Foto - reprodução/Canal Gov
Presidente afirma que pobres se tornaram “mão-de-obra barata” para gerar “riquezas das oligarquias”.
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) afirmou nesta quarta (24) que a fome e a pobreza no mundo foram agravadas nas últimas décadas por uma “globalização neoliberal” que manteve os pobres como um “mal necessário” e mão-de-obra barata para produzir as “riquezas das oligarquias”.
A crítica foi feita durante a apresentação da Aliança Global contra a Fome, o principal projeto da presidência rotativa do Brasil no G20 e que será oficialmente lançada durante a reunião de cúpula em novembro, no Rio de Janeiro. A fala ainda incluiu uma crítica ao bilionário norte-americano Elon Musk, um “super rico” que deveria ser taxado de acordo com ele.
Em um discurso lido, Lula disse que “ao longo dos séculos, fome e pobreza estiveram cercadas de preconceitos e interesses”, e que “falsas teorias os consideravam responsáveis pela própria pobreza, atribuída a uma indolência inata, sem qualquer evidência nesse sentido”.
Para ele, os trabalhadores que “não puderam ser incorporados à produção e ao consumo, ainda hoje são tidos como um estorvo” pelos “governantes e setores abastados”.
“Quando muito, tornaram-se objeto de medidas compensatórias paliativas. Nas últimas décadas, a globalização neoliberal agravou esse quadro”, disparou emendando críticas a gastos militares e escolhas políticas que interrompem a produção e distribuição de alimentos e insumos.
Isso, diz, contribui para o aumento dos preços mesmo com o mundo produzindo “alimentos mais do que suficiente” para erradicar a fome – que é o alvo da aliança fomentada pelo governo durante a presidência do G20.
Lula ainda fez uma crítica indireta à União Europeia, que vem tentando fechar um acordo comercial com o Mercosul desde o ano passado e que não avança por questões protecionistas. “O protecionismo discrimina contra os produtos de países em desenvolvimento”, pontuou.
Críticas a Elon Musk
Ainda durante o discurso de apresentação da Aliança Global contra a Fome, Lula voltou a defender a cobrança de um imposto sobre as grandes fortunas para financiar políticas públicas à população mais vulnerável, também uma das iniciativas da presidência do Brasil no G20.
Ele afirmou que a riqueza dos bilionários passou de 4% do PIB mundial nas últimas três décadas para quase 14%, e que eles pagam “proporcionalmente muito menos impostos do que a classe trabalhadora”.
“Alguns indivíduos controlam mais recursos do que países inteiros. Outros possuem programas espaciais próprios”, disparou Lula sem citar diretamente Elon Musk, mas que vem sendo alvo de críticas desde abril quando o bilionário passou a acusar o Judiciário brasileiro de censura por ordenar o bloqueio de perfis na rede social X de opositores ao presidente.
Lula afirmou que o Brasil “tem insistido no tema da cooperação internacional para desenvolver padrões mínimos de tributação global, fortalecendo as iniciativas existentes e incluindo os bilionários”. Um pouco antes, o ministro Fernando Haddad, da Fazenda, também fez uma defesa da cobrança de um imposto sobre grandes fortunas, citando um estudo que aponta que uma alíquota de 2% que renderia de US$ 200 bilhões a US$ 250 bilhões ao ano para financiar políticas de enfrentamento à fome e à pobreza.
Fora do texto lido, ao final da apresentação, Lula repetiu uma frase que se tornou constante em seus discursos, de que “muito dinheiro nas mãos de poucos simboliza miséria, prostituição, analfabetismo, empobrecimento e fome”.
“Agora, ao contrário, pouco dinheiro na mão de muitos significa exatamente o contrário. Significa uma sociedade próspera, com emprego, consumindo e vivendo [com] decência, ética imprescindível para a sobrevivência humana”, completou. Ele ainda ressaltou que o combate à fome exige decisão política e que os governantes precisam olhar para “aqueles que estão distantes”, e não apenas os mais próximos.
“Aqueles que não conseguem chegar perto de palácios, dos ministros, de uma escola, vítimas de preconceito todo santo dia. Essa gente precisa ser olhada”, disse ressaltando que se discute inteligência artificial, mas que não se consegue consumir a “inteligência natural que todos nós temos”.