Historiador norte-americano rejeita tese de ‘genocídio’ em Gaza

Jeffrey Herf analisa a complexidade do combate urbano das forças israelenses contra a estratégia dos terroristas do Hamas

Para o historiador norte-americano Jeffrey Herf, a alegação de que o governo de Israel promove um plano genocida em Gaza não tem nenhuma comprovação material. Em entrevista ao jornal O Globo publicada nesta segunda-feira, 1º, ele argumenta que o objetivo da ação militar israelense é derrotar o grupo terrorista Hamas, que controla o território desde 2007, e não eliminar a população palestina.

Segundo Herf, as operações israelenses diferem substancialmente de episódios históricos de genocídio, como os promovidos pelo regime nazista, pelo Khmer Vermelho, no Camboja, pelo governo otomano contra armênios, ou mesmo pelo massacre dos tútsis em Ruanda. Ele ressalta que, naquelas situações, o propósito explícito era exterminar populações inteiras, o que não se verifica no caso atual.

“Uma campanha militar para derrotar uma organização terrorista é um tipo específico de guerra”, afirma Herf, que é professor emérito de história europeia moderna na Universidade de Maryland, nos EUA, e autor de livros como O Inimigo Judeu e O Momento de Israel. “Para derrotar o Hamas, Israel precisa enfrentar um inimigo que construiu o maior sistema de túneis conhecido na história militar moderna, projetado para proteger seus combatentes enquanto deixava os civis indefesos.”

A estratégia do grupo terrorista, avalia o historiador, torna impossível para as Forças de Defesa de Israel combaterem o Hamas sem causar baixas entre civis. Herf lembra que Israel tem optado por avisar a população antes de ataques, o que seria incoerente com uma campanha genocida. Ele ressalta que, se a intenção fosse exterminar o povo palestino, o número de mortes seria superior às 60 mil notificadas pelo Hamas.

“O cinismo e a crueldade da estratégia militar do Hamas obrigam Israel a escolher entre admitir a derrota e permitir que o Hamas sobreviva, ou travar uma guerra para derrotá-lo, ao custo de vidas civis perdidas”, diz Herf. Diante desse cenário, ele sustenta que a acusação de genocídio contra Israel está inserida em uma estratégia política do Hamas e, frequentemente, alimenta sentimentos antissemitas presentes na cultura ocidental.

“O Estado de Israel, ao defender seu direito de existir, é visto como um pesadelo para os antissemitas”, explica. “Eles acreditam que suas mentiras ganharam corpo na forma do Estado de Israel. A calúnia equivale a dizer que Israel não tem o direito de se defender, porque não deveria existir.”

Governo de Israel deveria pensar mais em uma Gaza pós-Hamas

O historiador diferencia o ataque de 7 de outubro de 2023, atribuído ao Hamas, da atual ofensiva militar de Israel. Ele classifica o ataque dos terroristas como “genocídio interrompido”, uma vez que o grupo criou unidades específicas para assassinar civis israelenses, o que é característico do crime de genocídio. “As vítimas não eram danos colaterais de um ataque a um alvo militar, eram o alvo pretendido.”

Diante de relatos da Organização Mundial da Saúde de que 94% dos hospitais de Gaza estão danificados ou destruídos e indicativos de que 70% das construções foram afetadas, Herf lamenta que Israel não tenha estruturado uma proposta para o futuro de Gaza sem o Hamas. Ele considera essencial o surgimento de uma liderança local disposta a manter a paz e conter o retorno do grupo ao poder.

“O Hamas não está derrotado. A questão para qualquer governo de Israel é como garantir que o grupo não continue a exercer poder político e influência em Gaza”, afirma. “A questão de se existe ou não uma ‘outra Gaza’ — uma Gaza que não apoia o Hamas — e de como esse sentimento pode assumir poder político é crucial.”

Questionado sobre crimes de guerra, Herf responsabiliza o Hamas pelo sofrimento civil e ressalta que a estratégia de combate do grupo, inserida em ambientes civis, viola o Direito internacional. Segundo ele, são os líderes do Hamas que deveriam responder por crimes contra a Humanidade, não Israel.

O historiador também ressalta o papel das universidades e da imprensa no empenho em construir uma visão negativa do Estado judeu. “Israel cometeu erros, mas agora é hora de intelectuais e jornalistas examinarem seus próprios vieses”, finaliza.

Crédito Revista Oeste

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