Hezbollah e Irã ganham espaço no Brasil, sob silêncio diplomático

Hezbollah e Irã ampliaram sua presença no Brasil por meio de encontros diplomáticos e ações suspeitas ignoradas pelo Itamaraty

Irã fortaleceu sua presença no Brasil em meio a encontros diplomáticos, homenagens oficiais e atividades suspeitas encobertas pelo silêncio do Itamaraty. Informações do portal argentino Infobae revelam que o diretor da Universidade Iraniana Al-Mustafa, Ali Abbasi, está no país neste momento.

A instituição, que sofreu sanção em 2020 pelo Departamento do Tesouro dos Estados Unidos e também pelo Canadá, é acusada de treinar milícias xiitas ligadas à Força Quds — braço da Guarda Revolucionária Islâmica que comanda ações terroristas no exterior.

Os EUA acusam a Al-Mustafa de atuar como base de recrutamento. A universidade mantém ligação com o Instituto Cultural Islam Oriente, que Mohsen Rabbani dirige.

Segundo os norte-americanos, ele planejou os atentados de 1992 contra a Embaixada de Israel e de 1994 contra a Associação Mutual Israelita Argentina, que mataram 114 pessoas na Terra da Prata.

No Brasil, a Al-Mustafa atua por meio do Instituto Salam, com financiamento iraniano. Celso Amorim, assessor especial da Presidência, se reuniu com uma comitiva iraniana liderada por Ali Akbar Ahmadian, chefe do Conselho Supremo de Segurança Nacional do Irã. A visita de Abbasi ao Brasil coincidiu com esse encontro.

A reunião aconteceu em Moscou, durante o 13º Encontro Internacional de Altos Representantes para Assuntos de Segurança, encerrado nesta quinta-feira, 29. Participaram 129 delegações de 105 países. O governo brasileiro não divulgou detalhes da reunião com os iranianos.

Em outro gesto simbólico, o chanceler Mauro Vieira visitou a Embaixada do Irã em Brasília no último dia 19 para homenagear o ex-presidente Ebrahim Raisi no aniversário de sua morte.

Conhecido como “Açougueiro de Teerã”, Raisi liderou repressões brutais a dissidentes, incluindo os protestos de 2017 e 2019.

Além disso, há um mês, uma aeronave oficial iraniana, o Airbus A340, pousou em Brasília. Nenhuma autoridade brasileira nem iraniana esclareceu o motivo.

Segundo o site de notícias aeronáuticas Aeroin, nem mesmo o representante do Irã no Brics, Seyyed Rasoul Mohajer, utilizou aviões oficiais do governo de Teerã, levantando suspeitas sobre a agenda da missão.

Hezbollah recruta no Brasil e mantém operações ativas na Tríplice Fronteira

Em paralelo, o Hezbollah voltou ao centro do debate depois de a Embaixada dos EUA em Brasília oferecer até US$ 10 milhões por informações sobre os canais financeiros do grupo na Tríplice Fronteira.

O comunicado acusa o Hezbollah de financiar suas ações na América do Sul por meio de tráfico de drogas, contrabando, lavagem de dinheiro e atividades comerciais supostamente legais.

Em novembro do ano passado, a Polícia Federal (PF) desmantelou uma rede ligada ao grupo em uma operação batizada de Trapiche.

Dois membros do Hezbollah — Mohamad Khir Abdulmajid e Haissam Houssim Diab — contrataram brasileiros para executar atentados contra alvos israelenses no país. Ambos seguem foragidos e são procurados pela Interpol.

Segundo a PF, a célula financiava suas ações por meio de tabacarias em Belo Horizonte. Além disso, recebia suporte do Centro Cultural Beneficente Islâmico de Brasília, mantido com verba do Irã desde 2019.

Presença iraniana avança em universidades e eventos pró-Hezbollah

Relatório da inteligência saudita divulgado pelo canal Al-Hadath revela que cerca de 400 comandantes do Hezbollah e seus familiares migraram recentemente para países da América Latina, incluindo o Brasil.

A movimentação sugere uma tentativa do grupo de se reorganizar fora do Oriente Médio. Em território brasileiro, o Hezbollah tem encontrado apoio em manifestações e eventos públicos.

Na terça-feira 28, uma barraca vendia bandeiras do grupo em atividade realizada na Universidade do Estado do Rio de Janeiro. Participantes exibiram imagens com dizeres como “Morte a todos os sionistas” e “A favor da destruição do maldito Estado terrorista de Israel”.

O Instituto Brasil-Palestina, juntamente com o jornal A Nova Democracia, organizaram o evento. Em nota oficial, os responsáveis pediram ao Brasil que rompa relações diplomáticas e comerciais com Israel, chamando o país de “entidade nazi-sionista”.

Em outro front, uma carta assinada por personalidades como Chico Buarque e Milton Hatoum exigiu o rompimento dos laços entre Brasil e Israel.

A iniciativa partiu da organização Boicote, Desinvestimento e Sanções, considerada uma ameaça extremista pela inteligência alemã e acusada de ligações com o Hamas e a Frente Popular para a Libertação da Palestina.

Embora a legislação brasileira não classifique o Hezbollah nem o Hamas como grupos terroristas, a Lei 13.260, de 2016, permite a responsabilização penal de indivíduos que organizem ou financiem ações com motivação terrorista.

Enquanto isso, o problema se aprofunda. As ligações entre o Hezbollah e o crime organizado brasileiro, como o Primeiro Comando da Capital (PCC), seguem em expansão.

As conexões envolvem tráfico de drogas, uso de criptomoedas e outras formas de lavagem de dinheiro, ampliando a ameaça silenciosa à segurança nacional.

Crédito Revista Oeste

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