Mauricio Alonso Petri foi encontrado morto em custódia da ditadura nicaraguense, depois de passar 38 dias desaparecido
O Escritório para Assuntos do Hemisfério Ocidental (WHA) dos Estados Unidos prometeu, nesta quarta-feira, 27, responder ao governo da Nicarágua pela morte do opositor Mauricio Alonso, que ficou detido por mais de um mês sob ordens do ditador Daniel Ortega e de sua mulher, Rosario Murillo, que também é vice-presidente do país.
“Horrorizadas pela desumanidade da ditadura de Murillo-Ortega, as autoridades devolveram à sua família o corpo sem vida de Mauricio Alonso, um defensor nicaraguense da liberdade religiosa”, escreveu o departamento em publicação no X. “Os EUA não tolerarão tal crueldade nem esquecerão esse crime.”
Movimentos opositores na Nicarágua relataram, na última segunda-feira, 25, a morte de Alonso. Depois de mais de um mês sem informações, a família dele recebeu a notícia pelas autoridades do regime de Daniel Ortega (Frente Sandinista de Libertação Nacional-Nicarágua), que exigiram a retirada do corpo no Instituto de Medicina-Legal.
Horrorizadas pela desumanidade da ditadura de Murillo-Ortega, as autoridades devolveram à sua família o corpo sem vida de Mauricio Alonso, um defensor nicaraguense da liberdade religiosa. A ditadura deteve injustamente e manteve Alonso incomunicável por um mês, até sua morte.… https://t.co/w7ak75s7oo— USA em Português (@USAemPortugues) August 27, 2025
Petri, de 64 anos, foi detido ainda de madrugada em 18 de julho, na cidade de Jinotepe, no departamento de Carazo, durante uma operação policial realizada na véspera das celebrações do aniversário da Revolução Sandinista. A mulher de Alonso foi solta no mesmo dia, mas ele e o filho desapareceram.
Ortega havia pedido “vigilância revolucionária” contra opositores e afirmou que “assim que forem descobertos serão capturados e processados”. Até 15 de julho, 54 críticos do regime, incluindo 18 idosos, estavam presos, conforme levantamento reconhecido pela Comissão Interamericana de Direitos Humanos.
A ação do dia 18, que incluiu prisões nos departamentos de Carazo, Masaya, Granada e Rivas, resultou em dezenas de opositores detidos. Segundo entidades de direitos humanos, pelo menos 28 pessoas foram consideradas desaparecidas à força nessas operações simultâneas.
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A família não teve acesso a informações oficiais durante o tempo em que Alonso esteve desaparecido. Durante 38 dias, familiares o procuraram em prisões, delegacias e hospitais, sem que nenhuma autoridade confirmasse sua custódia. O paradeiro dele permaneceu desconhecido até o contato do Instituto de Medicina-Legal para reconhecimento do corpo.
Ditadura de Daniel Ortega também prendeu pastor evangélico
Alonso já havia se desligado do Movimento Renovador Sandinista em Jinotepe, mas mantinha contato com o major aposentado Roberto Samcam, assassinado em Costa Rica em 19 de agosto. Mesmo afastado de atividades políticas e com problemas cardíacos, Alonso foi preso com o filho, integrante do grupo de música da Igreja Evangélica La Roca, assim como o pastor Rudy Palacios, responsável pela igreja.
As autoridades informaram à família que Alonso teria passado mal e morrido no Instituto de Medicina-Legal, sem registro de encaminhamento a hospitais nem atendimento médico. Organizações relatam que presos em julho foram levados a celas clandestinas em condições comparáveis ao centro El Chipote, conhecido por denúncias de tortura.
El 18 de julio, la dictadura nicaragüense secuestró a Mauricio Alonso, un noble defensor de las libertades religiosas en el país.
Hoy el régimen de Daniel Ortega lo entregó muerto a su familia.
Estas cosas están ocurriendo en nuestro continente. No nos olvidemos de Nicaragua. pic.twitter.com/ahICnswbvI
— Agustín Antonetti (@agusantonetti) August 25, 2025
Com o filho ainda desaparecido, a família de Alonso optou por não se pronunciar publicamente, por medo de represálias. Fontes opositoras informaram que o enterro deve acontecer de forma rápida em Jinotepe sob escolta policial.
Entidades dentro e fora da Nicarágua reagem à morte de Alonso
O caso gerou forte reação de entidades locais e internacionais. “Com profunda indignação, denunciamos a morte de Mauricio Alonso Petri enquanto ele se encontrava nas mãos da Polícia Nacional da Nicarágua”, afirmou a União Democrática Renovadora (Unamos), em nota. A organização lamentou a falta de explicações das autoridades e expressou pesar à família do opositor, além de solidariedade aos demais presos.
O Instituto La Segovia, em exílio político, também responsabilizou diretamente o governo nicaraguense. “O sistema ditatorial de Daniel Ortega e Rosario Murillo está entregando morto o opositor sequestrado e preso político de nome Mauricio Alonso P.”, afirmou a entidade, que destacou o caso como crime de lesa-humanidade.
A Unidade Nacional Azul e Branco também denunciou a morte nas redes sociais. “Mauricio estava desaparecido desde seu sequestro, e as razões de sua morte são desconhecidas”, escreveu. “Denunciamos este novo crime da ditadura e exigimos prova de vida do filho de Mauricio, também sequestrado pela ditadura, e de todos os sequestrados, assim como a liberdade incondicional de todas as pessoas presas políticas.”
Contexto da repressão e crise política
A crise política e social na Nicarágua persiste desde abril de 2018 e agravou-se depois das eleições de novembro de 2021, quando Ortega, atualmente com 79 anos, garantiu o quinto mandato, sendo o quarto consecutivo.
Casos de detenções em massa, isolamento, desaparecimento forçado e mortes sob custódia têm se repetido. Entre os exemplos, estão o general aposentado Hugo Torres, que faleceu em El Chipote em 2022 após 244 dias preso, e Eddy Montes, morto em 2019 na prisão La Modelo.
El brutal régimen puede quitar vidas, pero nunca podrá apagar la llama de la justicia. Las muertes de prisioneros políticos son un testimonio de su crueldad, pero también de la inquebrantable fortaleza de aquellos que luchan por la libertad.
Su lucha no será olvidada.
Cada… pic.twitter.com/qxofNa4AH8— Unamos (@unamosnica) August 26, 2025
No fim de 2023, José Modesto Solís Aguilar morreu em circunstâncias não esclarecidas. Até o general aposentado Humberto Ortega Saavedra, irmão do presidente, faleceu sob custódia em situação nunca explicada.
Desde abril de 2018, a cidade de Jinotepe está sob repressão sistemática depois de protestos que resultaram em dezenas de mortos em Carazo, com o Colégio San José como centro de resistência. O Instituto Segovia pediu atenção internacional, afirmando que a devolução do corpo de Alonso evidencia o uso de desaparecimentos forçados como política de Estado.