Foto – Fábio Rodrigues Pozzebom
Se fosse concretizada, federação entre União, PP e Republicanos teria mais de 1700 prefeitos
As articulações em torno da sucessão de Arthur Lira (PP-AL) no comando da Câmara dos Deputados acabaram colocando a federação partidária entre União Brasil, Republicanos e PP em “banho-maria”. A preferência de Lira por Hugo Motta (Republicanos) fez com que o deputado Elmar Nascimento (União) se opusesse à formação do bloco para 2026.
Vitoriosos na eleição municipal, os três partidos poderiam unir aproximadamente 1.700 prefeituras, superando as 885 obtidas pelo PSD, encabeçado por Gilberto Kassab. Além disso, teriam oito governadores, quase 150 deputados federais e 18 senadores. O objetivo seria construir uma frente sólida de centro-direita visando às próximas eleições do Legislativo.
Em junho deste ano, um dos articuladores da federação contou à Gazeta do Povo que a parceria entre os três partidos seria algo “sacramentado” e que, após as eleições municipais, acabaria oficialmente firmada. As movimentações, entretanto, emperraram em setembro após a mudança do candidato apoiado por Lira.
Nos bastidores do União Brasil, parlamentares enxergam a federação como uma oportunidade para fazer frente a Kassab. Mas, com a oposição feita pelo líder da bancada, qualquer movimentação mais concreta poderá ocorrer somente em 2025. Segundo um deputado federal do partido, há divisão interna sobre o assunto.
Por outro lado, PP e Republicanos podem seguir com a federação caso haja uma desistência completa do partido de Elmar Nascimento da ideia de participar do “bloco”. Antes de convidarem o União Brasil, os partidos do senador Ciro Nogueira (PP) e do deputado Marcos Pereira (Republicanos) já conversavam sobre a possibilidade de uma aliança.
A perspectiva é de que, mesmo sem o União Brasil, sigla presidida por Antônio Rueda, a parceria entre PP e Republicanos ainda será vantajosa para as próximas eleições. Com o consenso formado em torno da candidatura de Motta, o sentimento de quem transita no Salão Verde é de que a parceria entre os dois partidos pode ser reforçada.
Vitória do Centrão em 2024 é vista como oportunidade pelos partidos
O cientista político Jorge Mizael, sócio da Metapolítica Consultoria, observa que, após a vitória do centro político nas urnas, os partidos perceberam a oportunidade de formalizar rapidamente a federação. “Eles acabaram percebendo que poderia acelerar porque havia convergência e tinha resultados também positivos para os partidos envolvidos”, destaca Mizael.
Segundo ele, Gilberto Kassab, que desempenha papel importante nesse cenário, está ciente do fortalecimento dessa frente, mas prefere observar para avaliar convites estratégicos para 2026. “Ele espera ter convites mais sedutores para cargos em 2026 do que participar nesse primeiro momento da federação”, afirma o cientista político.
Ao unir PP e Republicanos, a federação criará uma base sólida e com grande expressão tanto nas esferas municipais quanto no Parlamento. “Unindo essa frente, que tem uma forma tão característica com os moldes do Centrão consagrados desde 88 até agora, ele [o Centrão] vai sair com muita força e com musculatura política tanto em âmbito municipal quanto também dentro do Parlamento”, diz Mizael, reforçando o impacto dessa união para as eleições de 2026.
Esquerda também busca federação para se contrapor ao PT
Além do Centrão, PSB, PDT e Solidariedade se articulam para criar uma federação. Em março do ano passado, os socialistas chegaram a aprovar uma proposta visando as eleições municipais de 2024 e as eleições gerais de 2026. Segundo um parlamentar próximo ao PDT, em reserva, a junção teria como objetivo fazer frente à hegemonia do Partido dos Trabalhadores (PT) no campo da esquerda.
Entretanto, divergências entre as legendas pela disputa à prefeitura de Fortaleza atrasaram as negociações. Por possuir uma relação mais próxima com o PT, o PSB da capital cearense decidiu apoiar Evandro Leitão (PT) contra o atual prefeito, José Sarto (PDT), que não chegou ao segundo turno.
O conflito entre os irmãos Cid e Ciro Gomes culminou na implosão do diretório do PDT e no rompimento da aliança com o PT no estado, complicando o cenário para a esquerda nas eleições municipais. O atrito entre os irmãos também resultou na migração de Cid do PDT para o PSB, o que é avaliado como um dos empecilhos para o avanço da federação.
Por outro lado, o mesmo parlamentar afirma que as siglas estão conversando para superar os desgastes e que a aliança entre os dois partidos pode voltar a ser negociada no ano que vem.
Ao comentar esse cenário, Jorge Mizael afirma que o atraso na aliança entre os dois partidos teve influência nos recentes resultados eleitorais. “A última eleição geral, se a gente pegar os resultados do PSB, foram muito ruins. O partido perdeu candidaturas importantes e quase perdeu também seus quadros na Câmara dos Deputados, o que obviamente tem um impacto orçamentário”, destaca.
Ele também afirmou que a opção do PSB pela “ponderação isolada” e a tentativa tardia do PDT de adotar um discurso mais radicalizado, especialmente com Ciro Gomes, contribuíram para os resultados insatisfatórios. Nesse contexto, a federação seria vista como uma estratégia de sobrevivência e de fortalecimento para as próximas eleições.
“Nesse momento, é meio que uma tentativa de sobrevivência de ambos os partidos e também de ganhar projeção e musculatura para a próxima eleição”, pontua o cientista político.