo de um tributo federal, o PIS/Cofins. Ou seja, as empresas que tiveram cobrança irregular ficaram com créditos tributários.

Além disso, Haddad disse que o governo Bolsonaro contratou gastos para os anos subsequentes, o que impactou o resultado primário do governo Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Citou:

  • mudanças no Fundeb (Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização dos Profissionais da Educação);
  • alterações no BPC (Benefício de Prestação Continuada);
  • calote” no pagamento de precatórios;
  • repasse aos governadores com as compensações tributárias do ICMS (Imposto sobre Operações relativas à Circulação de Mercadorias).

Segundo Haddad, o gasto anual do governo aumentou 18,0% para 18,8% do PIB (Produto Interno Bruto), mas que 0,5 ponto percentual está relacionado às despesas com o Fundeb e o BPC, que foram medidas adotadas no governo anterior.

Crédito Poder360

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