A Open Society Foundations, rede internacional criada pelo bilionário George Soros, financiou o documentário Apocalipse nos Trópicos. Em 2024, a fundação destinou US$ 150 mil para apoiar a etapa final de produção e a distribuição da obra. O valor equivale a R$ 808,5 mil, pelo câmbio médio do período.
O filantropo já havia financiado os estudos do ex-deputado federal Jean Willys, as pautas de liberação de drogas pelo Movimento Viva Rio, e mais uma centena de projetos esquerdistas no Brasil.
O filme, dirigido por Petra Costa, rodou o mundo em festivais internacionais e agora está no catálogo da Netflix desde 14 de julho de 2025, disponível em todo o planeta.
Um documentário malicioso
Apocalipse nos Trópicos investiga a ascensão política do movimento evangélico no Brasil, usando-o como contexto para que Jair Bolsonaro fosse eleito presidente. A diretora apresenta o pastor Silas Malafaia como uma das figuras centrais em orquestrar os grupos religiosos em torno do objetivo político bem-sucedido que fez o capitão chegar ao poder.
Mas não só isso. Malafaia e o aumento de evangélicos, segundo o roteiro, estariam diretamente relacionados às manifestações que culminaram no fatídico 8 de janeiro de 2023.
O longa mostra cultos, discursos inflamados de pastores e imagens de manifestações políticas com bandeiras religiosas. Também sugere que a fé foi usada como arma para manipular a população, em especial durante a pandemia e nas eleições de 2022.
Do início ao fim, a malícia da obra reside na tentativa de mostrar os fiéis como ameaças à democracia. Ao forçar a ideia de que os evangélicos se transformaram em uma base radical de apoio para a ascensão da direita, a narrativa busca associar religião com manipulação política. Assim, o filme acaba reduzindo os evangélicos a uma caricatura estereotipada.
Quem está por trás da produção
O projeto contou com apoio de diferentes organizações e empresas culturais, mas foi por meio do Instituto Peri que a Open Society o patrocinou. O Instituto foi fundado em 2024, mesmo ano em que recebeu a doação, no Rio de Janeiro, como braço sem fins lucrativos da produtora Peri Productions.
A proposta da instituição, conforme consta na página da empresa, é se envolver com “histórias que possuem o potencial de mover grandes públicos”. Logo em seguida, explicam que o foco está “naquilo que afeta todo mundo: os modelos mentais e as referências culturais que moldam nossas crenças e sistemas de valores”. Se a preocupação do grupo é a crença de uma população, é fácil compreender como a fé evangélica os incomodou a ponto de motivar o documentário a respeito do tema.
Em outras palavras, a produtora de Apocalipse nos Trópicos não é apenas de uma produtora de filmes, mas uma rede de articulação política e cultural com conexões globais.
A teia que opera em ONGs e cinema
O nome à frente da produtora Peri Productions, responsável por captar recursos de Soros, é Alessandra Orofino. Ela dirige o Instituto Peri e se firmou como elo entre ONGs, política e cultura, com atuação voltada a pautas alinhadas ao progressismo internacional.
Cofundadora do coletivo NOSSAS, grupo de ativismo digital conhecido por campanhas em defesa de causas de esquerda, como o PL da Censura (que chamam de lei das Fake News) e a manutenção das ilegalidades atribuídas à prisão de Jair Bolsonaro e dos envolvidos no oito de janeiro (a turma do “sem anistia”).
Alessandra também trabalha com Gregório Duvivier como criadora e diretora-geral do programa de sátira política que ele apresenta e, após a eleição de Lula, foi convidada como coordenadora de um grupo de trabalho ligado ao Ministério das Comunicações.
Ela ainda integra Conselhos de Administração de organizações focadas em “estratégia cultural e narrativas”. Ganhou projeção internacional ao ser escolhida como Obama Fellow em 2019, programa da Fundação Obama voltado a lideranças sociais, e publica artigos de opinião em veículos de grande alcance, como New York Times, El País, Folha de S.Paulo e BBC.
O que é a Open Society
A doação da Open Society para a produção do documentário soma-se a outras polêmicas envolvendo os investimentos do “filantropo”. George Soros não apenas financia projetos progressistas, como também é apontado por desestabilizar governos e considerado “persona non grata” em diversos países.
A Open Society foi criada por Soros em 1993. Ela surgiu logo após o fim da União Soviética com a missão de promover os valores ocidentais e democráticos no Leste Europeu. Soros, nascido na Hungria e radicado nos Estados Unidos, utilizou sua fortuna para financiar bolsas de estudo e apoiar movimentos pró-democracia, feministas e ambientalistas, muitos dos quais tiveram papel central nas chamadas revoluções coloridas, que mudaram governos em países como Ucrânia, Geórgia e Eslováquia.
A influência da fundação expandiu-se rapidamente e, já na década de 2010, Soros considerava parcialmente cumprida sua missão de impulsionar essas nações em direção à democracia. Com o fortalecimento de governos nacionalistas e de direita na região, a figura de Soros passou a ser alvo de críticas e hostilidade, sobretudo na Hungria de Viktor Orbán, que acusou a fundação de interferência política, especialmente em relação à imigração. Em 2018, a Open Society foi obrigada a fechar seu escritório em Budapeste e transferiu operações para Berlim.
Além da Hungria, outros países como Rússia, Romênia e Turquia restringiram ou baniram atividades da fundação, classificando suas ações como ameaça à soberania e à ordem constitucional. Ainda assim, Soros ampliou sua atuação global, com presença em mais de 120 países e forte foco em minorias, direitos humanos, liberdade de expressão e políticas de imigração.
Ainda hoje, a Open Society atua como uma das maiores organizações privadas de filantropia do mundo, e desde a sua fundação, já distribuiu mais de US$ 23 bilhões em doações. Seu orçamento anual ultrapassa US$ 1 bilhão, dividido entre programas de democracia, governança, educação, combate à discriminação e jornalismo. Só em 2023 a fundação doou mais de US$ 1,7 bilhão.
A Gazeta do Povo acompanha desde 2017 as organizações que recebem recursos da fundação, incluindo a Mídia Ninja, Agência Pública, Instituto Igarapé, Fundação Marielle Franco e o Quebrando o Tabu.