Evento político contou apenas com a presença de alguns ministros do STF e de integrantes do governo
O ato político convocado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva pelos dois anos das manifestações de 8 de janeiro de 2023 foi marcado pela baixa adesão popular. O chamado “abraço pela democracia”, na Praça dos Três Poderes, em Brasília, reuniu cerca de mil pessoas.
Por volta das 9h30, nem 500 petistas se encontravam no local. O pico de mil pessoas ocorreu entre 12h e 12h30. Os manifestantes presentes ainda tiveram de lidar com a chuva.
Os manifestantes, em maioria, eram formados por idosos e por militantes com bonés do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST). Não havia ônibus fretados próximos à Praça dos Três Poderes, fechada para veículos na altura do Planalto.
Poucos trabalhadores e crianças se deslocaram até o centro da capital da República. Lula e a primeira-dama, Janja, além de outros integrantes do governo chegaram a se juntar aos manifestantes para o “abraço pela democracia”. O petista, no entanto, não discursou para os presentes — o que gerou certo descontentamento.
Petistas presentes no evento justificam que o esvaziamento do evento ocorreu por não se tratar de uma manifestação popular, mas, sim, de um “ato simbólico pela democracia”. O grupo presente na Praça dos Três Poderes endossou o movimento “sem anistia”, em relação aos presos pelo 8 de janeiro de 2023.
Janja discursa mesmo sem cargo público
A primeira-dama também teve destaque na primeira cerimônia relacionada ao 8 de janeiro de 2023, de reintegração de obras de arte danificadas durante as manifestações. Na abertura do evento, ela disse que o Palácio do Planalto foi “vítima do ódio”.
“O Palácio do Planalto, onde estamos hoje, foi vítima do ódio que estimula e continua estimulando atos antidemocráticos, que continua estimulando falas fascistas e autoritárias”, declarou.
A primeira-dama alegou que o governo petista responde com “união, solidariedade e amor” aos ataques que recebe. Ao falar das obras restauradas, disse que “arte e liberdade” são inseparáveis e citou o filme Ainda Estou Aqui, cuja protagonista é Fernanda Torres, vencedora do Globo de Ouro de melhor atriz em filme de drama.
“Não houve momento da história em que ações autoritárias aconteceram sem nossos artistas levantarem a voz”, disse. “É o que nosso país tem de melhor: nossa gente. Exemplo disso é nossa queridíssima amiga Fernanda Torres ter recebido importante premiação por Ainda Estou Aqui, representando uma mulher forte e determinada, em filme que relembra parte triste e obscura da nossa história que não podemos esquecer.”
Classe artística participa de ato pela “democracia“
Alguns artistas também participaram do ato político de Lula no Palácio do Planalto, entre eles o ator José de Abreu, petista assumido. Na entrada do local, foi parado por fãs e posou para fotos.
Pelo seu perfil oficial no Twitter/X, o artista publicou fotos no evento e escreveu: “Viva a democracia! Anistia jamais!”.
Presidentes dos Três Poderes se ausentam em ato de Lula
Os presidentes dos Três Poderes, Luís Roberto Barroso (Supremo Tribunal Federal), Rodrigo Pacheco (Senado) e Arthur Lira (Câmara), não compareceram às cerimônias desta quarta-feira.
Pacheco (PSD-MG) e Barroso estão fora do país, mas foram representados pelo primeiro-vice presidente do Senado, Veneziano Vital do Rêgo (MDB-PB), e pelo presidente em exercício do STF, Edson Fachin.
Já Arthur Lira (PP-AL) não compareceu ao evento de Lula em decorrência da internação do pai, o prefeito de Barra de São Miguel, em Alagoas, Benedito de Lira.
Benedito de Lira, mais conhecido como Biu de Lira, está internado na unidade de terapia intensiva (UTI) de um hospital em Alagoas. O motivo da internação do prefeito de 82 anos não foi divulgado.
Pacheco chegou a emitir uma nota em que parabenizou Lula, o governo federal e “todas as instituições” pelo ato. O parlamentar afirmou que as “cerimônias reforçam a vigília em defesa do regime que considero ser o mais justo e equânime na representatividade popular e social”.
Já o presidente do STF, Luís Roberto Barroso, enviou uma carta que foi lida pelo ministro Edson Fachin. No texto, o magistrado disse ser “falsa” a narrativa que o combate ao “extremismo” seja apoiado por “medidas autoritárias”.
“Não devemos ter ilusões: no Brasil e no mundo está sendo insuflada a narrativa falsa de que enfrentar o extremismo e o golpismo, dentro do Estado de direito, constituiria autoritarismo”, afirmou. “É o disfarce dos que não desistiram das aventuras antidemocráticas, com violação das regras do jogo e supressão de direitos humanos. A mentira continua a ser utilizada como instrumento político naturalizado.”
Autoridades presentes
Além de Edson Fachin, estiveram presentes outros ministros do STF: Alexandre de Moraes, Gilmar Mendes, Cristiano Zanin e Cármen Lúcia, esta última presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Os magistrados não discursaram no ato político de Lula.
