Juíza indicada por Bush assume caso da Trump Media contra Alexandre de Moraes após desistência inesperada

Por Paulo Figueiredo

O processo movido pela Trump Media contra o ministro brasileiro Alexandre de Moraes sofreu uma mudança significativa no Tribunal Federal Distrital dos Estados Unidos para o Distrito Central da Flórida. A juíza Charlene Edwards Honeywell, que havia sido designada para julgar o caso, retirou-se do processo sem apresentar justificativa pública.

Honeywell, nomeada durante a administração Obama, atuava como “Senior Judge” – posição concedida a magistrados federais veteranos que já cumpriram ao menos 15 anos de serviço e atingiram a idade mínima de 65 anos. Esse status permite que reduzam sua carga de trabalho para cerca de 25% dos casos regulares e possam declinar processos específicos sem necessidade de justificativa formal, prerrogativa que Honeywell exerceu neste caso.

Após a recusa incomum da magistrada, o sistema judicial americano realizou novo sorteio eletrônico, designando a juíza Mary Stenson Scriven para presidir o processo. Scriven chegou ao tribunal federal através de nomeação do presidente republicano George W. Bush em 2008, após unanimidade no Senado para sua confirmação.

A nova juíza do caso traz experiência em litígios de grande repercussão midiática. Scriven conduziu o processo de direitos autorais que envolveu Carole Baskin e Joseph Maldonado-Passage (Joe Exotic), popularizado mundialmente pelo documentário “Tiger King” da Netflix. Na ocasião, determinou que Maldonado-Passage transferisse seu zoológico para Baskin como parte da resolução de uma disputa de propriedade intelectual avaliada em US$ 1 milhão.

O litígio entre a Trump Media e o ministro Alexandre de Moraes questiona a legalidade das ordens judiciais emitidas pelo magistrado brasileiro contra empresas americanas. O processo foi movido em conjunto com a plataforma de vídeos Rumble, alegando que as determinações de Moraes violam a legislação dos Estados Unidos, segundo argumentam os advogados das empresas.

A tensão escalou significativamente na última sexta-feira, quando Alexandre de Moraes ordenou o bloqueio completo do Rumble em todo o território brasileiro. Em resposta rápida, no domingo, os advogados da plataforma entraram com um pedido de liminar (Temporary Restraining Order – TRO) nos tribunais americanos, solicitando que as ordens do ministro brasileiro sejam declaradas inválidas. A decisão sobre esta medida urgente deve ser emitida nos próximos dias.

O caso tem repercutido intensamente na imprensa internacional, sendo destaque em veículos como New York Times, Wall Street Journal e outros grandes jornais. No Brasil, as notícias relacionadas ao processo estiveram entre as matérias mais lidas durante toda a semana passada, demonstrando o interesse público no desdobramento do confronto jurídico entre a empresa americana e o magistrado brasileiro.

Durante seu discurso no aniversário do Partido dos Trabalhadores (PT), o presidente Luiz Inácio Lula da Silva fez questão de citar o caso com desdém, minimizando sua importância. Na mesma linha, ministros do Supremo Tribunal Federal brasileiro têm utilizado veículos de comunicação aliados, como a GloboNews, para transmitir a mensagem de que o litígio não teria relevância jurídica significativa.

Contudo, o tratamento dado ao caso pelo sistema judiciário americano sugere uma perspectiva diferente. A seriedade com que os tribunais dos EUA têm conduzido o processo, incluindo a rápida redesignação após a recusa da primeira juíza, indica que as autoridades judiciais americanas consideram as alegações suficientemente substanciais para merecer análise aprofundada.

A troca de juízes ocorre em momento crítico, quando a administração Trump sinaliza maior atenção à política externa para América Latina e questões relacionadas à liberdade de expressão, tema recorrente nos pronunciamentos do vice-presidente JD Vance.

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