Gás, entregadores, caminhoneiros: as novas propostas populistas na mesa de Lula

Governo Lula prepara mais medidas populistas de olho em 2026. Inciativas devem elevam risco fiscal e pressionar inflação.

Com a aprovação derretendo nas pesquisas e a eleição de 2026 no horizonte, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) ensaia mais uma rodada de medidas econômicas com apelo direto às bases eleitorais. Entre subsídios, promessas e liberações de crédito, o governo retoma uma velha fórmula de estímulos imediatistas que preocupam o mercado e aprofundam os riscos fiscais.

A movimentação ocorre após uma série de desgastes, como os escândalos envolvendo desvios no Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) e o impacto negativo do aumento do IOF sobre várias operações. O governo tenta responder com medidas de efeito rápido – e impacto fiscal duradouro.

As últimas pesquisas Genial/Quaest e PoderData apontam que a desaprovação à gestão Lula alcançou 57% e 56%, respectivamente. Entre os entrevistados que tomaram conhecimento do aumento do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF), a maioria criticou a decisão. Eles afirmaram que Lula errou ao manter o aumento do imposto para a compra de dólar por pessoas físicas e para remessas de dinheiro ao exterior.

Do botijão à motocicleta: Lula mira classes populares com pacote de bondades

Na tentativa de estancar a sangria política, o Planalto prepara um novo “kit reeleição”. Durante entrevista na terça-feira (3), Lula anunciou que estão em estudo iniciativas como a ampliação do programa que subsidia gás de cozinha a famílias de baixa renda, uma linha de crédito para reforma de residências populares, incentivos à compra de motocicletas por entregadores e a instalação de pontos de apoio com atendimento médico para caminhoneiros.

Os alvos são claros: trabalhadores informais, autônomos e famílias que sofrem com o custo de vida.

“Não é justo a Petrobras vender um botijão por R$ 37 e ele chegar a R$ 140”, disse o presidente. O problema, segundo analistas, é que esse tipo de intervenção reforça distorções, pressiona o Orçamento e empurra a inflação para cima.

Levantamento da Agência Nacional do Petróleo (ANP) mostra que, em maio, o preço médio do botijão de 13 kg foi de R$ 108,97, com extremos que variam de R$ 75,99 (Piauí) a R$ 155 (Roraima). O IBGE aponta alta acumulada de 6,82% no ano. A maior foi de 11,95%, em Salvador, e a menor, de 2,84%, em Curitiba.

Outro foco do pacote é a construção civil. A proposta é liberar crédito para pequenas reformas, numa tentativa de aquecer um setor em desaceleração, prejudicado pelos juros altos. O programa complementa a recente ampliação da faixa de renda do Minha Casa, Minha Vida, que agora atende famílias que ganhem até R$ 12 mil mensais.

“Tem gente que quer comprar uma casa, tem gente que já tem a casa, mas tem gente que quer fazer um quarto a mais, quer fazer uma garagem a mais quer fazer uma cozinha a mais, quer fazer um banheiro mais e essa gente não tem crédito. Então nós vamos abrir uma linha de crédito para garantir que essas pessoas tenham acesso, sabe?”, disse Lula na entrevista coletiva.

A proposta voltada aos motociclistas prevê a criação de um programa de crédito facilitado para que entregadores de aplicativos consigam financiar suas motos. A intenção do governo é ampliar o acesso ao financiamento com juros menores e menos burocracia, promovendo um alívio imediato para uma categoria numerosa, informal e, cada vez mais, politicamente sensível.

Outra frente de ação contempla os caminhoneiros. Lula prometeu instalar estruturas de apoio nas concessões de rodovias federais. Os pontos contariam com locais seguros para descanso e pernoite, além de atendimento médico por meio do programa “Agora Tem Especialista”, que, segundo o governo, já está em fase de implementação. É mais um gesto simbólico e prático para um setor que tem histórico de influência política e impacto direto na economia e na logística nacional.

Mais consumo, mais inflação: medidas acentuam o “cabo de guerra” com o Banco Central

As ações fazem parte de uma sequência de medidas econômicas lançadas desde fevereiro, que incluem a liberação do saque do FGTS, alterações no crédito consignado para os trabalhadores do setor privado e a proposta de ampliação da faixa de isenção do Imposto de Renda para R$ 5 mil – essa última ainda em tramitação no Congresso.

O denominador comum dessas iniciativas é o estímulo ao consumo, com recursos injetados diretamente na economia. Só o FGTS deve liberar R$ 12 bilhões. O novo modelo de crédito consignado pode movimentar R$ 70 bilhões até 2026. E a ampliação da faixa de isenção do IR, se aprovada, pode reduzir a arrecadação em até R$ 66 bilhões.

O problema, alertam economistas, é que a política de estímulo à demanda se choca com a estratégia do Banco Central para controlar a inflação. Ao aquecer artificialmente o consumo em um momento de fragilidade fiscal, o governo contribui para a manutenção de juros elevados – e prolonga o ciclo de aperto monetário. A taxa Selic está em 14,75% ao ano, a maior desde 2006,

A combinação de estímulos que aumentam a demanda e juros altos necessários para combatê-la cria um “cabo de guerra”, onde de um lado, o governo empurra o consumo; de outro, o BC precisa puxar o freio.

Déficit em alta e juros nas alturas: quem paga a conta da reeleição?

Em abril, o Brasil completou 23 meses consecutivos de déficit primário no acumulado em 12 meses. As despesas superam as receitas, mesmo sem contar o pagamento de juros da dívida. A cada nova promessa, a preocupação com o risco fiscal aumenta. E com ele, a necessidade de manter a Selic elevada para conter a pressão inflacionária.

A percepção entre agentes financeiros é que Lula está menos preocupado com equilíbrio macroeconômico e mais focado na construção de um discurso eleitoral para 2026. Os programas anunciados não vêm acompanhados de reformas estruturais, cortes de gastos ou compensações fiscais. O resultado é um quadro de desequilíbrio crescente.

Crédito Gazeta do Povo

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