Moody’s rebaixa Brasil por causa do rombo das contas no governo Lula

Agência cita alta da dívida, inflação e incertezas fiscais; governo reafirma compromisso com equilíbrio das contas públicas

A agência de classificação de risco Moody’s rebaixou de “positiva” para “estável” a perspectiva da nota de crédito do Brasil, mas manteve o de rating em Ba1. Em outubro de 2024, a agência havia elevado a nota do país de Ba2 para Ba1, o que colocou o país a um passo do grau de investimento e bom pagador. No entanto, 2 meses depois da decisão, o país enfrentou um “pânico fiscal”, com economistas criticando a alteração do rating e o dólar batendo a casa dos R$ 6,27

O principal motivo para o rebaixamento da perspectiva de crédito, segundo a Moody’s, é a deterioração na capacidade de pagamento da dívida, pressionada por alta da inflação e expectativas inflacionárias, o que levou o Banco Central a adotar uma política monetária mais restritiva, segundo a agência. Leia a íntegra do relatório (PDF, em inglês – 58 kB) divulgado nesta 6ª feira (30.mai.2025).

Nos últimos 12 meses contados até abril, o setor público brasileiro –formado por União, Estados, municípios e estatais– registrou deficit nominal de R$ 934,4 bilhões, segundo dados do BC (Banco Central). E apenas as empresas estatais tiveram um rombo de R$ 2,69 bilhões no 1º quadrimestre de 2025, o maior resultado da história.

Os fatores que influenciaram a decisão da Moody’s incluem:

  • rigidez dos gastos públicos e incertezas fiscais: a agência aponta um progresso mais lento do que o esperado na contenção das despesas obrigatórias e na construção de credibilidade da política fiscal;
  • alta nos custos de financiamento: o aumento dos juros e dos pagamentos da dívida limita a capacidade do governo de reduzir vulnerabilidades fiscais e estabilizar o endividamento no curto prazo. A Moody’s projeta que a dívida pública brasileira se estabilize em torno de 88% do PIB nos próximos 5 anos, acima da estimativa anterior de 82%, puxada principalmente por juros mais altos que o previsto;
  • deterioração da dívida por causa do pagamento de juros: a agência considera o governo “sensível” à volatilidade dos juros, que atingirá uma relação de 21% ante a receita em 2025, valor 6 pontos percentuais acima de 2023, segundo o relatório divulgado pela Moody’s;
  • vinculação de receitas: para a agência, a proporção de gastos obrigatórios limita o escopo para ajustes fiscais e deixa o país mais suscetível aos juros, além de diminuir a perspectiva de cortes nas despesas.

A Moody’s afirmou que a decisão de manter o rating do país em Ba1, por sua vez, se deve ao crescimento sólido e sustentado de uma economia que é “grande e diversificada”.

Em comunicado depois da revisão, o Ministério da Fazenda reafirmou o compromisso com a melhoria dos resultados fiscais.

“O Ministério da Fazenda reafirma seu compromisso com a melhoria contínua dos resultados fiscais e com o aprofundamento do processo de reformas estruturais, essenciais para garantir o maior crescimento econômico de longo prazo e assegurar o equilíbrio das contas públicas. Esse processo tem ocorrido – e continuará ocorrendo – por meio do trabalho conjunto entre o Poder Executivo e o Congresso Nacional, que demonstraram eficácia ao aprovar diversas medidas relevantes, incluindo uma ampla reforma tributária”, diz.

Melhora controversa e repentina em 2024

A melhora repentina da nota de crédito do Brasil na Moody’s em outubro de 2024 foi controversa e provocou estranheza entre os agentes financeiros. A agência de classificação risco havia ido na direção contrária aos alertas dos especialistas, que diagnosticaram aumento das incertezas nas contas públicas nos últimos meses.

As projeções da época já indicavam que o governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) deveria registrar consecutivos deficits primários até, pelo menos, 2027, com números piores que as metas fiscais propostas. A impressão é que a Moody’s havia tomado uma decisão baseada em “wishful thinking” –pensamento positivo.

Enquanto os analistas viam mais dúvidas do que certeza acerca das contas públicas, chamava a atenção a decisão da Moody’s em elevar a nota de crédito brasileira ter se dado uma depois de uma visita do presidente Lula a agências de risco em Nova York.

Crédito Poder360

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