Manifestação terminou em confusão com a polícia em Belo Horizonte
Uma manifestante foi presa ao pichar uma estátua durante um ato da esquerda contra o PL da Dosimetria realizado na Praça da Estação, em Belo Horizonte, neste domingo, 14. A ação ocorreu diante de outros participantes do protesto e levou à intervenção da Polícia Militar e da Guarda Municipal.
O episódio foi registrado pelo perfil Fala Panza, que cobria a manifestação no local. Segundo o relato, a responsável pela possível depredação ao Monumento à Terra Mineira é uma mulher indígena. Nas imagens, é possível ver palavras de ordem, como “demarcação” e “Brasil, terra indígena”.
De acordo com o material, a pichação ocorreu enquanto a manifestação ainda transcorria normalmente. Panza afirma que a ação não foi percebida pela maior parte dos manifestantes no momento em que aconteceu. “Ninguém percebeu que no momento anterior ela acabava de fazer uma pichação em patrimônio público”, diz o relato.
Pichação levou a abordagem da polícia
Durante o ato, Panza relata que conseguiu conversar rapidamente com a mulher. “Perguntei se a tinta que ela estava usando era removível”, afirmou. Segundo ele, a impressão inicial era de que se tratava de uma ação simbólica ou encenação para registro em foto ou vídeo, já que outras pessoas também filmavam a cena. No entanto, ele ressalta que “era realmente tinta e ficou marcado na estátua”.
Em seguida, a mulher foi abordada por agentes da Polícia Militar e da Guarda Municipal. Segundo a cobertura, parte dos manifestantes passou a contestar a atuação policial, sem ter presenciado o momento da pichação. “Os manifestantes foram todos contra a atuação da Polícia Militar, da Guarda Municipal, porém ninguém viu o que estava acontecendo realmente”, afirma o repórter.
No momento em que a manifestante foi colocada na viatura, houve aglomeração ao redor do veículo policial. Diante da situação, a polícia utilizou spray de pimenta para dispersar o grupo. O episódio resultou em confusão generalizada e xingamentos direcionados aos agentes de segurança, segundo a publicação.
Ainda conforme o relato, a confusão levou ao encerramento do ato. Integrantes do palanque tentaram retomar a manifestação e convocaram os participantes a retornar para a frente do carro de som, mas a mobilização não avançou. “Nesse momento, acabou completamente a manifestação”, disse.
Estátua vandalizada é quase centenária
A estátua vandalizada durante a manifestação na Praça da Estação integra o conjunto do Monumento à Terra Mineira, inaugurado em 15 de julho de 1930, no então principal portal de entrada de Belo Horizonte. O monumento foi concebido para simbolizar a grandeza de Minas Gerais e de seu povo em um período em que a estação ferroviária concentrava o fluxo de chegada à capital.
A escolha do local teve caráter estratégico. Nas décadas de 1920 e 1930, a praça era considerada a ligação direta de Belo Horizonte com o restante do país por via férrea. O monumento foi instalado de frente para a estação, com a figura principal voltada para quem desembarcava na cidade, em um gesto de recepção e afirmação simbólica do Estado.
De autoria do escultor e arquiteto italiano Júlio Starace, a obra é composta por uma estátua de bronze para representar um homem nu que empunha uma bandeira, assentada sobre uma base em granito. A figura humana, com dimensões superiores às de um corpo real, apresenta forte contração muscular e movimento acentuado dos membros, o que transmite a ideia de força, ação e bravura. A inspiração formal remete a Apolo, divindade greco-romana associada à justiça e à tolerância.
O monumento foi erguido em homenagem aos heróis e mártires mineiros “que, no sacrifício pela conquista do território e da liberdade, verteram o seu sangue em prol da fundação e do engrandecimento da pátria”, conforme placa afixada no local. Entre eles, é retratada a figura de Bruzza Spinosa, associada aos primórdios da colonização; o martírio de Tiradentes, líder da Inconfidência Mineira; o martírio de Felipe dos Santos, ligado a revoltas contra a Coroa portuguesa; e a figura de Fernão Dias Paes Leme, conhecido como o “caçador de esmeraldas”.
Internautas recordam caso “Débora do batom”
Nos comentários da publicação, usuários compararam o episódio com o caso de Débora Rodrigues dos Santos, conhecida como “Débora do batom”, condenada por pichar a Estátua da Justiça durante os atos de 8 de janeiro de 2023, em Brasília. As mensagens fazem referência direta à pena aplicada no caso julgado pelo Supremo Tribunal Federal. Comentários perguntam se a manifestante presa em Minas Gerais poderia receber punição semelhante.
Débora foi condenada a 14 anos de prisão pela Primeira Turma do STF, pelos crimes de associação criminosa armada, abolição violenta do Estado Democrático de Direito, golpe de Estado, dano qualificado contra o patrimônio da União e deterioração de patrimônio tombado. Ela admitiu em depoimento ter pichado a estátua com a frase “Perdeu, mané”, usando batom.
Crédito Revista Oeste