Logo depois da cerimônia no Planalto, ocorreu um evento na Suprema Corte pelos dois anos das manifestações de 8 de janeiro de 2023. Gilmar Mendes declarou que os protestos ocorreram por “fanatismo político” e “discurso de ódio”.
O decano da Corte não citou nominalmente o ex-presidente Jair Bolsonaro, mas alegou que os “impulsos” foram disseminados na gestão anterior à de Luiz Inácio Lula da Silva.
“A cada dia que passa, estou mais convencido de que os fatos que ali se sucederam refletiam a reverberação de uma ideologia rasteira, que inspirou a tentativa de golpe de Estado, surgida como uma reação violenta à vitória eleitoral do atual presidente da República”, declarou. “Essa reação decorre dos impulsos que já vinham sendo largamente disseminados na gestão anterior: o discurso de ódio, o fanatismo político e a indústria de desinformação, estratégias concebidas pela extrema direita para a preservação do poder.”
Ainda no evento na Suprema Corte, Alexandre de Moraes discursou. O magistrado afirmou que as depredações aos prédios dos Três Poderes em 2023 fez parte de um “cronograma golpista” que ainda não está “vencido”.
“Não houve uma manifestação livre, não houve uma manifestação democrática”, afirmou. “Houve uma tentativa de golpe, uma tentativa de golpe filmada pelos próprios golpistas. O sentimento de impunidade e a loucura total das redes sociais fez com que os próprios criminosos se filmassem praticando os crimes e postassem convocando novos criminosos a aderirem à tentativa de golpe.”
Leia abaixo as autoridades presentes no ato de Lula:
Ministros de Estado
- Ricardo Lewandowski, da Justiça e Segurança Pública
- José Múcio, da Defesa
- Mauro Vieira, das Relações Exteriores
- Fernando Haddad, da Fazenda
- Renan Filho, dos Transportes
- Mariana Pescatori, do Portos e Aeroportos, substituta
- Carlos Fávaro, da Agricultura e Pecuária
- Camilo Santana, da Educação
- Luiz Marinho, do Trabalho e Emprego
- Wolney Queiroz Maciel, da Previdência Social, substituto
- Wellington Dias, do Desenvolvimento e Assistência Social, Família e Combate à Fome
- Nísia Trindade, da Saúde
- Márcio França, do Empreendedorismo, Pequena Empresa e Empresa de Pequeno Porte
- Alexandre Silveira, de Minas e Energia
- Simone Tebet, do Planejamento e Orçamento
- Esther Dweck, da Gestão e Inovação em Serviços Públicos
- Juscelino Filho, das Comunicações
- Luciana Santos, da Ciência, Tecnologia e Inovação
- Marina Silva, do Meio Ambiente e Mudança do Clima
- André Fufuca, do Esporte
- Celso Sabino, do Turismo
- Waldez Góes, do Desenvolvimento e Integração Regional
- Paulo Teixeira, do Desenvolvimento Agrário e Agricultura Familiar
- Hailton Almeida, das Cidades, substituto
- André de Paula, da Pesca e Aquicultura
- Cida Gonçalves, das Mulheres
- Anielle Franco, da Igualdade Racial
- Macaé Evaristo dos Santos, dos Direitos Humanos e Cidadania
- Sônia Guajajara, dos Povos Indígenas
- Márcio Macêdo, da Secretaria-Geral
- Marcos Antonio Amaro dos Santos, Gabinete de Segurança Institucional
- Olavo Noleto Alves, Secretaria de Relações Institucionais, substituto
- Paulo Pimenta, Secretaria de Comunicação Social
- Jorge Messias, Advocacia-Geral da União
- Vinícius Carvalho, Controladoria-Geral da União
Governadores
- Elmano de Freitas, do Ceará
- Fátima Bezerra, do Rio Grande do Norte
- Jerônimo Rodrigues, da Bahia
- Priscila Krause, vice-governadora de Pernambuco
- João Azevêdo, da Paraíba
Presidentes de Tribunais Superiores
- Antônio Herman de Vasconcellos e Benjamin, do Superior Tribunal de Justiça
- Tenente-brigadeiro do Ar Francisco Joseli Parente Camelo, do Superior Tribunal Militar
Ministros de Tribunais Superiores
- Alexandre de Moraes
- Cristiano Zanin
- Gilmar Mendes
- Cármen Lúcia
- Edson Fachin
- Daniela Rodrigues Teixeira, do Superior Tribunal de Justiça (STJ)
- Luis Felipe Salomão, do STJ
- Mauro Luiz Campbell Marques, corregedor-nacional de Justiça
Forças Armadas
- Almirante de Esquadra Marcos Sampaio Olsen, comandante da Marinha
- Tenente-brigadeiro do Ar Marcelo Kanitz Damasceno, comandante da Aeronáutica
- General Tomás Miguel Miné Ribeiro Paiva, comandante do Exército
- Almirante de Esquadra Renato Rodrigues de Aguiar Freire, comandante do Estado-Maior Conjunto das Forças Armadas