Foto - EFE/Miguel Gutiérrez
Organizações independentes denunciaram intimidação e violência em eleição na Venezuela.
O ditador Nicolás Maduro obteve o seu terceiro mandato à frente da Venezuela da mesma forma como obteve os três anteriores: em uma eleição pouco transparente e acompanhada por denúncias de abuso de poder.
Representantes de organizações independentes afirmam que autoridades venezuelanas detiveram 46 pessoas de forma arbitrária, e que pelo menos uma pessoa morreu vítima da violência de grupos pró-regime.
Segundo o Conselho Nacional Eleitoral (CNE) da Venezuela, Maduro teve 51,2% dos votos contra 44,2% de Edmundo González, da Plataforma Unitária Democrática (PUD).
Ataques armados em três cidades
O Foro Penal, entidade não-partidária que monitora os direitos humanos na Venezuela, compilou ataques armados a eleitores em pelo menos três municípios neste domingo (28). Um homem identificado como Julio Valero García, de 40 anos, morreu na cidade de Guásimos depois de ser alvejado por disparos de arma de fogo atribuídos a partidários de Maduro. Outro homem ficou ferido. Segundo a entidade, houve ataques semelhantes nos municípios de Bolivar e Córdoba.
Ainda de acordo com Foro Penal, houve 46 prisões arbitrárias entre os dias 26 e 28 de julho.
Um dos detidos foi o jornalista independente Jesus Piñero, que teve a credencial de imprensa apreendida e foi levado pela polícia depois de denunciar que centros de votação na região de La Pastora, em Caracas, continuavam abertos mesmo depois do horário de encerramento da votação.
A extensão irregular do horário também aconteceu em outras unidades.
Em um dos locais de votação de Caracas, fiscais oposicionistas afirmaram ter sido impedidos de acompanhar a apuração dos votos.
Relatora da ONU vê cerceamento em eleição na Venezuela
A relatora especial da ONU para Liberdade de Expressão e de Assembleia, Gina Romero, também afirmou ter recebido informações de que a oposição teve seus direitos cerceados. “Recebo sérias notícias de violência contra pessoas que exercem seu direito de reunião pacífica, enquanto observo as seções eleitorais Venezuela. A aplicação da lei tem o dever de proteger os cidadãos de atores ilegais e de qualquer tipo de violência”, ela escreveu.
O alto representante da União Europeia para Relações Exteriores e vice-presidente da Comissão Europeia, Josep Borrell Fontelles, divulgou uma declaração em que pede “total transparência” do processo eleitoral, “incluindo a contagem detalhadas dos votos e o acesso às atas de votação de mesas eleitorais”.
Organização manda recado a Lula
O PROVEA, organização não-governamental que atua há 35 anos na Venezuela, também lamentou a forma como a eleição foi conduzida. “O anúncio de resultados que vão na direção oposta ao que os venezuelanos experimentaram nas seções eleitorais aprofundará a crise institucional e levará a um cenário diferente de transição democrática de acordo com a Constituição e a plena garantia dos direitos humanos”, escreveu a organização.
A entidade publicou um comunicado endereçado ao presidente Lula.
“Os venezuelanos precisam de uma resposta contundente de seu governo. O futuro de milhões de pessoas na Venezuela depende disso. O povo venezuelano exerceu massivamente seu direito ao voto nas eleições presidenciais de 28 de julho na Venezuela com a esperança de que, a partir de resultados transparentes e credíveis, possa iniciar-se um processo para a reconstrução da democracia”, diz a publicação.
“Por meses, nós dissemos que essa não era uma eleição livre ou justas. Todos os resultados eleitorais devem ser submetidos a uma auditoria e os candidatos devem ter o direito de questionar os resultados legalmente”, resumiu Laura Dib, diretora do Programa para a Venezuela do Washington Office on Latin America. A organização atua na defesa da democracia e dos direitos humanos desde 1974.
A eleição presidencial da Venezuela utilizou cédulas de papel que mostravam 13 vezes o nome e a fotografia de Maduro — uma para cada partido que declarou apoio à reeleição do ditador, que terá um mandato de oito anos.