Setores apontam saída diplomática junto a outros grupos para conter crise comercial e criticam isolamento do governo Lula na condução das tratativas com a gestão Trump.
Entre os pontos citados pelo presidente americano para justificar a sobretaxa, estão críticas à aproximação do governo Lula com regimes autoritários, instabilidade institucional causada por decisões judiciais no Brasil —sobretudo do STF—, perseguição a opositores, e a ausência de garantias legais mínimas para investidores internacionais. Trump também mencionou barreiras internas e subsídios que impactam a competitividade de produtos estrangeiros no mercado brasileiro.
Na sexta-feira (11), o líder norte-americano afirmou publicamente que não pretende conversar com Lula neste momento. O presidente brasileiro, por sua vez, reagiu afirmando que irá “brigar em todas as esferas”, citando recursos na OMC (Organização Mundial do Comércio) e no Brics. O discurso foi visto como retórico por empresários, que consideram a condução do tema ineficiente e excessivamente politizada.
Segundo relatos feitos à imprensa, Lula tem evitado o diálogo com o empresariado e tratado a crise como uma oportunidade de turbinar sua base política, desconsiderando os impactos econômicos e diplomáticos de longo prazo. Interlocutores apontam que a mediação direta com os EUA dificilmente será bem-sucedida se conduzida por Lula, Celso Amorim ou o ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira. Há resistência crescente no meio diplomático e econômico à atuação desses nomes, principalmente após a deterioração da imagem institucional do Brasil no exterior.
Como alternativa, empresários e diplomatas independentes defendem a construção de uma diplomacia paralela, com atuação de representantes da iniciativa privada e interlocutores fora da estrutura formal do governo, como forma de reconstruir pontes com o governo Trump. A percepção majoritária é que o republicano não deverá recuar, pois suas críticas ao Brasil não se restringem ao momento atual, mas são resultados de um acúmulo de problemas institucionais que remontam aos últimos anos, e que não foram corrigidos.
Com as eleições presidenciais brasileiras previstas para 2026, o temor é que as investidas internacionais se intensifiquem, caso o STF e o governo não avancem em medidas concretas para restabelecer as garantias constitucionais, a segurança jurídica e o equilíbrio entre os Poderes.
Diante da tarifa de 50% imposta pelos Estados Unidos sobre produtos brasileiros, empresários de diferentes setores econômicos passaram a defender que o Supremo Tribunal Federal (STF) reverta a inelegibilidade do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), conceda anistia a opositores e encerre inquéritos abertos contra lideranças de direita como gesto concreto para demonstrar que o Brasil está disposto a restabelecer sua estabilidade institucional e reconquistar a confiança internacional.
As cobranças, segundo fontes ouvidas pelo Conexão Política, também se baseiam em tratados internacionais firmados pelo Brasil nas áreas de direitos humanos, garantias individuais, liberdades civis e políticas, que estariam sendo sistematicamente violados desde 2019, conforme uma série de denúncias encaminhadas a organismos internacionais, inclusive nos últimos relatórios de instituições com representação junto à ONU e à OEA.
A avaliação é que a crise com o governo Trump não se limita a fatores econômicos, mas está diretamente ligada ao ambiente político e jurídico interno, o que exigiria uma resposta institucional mais ampla por parte do país.
Assustados com a medida anunciada por Trump, empresários têm procurado articulação com o Planalto para auxiliar na busca por uma solução diplomática e conter a escalada da tensão entre os dois países.
O Conexão Política apurou que representantes do setor privado tentam se aproximar do governo federal com propostas e articulações externas. Sob condição de reserva, alguns empresários afirmaram que é preciso evitar o confronto direto com os Estados Unidos e, mais do que isso, responder às sinalizações feitas por Trump, que foram além de justificativas econômicas.