O que dizem as mensagens de Tagliaferro que a Gazeta do Povo revelou com exclusividade

Eduardo Tagliaferro comemorou a sanção ao ministro Moraes pela Lei Magnitsky em entrevista a Allan dos Santos.

Após as sanções aplicadas pelos Estados Unidos ao ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes, Eduardo Tagliaferro, ex-assessor do magistrado no Tribunal Superior Eleitoral (TSE), disse que prepara novas revelações. A afirmação foi feita em entrevista aos jornalistas Allan dos Santos, Ernesto Lacombe e Max Cardoso, na quarta-feira (30), durante transmissão da Revista Timeline. Segundo ele, as provas documentais seriam relacionadas às eleições de 2022. Ele disse ainda que os documentos estão sob sua guarda e que a divulgação ocorrerá assim que ele garantir a segurança de sua família.

Antes disso, em abril de 2025, o conteúdo de uma série de mensagens de Tagliaferro foi divulgado, com exclusividade, pela Gazeta do Povo. Nelas, ele já havia expressado o desejo de contar o que viu: “Mas antes de eu morrer/ Tenho que contar tudo de Brasília/ Só falta isso/ O resto, mesmo eu sofrendo, já coloquei cada um no seu lugar”, escreveu em 31 de março de 2024.

As mensagens revelavam, em especial, que Tagliaferro tinha medo do ex-chefe. “Se eu falar algo, o Ministro me mata ou me prende”, escreveu o perito, em 31 de março de 2024, para a sua esposa, numa mensagem de WhatsApp. O conteúdo apontava o suposto uso da estrutura da Corte Eleitoral por Moraes, na época em que era presidente do TSE, para embasar relatórios dos quais era relator no STF.

Outra reportagem publicada pela Gazeta do Povo mostrou que mensagens de WhatsApp até então inéditas revelaram uma conversa por videochamada dele com o jornalista Oswaldo Eustáquio. Numa conversa entre os dois, divulgada no fim de março pelo jornalista português Sérgio Tavares, Eustáquio sugeriu a Tagliaferro meios de se manter fora do Brasil. Já o perito mencionou a preocupação com o sustento de sua família. Oswaldo Eustáquio deixou o Brasil para buscar asilo político na Espanha alegando perseguição por parte de Moraes.

Além dessas, outra série de mensagens mostrou, em abril, que Tagliaferro confidenciou à mulher que o ex-secretário de Comunicação do governo do ex-presidente Jair Bolsonaro Fabio Wajngarten poderia ajudá-lo a ir para os Estados Unidos. O perito também cogitou trabalhar para o bilionário Elon Musk. À epoca, Wajngarten negou contato com Tagliaferro e afirmou que nunca teve o número de telefone do ex-assessor de Moraes.

As mensagens também foram captadas pela Polícia Federal a partir da quebra de sigilo telemático no celular de Tagliaferro e de sua mulher. À época, o documento podia ser acessado por qualquer pessoa cadastrada no sistema de consulta processual do STF. Após a publicação das reportagens, no entanto, a Polícia Federal retirou da pasta pública na internet os arquivos que continham as mensagens.

A PF investigava o vazamento de conversas que o perito mantinha com a equipe de Moraes quando trabalhava no TSE. Em abril de 2025, ele foi indiciado por violação de sigilo funcional.

A defesa de Tagliaferro negou que o ex-perito tenha vazado as conversas e levantou a suspeita de que tenha sido feito pela Polícia Civil ou pela Secretaria de Segurança Pública de São Paulo. Essa possibilidade também apareceu nas mensagens de WhatsApp entre ele e a mulher.

O ex-assessor foi demitido por Moraes em 9 de maio de 2023, um dia após ser preso devido a um desentendimento com a ex-mulher, em casa, quando a arma dele disparou. No dia 9, o celular de Tagliaferro foi apreendido pela Polícia Civil de São Paulo, que só o entregou quase uma semana depois, no dia 15 de maio. Em vários interrogatórios, a PF tentou descobrir por que o celular ficou apreendido, algo não esclarecido até hoje.

