Líder do PCC a Gakiya: “Salve vai ser cumprido até contra o senhor”

Ameaçado pelo PCC desde que começou a combater a facção, o promotor Lincoln Gakiya recebeu ameaças enquanto investigava morte de agentes

Quando investigava o assassinato de um agente penitenciário do Regime Disciplinar Diferenciado (RDD) da Penitenciária de Segurança Máxima de Presidente Bernardes, no interior de São Paulo, ocorrido em 2009, o promotor de Justiça Lincoln Gakiya ouviu diretamente de uma liderança do Primeiro Comando da Capital (PCC) que o “salve” da facção que ordenou a morte do servidor também seria cumprido contra ele, mais cedo ou mais tarde.

Denílson Dantas Gerônimo foi assassinado a tiros aos 27 anos, ao chegar à casa onde morava com a namorada em Álvares Machado, também no interior paulista.

“Aquilo foi um fato que causou uma comoção muito grande. Era como se fosse um policial penal do sistema penitenciário federal. Eram policiais mais bem treinados, selecionados para estar lá, e ele foi assassinado”, disse Gakiya em entrevista exclusiva ao Metrópoles, nesta sexta-feira (24/10), ao comentar os bastidores da investigação.

Gakiya lembrou, ainda, da prisão de um indivíduo ocorrida seis meses antes, em Presidente Prudente. O suspeito estava no município com o objetivo de matar um agente penitenciário a mando da facção. “Eu até noticiei isso na imprensa para desmobilizar o plano. E, seis meses depois, houve o assassinato desse agente”, lembrou.

O promotor contou que entrou na investigação do homicídio e conseguiu uma delação premiada com uma liderança do PCC. Ao criminoso, Gakiya questionou o porquê de a facção manter o plano de pé, mesmo com a prisão do executor do “salve”.

A resposta demonstrou ao promotor a persistência do crime organizado em cumprir planos já decretados.

“Ele me disse assim: ‘Doutor, o senhor colocou o dedo no ponteiro do relógio. A hora que o senhor tirou o dedo, o ponteiro começou a correr novamente. O senhor só retardou o assassinato. O salve foi dado e um dia ele vai ser cumprido, e o mesmo vai acontecer com o senhor’”, relatou Gakiya.

Segundo ele, o faccionado acrescentou ainda que “ordem é ordem” e que deve “ser cumprida”. “Não tem como falar: ‘Não vai dar’. A ordem está dada”, teria dito o criminoso.

Ameaçado pela facção desde que passou a combatê-la, há aproximadamente 20 anos, Gakiya afirmou que intimidações do tipo o amedrontam. “Pode parecer que é banal, que eu estou acostumado, mas não é não. Eu também fico abalado, principalmente porque pode ter havido aí o monitoramento da [minha] família”, disse.

Gakiya teve casa monitorada pelo PCC com drones

O promotor, que vive há mais de 10 anos sob escolta de grupos de elite da Polícia Militar (PM) devido às ameaças que já recebeu do PCC, afirmou que teve a casa monitorada por drones da facção criminosa.

Nesta sexta-feira, Gakiya afirmou que o plano para matá-lo também incluía o ex-delegado-geral de São Paulo Ruy Ferraz Fontes – executado em uma emboscada, no litoral paulista, no dia 15 de setembro. O grupo responsável pela execução seria o mesmo e teria planejado os assassinatos em 2023, mas se desmobilizado posteriormente.

Os criminosos, que têm uma lista de autoridades como alvo, teriam se reorganizado recentemente, colocando em prática a execução do ex-delegado-geral.

Operação contra integrantes do PCC

Uma operação contra membros da facção foi deflagrada pelo Ministério Público de São Paulo (MPSP) e pela Polícia Civil na manhã desta sexta e cumpriu mandados de busca e apreensão de suspeitos por planejarem o assassinato do promotor e do coordenador de presídios Roberto Medina.

Investigações apontaram a existência de uma célula do crime organizado estruturada de forma compartimentada e “altamente disciplinada”, encarregada de realizar levantamentos detalhados da rotina de autoridades públicas e de seus familiares, “com a clara finalidade de preparar atentados contra esses alvos previamente selecionados”, segundo o MPSP.

O promotor Lincoln Gakiya afirmou que notou sua casa sendo monitorada por drones há três semanas. Além disso, os suspeitos haviam identificado e mapeado os hábitos diários de autoridades.

“Eu tive sobrevoo de drone há 3 semanas na minha residência”, afirmou Gakiya.

Desde o início da manhã, são cumpridos 25 mandados de busca e apreensão nas cidades de Presidente Prudente (11), Álvares Machado (6), Martinópolis (2), Pirapozinho (2), Presidente Venceslau (2), Presidente Bernardes (1) e Santo Anastácio (1), todas no interior de São Paulo.

A Operação Recon, coordenada pelo MPSP e pela Polícia Civil, identificou os envolvidos na fase de reconhecimento e vigilância, bem como fez a apreensão de materiais e equipamentos que serão submetidos à perícia e, em última análise, poderão levar à descoberta dos responsáveis pela etapa de execução do atentado.

Crédito Metrópoles

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