Compra de letras financeiras do Banco Master levanta suspeitas e resulta na demissão de gerentes da Caixa Econômica Federal
O subprocurador-geral do Ministério Público junto ao Tribunal de Contas da União (TCU), Lucas Rocha Furtado, apresentou, nesta segunda-feira, 15, uma representação no TCU exigindo esclarecimentos da Caixa Econômica Federal sobre a compra de R$ 500 milhões em letras financeiras do Banco Master. A operação foi considerada “arriscada” e “atípica” pelos padrões da instituição. Furtado solicita uma investigação detalhada das possíveis irregularidades associadas ao investimento, levando em conta os riscos envolvidos.
Segundo reportagem do O Globo, um parecer sigiloso de 19 páginas da área de renda fixa da Caixa Asset, a divisão de gestão de ativos da Caixa, desaconselhou fortemente a operação. O documento destacou que a transação era “atípica” e “arriscada” não apenas devido ao montante envolvido, considerado excessivamente alto, mas também por causa do rating do Banco Master.
Dois gerentes que se opuseram à compra foram destituídos de seus cargos pela administração da Caixa na segunda-feira, 8. A ação foi interpretada internamente como uma tentativa de retaliação e de eliminação das resistências à operação, visto que o comitê de investimentos, responsável por aprovar tais transações, deverá ser recomposto com novos gerentes.
Demandas de esclarecimentos
“Vejo com grande preocupação os indícios de irregularidades aqui trazidos. Considerando que prejuízos à Caixa Econômica Federal reverteriam ao erário federal, tendo em vista sua natureza pública, entendo que operações da Caixa Asset, subsidiária integral da Caixa, merecem atuação diligente por parte desta Corte de Contas”, afirmou Furtado.
Ele ainda destacou a necessidade de o TCU ter acesso ao parecer técnico da Caixa sobre a aquisição das letras financeiras do Banco Master, para que possam ser avaliados os critérios utilizados e os possíveis desdobramentos dessa operação.
Senador pede esclarecimento à Caixa
A revelação da operação milionária e a destituição dos gerentes repercutiram não apenas no TCU, mas também no Congresso Nacional. O senador Eduardo Girão (Novo-CE) apresentou na sexta-feira, 12, um requerimento para que a Comissão de Transparência, Governança, Fiscalização e Controle e Defesa do Consumidor do Senado Federal exija esclarecimentos da Caixa e da Caixa Asset sobre a demissão dos dois gerentes.
Para Girão, a destituição dos gerentes Daniel Cunha Gracio e Maurício Vendruscolo, quatro dias após a emissão do parecer técnico contrário à operação, “levanta sérias dúvidas sobre a integridade das práticas de governança da Caixa Econômica Federal”, podendo “comprometer a confiança do mercado financeiro na instituição”.
Girão solicitou uma audiência pública com o presidente da Caixa Econômica Federal, Antônio Vieira Fernandes, e o CEO da Caixa Asset, Pablo Sarmento, para esclarecimentos adicionais.
Em entrevista ao O Globo, o CEO do Banco Master, Daniel Vorcaro, defendeu a operação milionária, alegando que a compra representa um “bom negócio” para ambas as partes envolvidas.
O estranho acordo do Banco do Brasil
O caso da Caixa lembra reportagem exclusiva publicada por Crusoé em 21 de junho sobre O estranho acordo de R$ 600 milhões do Banco do Brasil. Com a diferença de que o caso do Banco do Brasil se consumou, e com a assinatura do ministro Superior Tribunal de Justiça (STJ) Luís Felipe Salomão num domingo à noite.
Impossível não lembrar também de quando Lula pediu publicamente ao então presidente do Santander, Emilio Botín, em 2014, a demissão de uma executiva que alertou para os riscos da reeleição de Dilma Rousseff para a economia brasileira.
“Essa moça tua que falou não entende porra nenhuma de Brasil e nada de governo Dilma… pode mandar embora”, discursou Lula em palanque. A “moça” foi de fato mandada embora, e cobrou na Justiça indenização do petista. O tempo mostrou de forma avassaladora, com o peso de um impeachment, que a analista do Santander estava correta.