EUA acusam Cuba de reprimir ativista com prisão política e tortura médica

Sissi Zamora permanece encarcerada, sem atendimento, com dores e infecções graves

Sissi Abascal Zamora, de 27 anos, tornou-se um dos rostos mais conhecidos da repressão política em Cuba. Ela foi condenada a seis anos de prisão por participar das manifestações pacíficas de 11 de julho de 2021 — o maior levante popular contra o regime em décadas.

Desde então, Zamora está encarcerada na Penitenciária Feminina de La Bellotex, na província de Matanzas, em estado de saúde frágil e sem acesso a cuidados médicos.

Agora, o caso voltou ao centro das atenções internacionais. Nesta terça-feira, 2, o Escritório de Assuntos Internacionais do Hemisfério Ocidental, dos Estados Unidos, denunciou a prisão de Zamora como injusta. Nesse sentido, o governo norte-americano afirma que seguirá identificando e responsabilizando os autores de violações de direitos humanos na ilha.

Segundo Washington, a prisão de Zamora se deu apenas por sua participação nos protestos de 11 de julho. As manifestações exigiam democracia, fim da repressão e a libertação dos presos políticos.

A jovem integrava o grupo opositor Damas de Branco. A organização é formada, em sua maioria, por mulheres que tiveram seus maridos presos pela ditadura de Miguel Díaz-Canel.

Sissi Abascal fue injustamente condenada a seis años de prisión por el simple hecho de participar en las protestas pacíficas del 11 de julio, en las que se pedían cambios democráticos en Cuba y la liberación de los presos políticos de la isla. Estados Unidos continuará… pic.twitter.com/8EgGhWJwHk— Bureau of Western Hemisphere Affairs (@WHAAsstSecty) September 2, 2025

Penitenciária nega tratamento a Zamora, mesmo com infecção ginecológica

A ativista cumpre pena desde 2021 e, de acordo com relatos da mãe, Annia Zamora, encontra-se “inchada, infectada e com dores intensas”. Ela sofre de bartolinite — inflamação das glândulas de Bartholin, localizadas na vulva —, tem um cisto no ovário e enfrenta uma crise dentária grave.

Nenhum dos quadros clínicos recebeu o tratamento necessário por parte da administração carcerária. Os únicos medicamentos disponíveis são os entregues pela família durante visitas monitoradas.

Uma cirurgia marcada para agosto foi adiada sem justificativa. A médica da prisão alegou que a transferência da paciente dependeria da autorização da diretoria do presídio, da Segurança do Estado e do próprio Díaz-Canel.

A recusa sistemática ao atendimento odontológico agrava ainda mais a condição da ativista. Apesar do inchaço no rosto e da dor constante, as autoridades prisionais vetaram a ida de Zamora a uma clínica externa.

Diante disso, a mãe atribuiu responsabilidade direta ao chefe de Estado, ao serviço secreto cubano, à médica da unidade e à diretora da prisão, Marta Cristina Hernández Bacallao.

Ditadura reduz comida e persegue ativistas dentro do presídio

Além das denúncias sobre negligência médica, há fortes indícios de perseguição política dentro da cadeia. O regime cubano classificou Zamora como “prisioneira negativa”, um rótulo que impede qualquer tipo de progressão de pena.

Em junho, a Justiça local rejeitou o pedido de liberdade condicional, apesar de a ativista já ter cumprido parte da pena e apresentar estado clínico delicado.

Maykel “Osorbo” Castillo, coautor del himno contra la represión Patria y Vida, sigue injustamente detenido por memes y canciones que desafían a la dictadura cubana. Ocho años por disentir es tiranía, no justicia. #LibertadYa #TodosLibres #PatriayVida pic.twitter.com/c6kt0Jq9ER— Bureau of Western Hemisphere Affairs (@WHAAsstSecty) August 25, 2025

A mãe da presa afirma que a recusa tem motivação política. Segundo ela, o regime impõe punições sucessivas a qualquer detento que se oponha às normas ou denuncie as condições carcerárias.

Zamora, segundo relatos, se manifesta frequentemente contra os abusos sofridos pelas presas, o que a transformou em alvo direto das autoridades penitenciárias.

A repressão, no entanto, não se limita aos muros da prisão. Um relatório do Departamento de Estado dos EUA, publicado em 2023, confirma que as Damas de Branco — incluindo Zamora, Sayli Navarro Alvarez e Tania Echevarria Mendez — permanecem presas por se manifestar publicamente contra o regime.

O mesmo relatório revela que, em março daquele ano, o regime da ilha reduziu em 50% as rações alimentares das três mulheres.

“Três ‘Damas de Branco’ — Sayli Navarro Alvarez, Tania Echevarria Mendez e Sissi Abascal Zamora — permaneceram presas por sua participação nos protestos públicos de 2021 contra o governo”, diz trecho do relatório. “Em março, a mãe de Abascal disse à Rádio Televisão Mart i que as autoridades prisionais haviam reduzido as rações alimentares das três mulheres em 50%.”

O documento oficial também denuncia a pressão exercida pela ditadura para forçar opositores e líderes religiosos ao exílio. A prática, segundo Washington, configura uma estratégia sistemática de silenciamento da dissidência interna.

Protestos por liberdade terminaram em prisões e julgamentos sumários

Os protestos de 11 de julho de 2021 marcaram um ponto de inflexão na relação entre a população cubana e o regime de Miguel Díaz-Canel.

Milhares de cidadãos foram às ruas em várias cidades do país para exigir liberdade política, acesso a alimentos e medicamentos, além do fim da repressão. Em resposta, a ditadura prendeu centenas de manifestantes, muitos deles submetidos a julgamentos sumários e condenações severas.

Zamora foi uma das primeiras ativistas condenadas depois dos atos. Na época, ela atuava na localidade de Carlos Rojas, em Matanzas. O regime a acusou de “desacato”, “ataque” e “desordem pública”, com base em depoimentos frágeis e sem provas materiais consistentes. A repressão foi considerada desproporcional por diversas entidades internacionais.

Crédito Revista Oeste

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