Gettr já era monitorada pelo TSE desde agosto de 2022

Instituto parceiro da Corte Eleitoral fazia relatórios semanais sobre a rede social de Jason Miller, ex-assessor de Donald Trump

A rede social Gettr, pertencente a Jason Miller, ex-assessor do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, já era monitorada pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) desde agosto de 2022. A informação está presente nas trocas de mensagens obtidas exclusivamente por Oeste.

O acompanhamento era feito pelo Instituto Democracia em Xeque, parceiro do TSE à época, que produzia relatórios semanais sobre as publicações na plataforma. 

Nos documentos, a primeira referência à Gettr aparece em 30 de agosto de 2022, quando Beto Vasques, integrante do instituto, destacou que, embora o volume de publicações fosse pequeno naquele momento, funcionava como “bússola para a identificação de temas e atores”.

Instituto parceiro do TSE fazia relatórios semanais sobre a Gettr | Foto: Divulgação/Revista Oeste
Instituto parceiro do TSE fazia relatórios semanais sobre a Gettr | Foto: Divulgação/Revista Oeste

As compilações eram compartilhadas e comentadas com servidores da Corte Eleitoral. Na primeira menção, Fabiano Garrido, também do Democracia em Xeque, sugeriu que “ataques” ao então presidente do TSE, ministro Alexandre de Moraes, circulavam na rede.

Na mesma troca de mensagens, Garrido ironiza o ex-ministro Marco Aurélio Mello e o jurista Ives Gandra, ao dizer que pessoas de “conhecimento jurídico” estavam sendo usadas por “bolsonaristas”.

Parceiro do TSE usou aspas para se referir ao saber jurídico de Marco Aurélio Mello e Ives Gandra | Foto: Divulgação/Revista Oeste
Parceiro do TSE usou aspas para se referir ao saber jurídico de Marco Aurélio Mello e Ives Gandra | Foto: Divulgação/Revista Oeste

Gettr na mira do TSE

Trocas de mensagens obtidas com exclusividade por Oeste mostram que, em outubro de 2022, auxiliares próximos ao magistrado traçaram planos para bloquear a plataforma Gettr.

Em 3 de outubro daquele ano, dois dias depois do primeiro turno das eleições, o juiz Airton Vieira, que atuava como assessor judicial de Moraes no STF, enviou uma mensagem a Eduardo Tagliaferro, então chefe da Unidade Especial de Combate à Desinformação do TSE, para pedir o bloqueio da Gettr. O pedido surgiu depois de Vieira confundir uma postagem de Allan dos Santos no X com uma publicação feita na Gettr.

A primeira parte do diálogo | Foto: Divulgação/Oeste
A primeira parte do diálogo | Foto: Divulgação/Oeste

Tagliaferro corrigiu a informação, mas em seguida encaminhou postagens de fato publicadas na rede de Jason Miller.

A segunda parte do diálogo | Foto: Divulgação/Oeste
A segunda parte do diálogo | Foto: Divulgação/Oeste

Vieira insistiu: “Então, veja, por favor, como bloquear o Gettr. Obrigado”.

A terceira parte do diálogo | Foto: Divulgação/Oeste
A terceira parte do diálogo | Foto: Divulgação/Oeste

Tagliaferro respondeu:

“Nele, tem muita gente se escondendo porque não há [sic] impunidade”.

A quarta parte do diálogo | Foto: Divulgação/Oeste
A quarta parte do diálogo | Foto: Divulgação/Oeste

A ideia de suspender a plataforma já circulava entre os auxiliares de Moraes. Vieira relatou que o pedido de bloqueio deveria ser anexado à Petição 9.935, processo que tramitava no STF sob relatoria de Moraes e que já tratava de medidas contra o Telegram, com base no Marco Civil da Internet.

Meses antes, em março de 2022, Moraes havia determinado a suspensão do Telegram em todo o território nacional, sob a alegação de que a empresa descumpria decisões judiciais. A medida foi revogada dois dias depois, quando a plataforma aceitou as exigências impostas pelo magistrado. Esse caso serviu de precedente para o que se articulava contra a Gettr.

O que é a Vaza Toga

As informações e os documentos divulgados nesta reportagem, obtidos por Oeste com exclusividade, acrescentam novos e graves detalhes aos fatos que começaram a vir à luz a partir das revelações contidas em reportagens publicadas inicialmente pelo jornal Folha de S. Paulo, no que ficou conhecido como Vaza Toga.

As primeiras denúncias foram feitas por Glenn Greenwald e Fábio Serapião, conforme registrado pela Oeste. Novos documentos comprometedores vieram à tona em apuração de David Ágape e Eli Vieira, publicadas no site Public.

Crédito Revista Oeste

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