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Para PF, áudio de Cid defende o suposto golpe antes da diplomação de Lula

Foto – Sérgio Lima

Interpretação da Polícia Federal se dá ao analisar conversa do ex-ajudante de ordens de Bolsonaro com general Mario Fernandes

A Polícia Federal interpretou um áudio do tenente-coronel Mauro Cid [gravado em 29 de novembro de 2022] e considera que o ex-ajudante de ordens do presidente Jair Bolsonaro (PL) defendia um suposto golpe de Estado antes da diplomação do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), que seria em 12 de dezembro daquele ano. A declaração foi feita em um arquivo de voz enviado em resposta ao general Mario Fernandes.

Na época, Fernandes era secretário-executivo da Secretaria Geral da Presidência. Ele era um dos mais efusivos defensores de alguma ação para impedir a posse de Lula. Como é comum dentro das Forças Armadas, Cid trata o general com respeito, pois Fernandes era seu superior hierárquico. Ainda assim, diz de maneira clara que “com certeza não vai acontecer” nada antes da diplomação de Lula –e que conversaria com o então presidente Bolsonaro. “O negócio é que ele [Bolsonaro] tem essa personalidade às vezes. Ele espera, espera, espera, espera pra ver até onde vai, ver os apoios que tem. Só que, às vezes, o tempo está curto, não dá para esperar muito mais passar”, declarou o tenente-coronel.

No áudio, Cid não usa a palavra “golpe”, mas a Polícia Federal afirma que era isso que ele desejava expressar. A mensagem era uma resposta à insistência do general Mario Fernandes, segundo a PF, para que algo fosse feito para reverter o resultado da eleição presidencial de 2022, que teve a vitória de Lula.

Eis a íntegra da transcrição do que disse Cid:

“Não, pode deixar general. Vou conversar com o presidente. O negócio é que ele tem essa personalidade às vezes, né? Ele espera, espera, espera. Para ver até aonde vai, né? Ver os apoios que tem. Só que às vezes o tempo está curto, né? Não dá para esperar muito mais passar. Dia 12 seria… Teria que ser antes do dia 12. Mas com certeza não vai acontecer nada. E sobre os caminhões… Pode deixar que eu vou comentar com ele, porque o Exército não pode ‘papar mosca’ de novo. É área militar, ninguém vai se meter. Até porque a manifestação é pacífica, ninguém está fazendo nada ali”.

Bolsonaro e outras 36 pessoas foram indiciadas pela PF (Polícia Federal) na última 5ª feira (21.nov.2024) no inquérito que apura a tentativa de um golpe de Estado em 2022. O relatório final foi encaminhado ao STF (Supremo Tribunal Federal) a cargo de Alexandre de Moraes, ministro relator do caso.

Segundo Moraes, há “robustos e gravíssimos indícios” de que alguns integrantes do governo Bolsonaro discutiram e iniciaram o que seria um planejamento para, em 2022, matar Lula e o então vice-presidente eleito, Geraldo Alckmin (PSB), e o próprio ministro do STF.

Mario Fernandes sempre foi o mais efusivo defensor de um suposto ato de força para impedir a posse de Lula e Alckmin. Em grupos de mensagens do governo Bolsonaro, ele reclamava da inoperância da administração federal sobre tomar alguma atitude.

Em novembro de 2022, Fernandes demonstrou insatisfação sobre o que se passava. Em uma mensagem, o general disse ao coronel Reginaldo Vieira de Abreu que Bolsonaro precisava “decidir e assinar” um decreto de estado de sítio. 

Reginaldo é conhecido como Velame e respondeu a Mario Fernandes em 5 de novembro de 2022, com uma referência a um jargão que era comum em discursos de Bolsonaro, sobre atuar sempre “dentro das 4 linhas da Constituição” (trata-se de uma alegoria com o futebol, quando se diz o que é permitido aos jogadores fazerem dentro de campo, delimitado por 4 linhas). 

Eis o que disse Velame, segundo a PF: “O senhor me desculpe a expressão, mas 4 linhas é o caralho. Quatro linhas da Constituição é o caceta. Nós estamos em guerra, eles estão vencendo, está quase acabando e eles não deram um tiro por incompetência nossa. Incompetência nossa, é isso. Estamos igual o sapo, a história do sapo na água quente. Você coloca o sapo na água quente, ele não sente a temperatura da água mudar e vai se aumentando, aumentando, aumentando quando vê ele tá morto. É isso”.

Em um dos áudios que compõe a investigação, Fernandes sugeriu uma reestruturação do Ministério da Defesa, colocando o general Walter Braga Netto, candidato a vice na chapa de Bolsonaro no comando. A conversa foi em novembro de 2022, com Marcelo Câmara, então assessor de Bolsonaro 

Fernandes disse que Braga Netto estava “indignado” com o resultado das eleições e, no Ministério da Defesa, teria um “apoio mais efetivo” . 

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