‘Pacote fiscal se mostrou mais politicagem do que programa’, diz economista, sobre anúncio do governo no fim de novembro
O pacote de ajuste fiscal anunciado pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad (PT), na última quarta-feira, 27, ainda tem causado repercussões no mercado. O dólar prossegue em tendência de alta, ainda fechando acima de R$ 6 na quarta-feira 4.
O índice Ibovespa terminou o dia estável, mas com uma leve queda de 0,04%. Para o economista Leonardo Piovesan, pós-graduado em mercado financeiro, o governo teve falhas na maneira com que planejou e divulgou os cortes orçamentários.
“O pacote fiscal é bom do ponto de vista de segurança fiscal, pretende aumentar o ajuste e reduzir gastos principalmente via corte e aumento das receitas”, afirma a Oeste o economista, que atua em uma financeira da rede do Banco Santander.
“O problema é que a forma com que o governo está realizando isso não é a mais adequada. Mais do que o fator econômico, a forma é mais importante, como o governo vai juntar tudo isso. Sendo bem direto, a cartilha se mostrou mais uma politicagem do que um programa econômico de fato a ser aplicado.”
As medidas, segundo o governo, devem economizar cerca de R$ 70 bilhões nos próximos dois anos. Foi anunciada também a reforma no Imposto de Renda para viabilizar o aumento da faixa de isenção, a partir de 2026, para quem ganha até R$ 5 mil. De todas as medidas apresentadas, três já estão em análise na Câmara dos Deputados.
A primeira prevê a limitação do ganho real do salário mínimo aos limites do arcabouço fiscal (PL 4.614/24). Isso levaria o salário mínimo a um esperado ganho real entre 0,6% e 2,5%, com base na inflação mais a variação do PIB.
“O pacote também precisa passar pelo Congresso e vai ser mais um tempo de desgaste político para passar da maneira que o governo quer e precisa”, afirmou Piovesan, que espera um período ainda turbulento no mercado.
Ele espera que, nesse cenário, o Banco Central (BC) ainda mantenha uma taxa de juros elevada, nas próximas reuniões do Comitê de Política Monetária (Copom). Para o especialista, a taxa atual é mantida em patamares elevados para combater efeitos externos à economia brasileira.
“Fenômenos globais externos estão influenciando, por isso dizemos que a inflação é mais de custo do que de demanda”, ressalta ele.
Falta de confiança interna
No entanto, fatores internos também influenciam. Um deles é a liquidez da economia, um fator positivo que, no entanto, pode se tornar um agente inflacionário caso a produção não acompanhe a demanda. Isso, de certa maneira, está ocorrendo neste momento.
“A liquidez ajuda a dar um aperto na demanda dos produtos e causa um impacto na inflação, a economia está com números bons, mas a taxa de inflação está sendo pressionada”, afirma Piovesan.
Um dos pontos que têm afetado é a fuga, neste momento, de investidores dos países em desenvolvimento, em função de uma tendência de alta de juros nos países desenvolvidos. Com juros mais altos, ativos desses países se tornam mais interessantes.
“Esse pacote fiscal ajuda, mas não é suficiente, principalmente em relação às diretrizes do BC. Precisamos da melhora de fatores externos para influenciar os números positivamente, e o governo precisa fazer um trabalho melhor de confiança interna, tanto dos agentes econômicos quanto financeiros.”