‘Ir para o centro pode ser a morte do PT’, diz Gleisi Hoffman

Foto – Vinícius Loures

Em entrevista ao GLOBO, deputada defende mais empenho para divulgar ações do governo e afirma que Lula não é Biden e concorrerá em 2026

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Em seus últimos meses depois de um período de sete anos como presidente do PT, Gleisi Hoffmann afirma que o partido pode morrer caso opte por fazer um movimento ao centro, o que é defendido por setores da própria sigla. Ela confia no apoio em 2026 das legendas que estão no Ministério, ainda que parte delas flerte com outras candidaturas, e enxerga apenas Lula como o nome capaz de enfrentar a oposição. Segundo a dirigente, o presidente, que terá 81 anos em 2026, não pode ser comparado ao americano Joe Biden, que abriu mão de concorrer após uma série de críticas em razão da idade avançada.

A senhora vai apoiar um candidato à sua sucessão no PT? Já tem um nome?

Não. Vamos divulgar agora o calendário do processo de eleição. A partir daí, começa a discussão. Antes da definição do nome, a gente tem que fazer o debate político sobre o PT. É isso que vai qualificar o nome para assumir o partido.

E qual deve ser o papel do PT?

O PT não serve para perpetuar as estruturas sociais, políticas e econômicas injustas e excludentes que marcam o país. É um partido de esquerda e assim deve continuar. Isso não impede que converse e faça alianças, como tem feito.

Muitas lideranças do PT dizem que Edinho Silva, favorito de Lula para presidir o partido, tem mais diálogo com o centro do que a senhora. Vai ter diferença na condução?

Conduzi o processo eleitoral de 2022 construindo uma aliança ampla, com 11 partidos. Teremos em 2026 um quadro muito semelhante, até porque o governo já está ampliado, com legendas que não apoiaram o Lula em 2022 e agora discutem o apoio para daqui a dois anos. Se elas não vierem por inteiro, pelo menos parte delas, ampliando a frente de 2022.

Há pessoas que defendem a necessidade de o PT fazer um movimento para o centro buscando se adequar aos novos tempos. Como vê isso?

Diálogo político com o centro nós tivemos na campanha e ampliamos no governo. Já tentaram matar o PT e não conseguiram. Não podem pedir agora que o PT se suicide, rompendo com a base social que nos trouxe até aqui.

Mas o que levaria o PT a romper com a base social?

Fazer um pacote de retirada de direitos como o mercado quer. Ele está dizendo que as medidas são insuficientes. O que o mercado está pedindo é negar tudo aquilo que nós defendemos historicamente.

Quais medidas iriam contra esses princípios?

Acabar com o aumento real do salário mínimo, desvincular o mínimo da aposentadoria e dos benefícios sociais, mexer nos pisos da Saúde e da Educação. Não querem fazer a votação da reforma da renda para dar isenção a quem ganha até R$ 5 mil.

Durante a discussão do pacote, levantou-se a possibilidade de adoção de muitas dessas medidas. Atuou junto a Lula para que elas não fossem implantadas?

Nas oportunidades que eu tive de falar com ele durante esse processo, reafirmei as posições do PT. Ele sabia que tinha que preparar medidas e foi muito sensível e responsável nessa condução.

Em uma manifestação recente, o presidente não foi categórico se será candidato. Vê como certa a candidatura?

Ele é fundamental para ganharmos as eleições. Não vejo um outro nome com capacidade de disputa na sociedade brasileira.

Na eleição dos Estados Unidos, a idade de Joe Biden foi um fator colocado. O presidente Lula terá 81 anos. Será um problema?

Quem conhece o Lula sabe que não tem nenhuma semelhança com o Biden. O Lula está bem, disposto, é uma pessoa ativa. Nem pode trazer aquela avaliação para cá.

Haverá reforma ministerial?

Se ele achar que tem que mexer no governo e isso é importante para dar resultados ao país e também para o aspecto político, ele tem que fazer.

O PT poderia abrir espaço para outros partidos?

Depende muito da conversa que o presidente vai ter conosco. O PT nunca vai faltar ao presidente Lula.

A senhora é crítica do valor das emendas parlamentares, mas é uma das autoras do projeto que criou as emendas Pix. Não é incoerente?

Não é incoerência, porque emenda Pix é a forma para facilitar, o que eu critico é o valor e a distribuição. Ela não aumenta o valor das emendas.

Acha que é o momento de mexer no artigo 142 da Constituição, usado de forma distorcida por bolsonaristas para defender a intervenção militar?

É o momento de arquivar o projeto de anistia e de mexer no artigo 142. Nunca podemos esquecer o passado. Nós fomos muito lenientes com a ditadura militar. As pessoas não foram punidas.

Como ficou a sua relação com o ministro Alexandre Padilha depois de a senhora rebater uma declaração dele de que o PT não conseguiu sair da zona do rebaixamento na eleição?

Já estive lá conversando com ele. Está tudo certo. Esse embate faz parte no calor das discussões.

A senhora chegou a dizer na época que ele deveria cuidar da articulação política, o que foi lido como se ele não estivesse cuidando.

Você está querendo voltar na minha polêmica com o Padilha, e eu não estou querendo voltar.

O governo vai conseguir melhorar a avaliação popular nos dois últimos anos de mandato do Lula?

É preciso uma ofensiva do governo para mostrar o que está fazendo. Tem muita coisa positiva acontecendo, como crescimento do PIB, redução do desemprego, aumento da renda. Mas a sensação da sociedade, ou a construção dessa sensação, não reflete isso. Precisa de um empenho maior de comunicação e político.

O principal adversário ainda é o Bolsonaro, mesmo inelegível?

É a extrema direita como um todo, mas ele é a grande liderança. Acho que vai tentar se candidatar, está dizendo isso. Vai depender do fortalecimento das instâncias da democracia para não deixar isso acontecer.

A relação do PT com o ministro Fernando Haddad (Fazenda) está no melhor momento?

Da nossa parte, nunca foi ruim. A gente sempre falou aquilo que defende historicamente. E ele também sempre falou o que defende. Muitas vezes a gente não combinava. Mas sempre foi em alto nível.

O Banco Central deveria atuar para conter a alta do dólar? A diretoria que seria responsável por isso é comandada pelo Gabriel Galípolo, futuro presidente e indicado pelo Lula.

O BC tem instrumentos para enfrentar a especulação com a moeda. Torrou US$ 70 bilhões das reservas em 127 intervenções no tempo de (Jair) Bolsonaro e (Paulo) Guedes. Não intervir agora é dar um tiro no peito da população. Campos Neto fez tanto terrorismo que penso ter constrangido os novos diretores do BC.

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