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A Coluna NOTAS & INFORMAÇÕES publicou, no último sábado (18), uma matéria de opinião sobre Boulos intitulada “Molecagem”.
Leia na íntegra:
Para Guilherme Boulos, vale tudo para livrar um aliado da cassação por suspeita de ‘rachadinha’
O deputado federal Guilherme Boulos (PSOL-SP) foi uma das vozes mais estridentes do País a denunciar o clã Bolsonaro, não sem razão, pela prática da famigerada “rachadinha”. O problema é que, para o sr. Boulos, parece haver “rachadinhas” e “rachadinhas”. Quando a prática criminosa – tecnicamente, uma modalidade de peculato – é cometida por seus adversários políticos, sobre eles recai toda a fúria vestal do notório líder do MTST. Já quando o suspeito é um aliado, então prevalecem a hipocrisia, a condescendência e até a molecagem.
Pois foi molecagem, não há outra forma de dizer, o que o sr. Boulos fez, na condição de relator do processo de cassação do mandato do colega André Janones (Avante-MG), para livrar a barra do parceiro do dito “campo progressista” no Conselho de Ética da Câmara dos Deputados, no dia 15 passado. Mais do que ignorar, o psolista distorceu uma decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) desfavorável a Janones e ignorou olimpicamente os fortes indícios de prática de “rachadinha” que pesam contra o colega.
Esse papelão a que se prestou o deputado paulista tinha o objetivo de matar na origem o processo político contra aquele que é tido como “herói” pela esquerda por supostamente ter “salvado” a campanha de Lula da Silva nas redes sociais na eleição passada. Ademais, para sustentar sua tibieza, Guilherme Boulos tomou como verdadeira em seu relatório uma autodeclaração de inocência, ora vejam, do próprio André Janones.
À guisa de lustrar com um verniz de tecnicalidade o que não passa de reles acobertamento, pura e simplesmente, o relator do processo de cassação, ao votar para que o caso fosse arquivado, justificou que uma gravação na qual Janones pede a seus assessores que devolvam parte dos salários a ele teria ocorrido antes da assunção do mandato federal. “Antes de tudo, é preciso trazer à baila que a representação do PL (contra André Janones) traz fatos ocorridos antes do início do mandato de deputado federal do representado (em fevereiro de 2019). O próprio representado afirma isso”, disse Boulos ao votar pelo arquivamento do processo. Eis a molecagem.
A referida gravação – que revela explicitamente que Janones, de fato, pediu que seus assessores de gabinete o ajudassem a “recompor o patrimônio”, que teria sido dilapidado em função dos gastos de uma fracassada campanha nas eleições de 2016 – ocorreu quando o mineiro já era deputado federal. No áudio, como deixou claro o ministro do STF Luiz Fux ao autorizar a abertura de inquérito pedida pela Procuradoria-Geral da República, Janones apenas fazia menção aos gastos de 2016 que teriam de ser cobertos. Não se trata, portanto, do marco temporal da possível prática de “rachadinha”, como o sr. Boulos, ardilosamente, deu a entender.
Guilherme Boulos é caso perdido e só mostrou que para livrar um aliado político da cassação vale tudo, até ofender a inteligência alheia. Espera-se que seus pares no Conselho de Ética sejam mais respeitosos com os fatos e com a sociedade.