De acordo com deputados, o presidente da Câmara articula, nos bastidores, para frear avanço da proposta no Congresso
Se, por um lado, o acordo entre o presidente do Senado, Davi Alcolumbre (União‑AP), e ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) avança na disputa pela anistia aos presos do 8 de Janeiro no Congresso Nacional, por outro, um fator ainda mais determinante atrasa as negociações: a influência do presidente da Câmara dos Deputados, Hugo Motta (Republicanos‑PB), contrário à proposta.
“A intenção de Motta é ganhar tempo.” A declaração é do líder do Partido Liberal (PL) na Câmara dos Deputados, Sóstenes Cavalcante (RJ). Apesar disso, Sóstenes acredita que Motta “não conseguirá” sustentar, por muito tempo, a tentativa de travar a pauta. “Uma hora a coisa tem que andar.”
Além dessa análise, um deputado de centro vê em Motta o principal obstáculo ao avanço da proposta.
Motta está enrolando?
“Só enrolação”, avaliou o parlamentar, em caráter reservado. “Quer ganhar tempo. Deixar esfriar o assunto.”
Na avaliação desse congressista, enquanto Motta permanecer no comando da Câmara, a pauta da anistia aos presos e condenados pelo 8 de janeiro de 2023 dificilmente avançará. “Se quisesse, já tinha feito força. Colocou barreiras. A oposição venceu. Ele criou novas”, detalhou. Em seguida, indagou: “Agora, a pergunta que fica é: ele trocou esse recuo pelo quê? Não prenderem o pai? Cargos? Emendas?”
O deputado José Medeiros (PL‑RS) afirmou que o presidente da Câmara está “entre a cruz e a espada”, em virtude da pressão imposta pelo Supremo. “Não tive acesso ao texto costurado pelo STF e sou contra o avanço desse texto.”
“Jantar sintomático“
Medeiros também afirmou que o jantar ente o presidente do Senado e o ministro Alexandre de Moraes é “sintomático” da “relação duvidosa” entre o Parlamento e o Legislativo
“Fiquei sabendo do jantar e isso me preocupa muito”, disse o deputado. “Toda vez que o ministro Alexandre visita o Congresso ou o presidente do Senado, perdemos uma pauta importante. Da última vez que ele esteve no Congresso, o projeto de contagem pública de votos foi para o arquivo. As instituições estão funcionando, mas cada uma deveria se manter no seu quadrado.”
O acordo entre os presidentes da Câmara e do Senado com ministros do STF representa uma articulação silenciosa, mas decisiva, para moldar os rumos da proposta de anistia. Apesar das divergências públicas e do impasse dentro da Câmara, parlamentares veem na aproximação entre as cúpulas do Congresso e do Judiciário um esforço coordenado para controlar a pauta.
O que preocupa os parlamentares, no entanto, é que esse entendimento ocorre longe dos holofotes e à margem do debate público.
Crédito Revista Oeste