A suspeita de que a polícia vazou as conversas de Tagliaferro com a equipe de Moraes foi investigada pela Polícia Federal, mas descartada no relatório final. No inquérito, a PF concluiu que foi o próprio Tagliaferro quem teria vazado para a imprensa mensagens com outros auxiliares de Moraes, que mostravam como o ministro encomendava relatórios junto ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) para remover postagens e suspender perfis nas redes sociais.

Tagliaferro promete revelar documentos quando família estiver em segurança

Nesta quarta-feira (30), na entrevista à Revista Timeline, Tagliaferro indicou que ainda não expôs o que considera mais grave. Segundo ele, há documentos e mensagens guardados em segurança, dentro e fora do Brasil, que só serão tornados públicos quando sua família estiver totalmente protegida. O ex-assessor afirma ter sido alvo de tentativa de invasão digital, além de sofrer pressão direta para apagar registros.

Ele declarou que teve que deixar o Brasil para proteger a si mesmo e à sua família. Afirmou que, após tentativas de obter acesso ao conteúdo de seu telefone celular e ao backup do WhatsApp por parte das autoridades, passou a temer pela integridade de suas provas e sua segurança pessoal. “Eles já sabem o que tem no meu WhatsApp. E sabem o que pode acontecer”, afirmou. Atualmente, está em local não revelado e afirma que seu destino será os Estados Unidos, onde pretende divulgar publicamente as informações que guardou.

Tagliaferro também relatou que foi impedido de atuar como testemunha no processo conhecido como “caso do golpe”, sob a justificativa de que era investigado nos mesmos autos. “Nunca vi alguém não autorizar uma testemunha alegando que ela já é parte no processo”, disse, em referência a uma decisão atribuída a Alexandre de Moraes.

Quem é Eduardo Tagliaferro? 

Eduardo Tagliaferro é um perito digital com carreira na iniciativa privada e na área de tecnologia. Ele atuou diretamente em um núcleo de inteligência da Corte e chefiou a Assessoria Especial de Enfrentamento à Desinformação (AEED), órgão dentro do TSE. Criada em 2022, durante a presidência do ministro Edson Fachin, a AEED tinha a missão de combater fake news relacionadas ao processo eleitoral, em especial os ataques ao sistema eletrônico de votação brasileiro.

Em agosto de 2022, após assumir o comando do TSE, Moraes nomeou Eduardo Tagliaferro como assessor-chefe da AEED, responsável pelo monitoramento das redes e checagem de conteúdos. A atuação ganhou destaque nas eleições de 2022, quando o TSE intensificou a remoção de posts e suspensão de perfis. 

Antes da divulgação das mensagens pela Gazeta do Povo, Tagliaferro também já havia sido mencionado em reportagens da Folha de S. Paulo, divulgadas em agosto de 2024De acordo com a apuração, Moraes teria solicitado informalmente, por meio de assessores, a produção de relatórios à equipe de Tagliaferro no TSE. Esses relatórios teriam sido usados em inquéritos sob a relatoria dele no STF, com Tagliaferro atuando como elo entre as duas instituições.

Nas conversas, o perito trocava informações com o juiz Airton Vieira (STF) e Marco Antônio Vargas (TSE). Os dois assessores repassavam ordens informais para a elaboração dos relatórios. Segundo o próprio Tagliaferro, os alvos eram majoritariamente comentaristas de direita e apoiadores de Jair Bolsonaro, e os relatórios resultaram na remoção de conteúdos e perfis nas redes sociais. 

Logo após a divulgação das matérias sobre o elo entre o TSE e o STF, Tagliaferro que havia sido exonerado em maio de 2023, foi indiciado por violação de sigilo funcional, acusado de ser o responsável pelo vazamento das mensagens trocadas com Vieira e Vargas. 

Crédito Gazeta do Povo

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