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Rebeldes derrubam regime de Assad na Síria e abrem capítulo incerto no país

População celebra tomada da capital por rebeldes, e palácio presidencial e embaixadas são invadidos

Rebeldes na Síria encerraram neste domingo (8) o período de 24 anos do ditador Bashar al-Assad no poder ao anunciarem a conquista de Damasco após um surpreendente avanço por todo o território nos últimos dias.

Recentemente, eles ocuparam Aleppo, no norte, Hama e Homs, no centro; Deir al-Zor, no leste; e Quneitra, Daraa e Suweida, no sul, com o regime demonstrando pouca ou nenhuma resistência às suas forças. Ao adentrarem as ruas de Damasco, não havia sinal do Exército sírio, disseram os insurgentes.

Assad tampouco estava lá, e a confirmação de sua queda se deu quando a Rússia, aliada de longa data do regime, confirmou que ele havia fugido e renunciado ao comando do país. Depois, a imprensa russa noticiou que ele e sua família receberam asilo político do Kremlin e estavam em Moscou.

Em troca, líderes da oposição sírios teriam concordado em garantir a segurança de bases militares da Rússia na Síria, assim como suas instalações diplomáticas. A informação não foi confirmada pelo governo de Vladimir Putin.

Os insurgentes anunciaram sua entrada em Damasco na noite do sábado (7), já madrugada de domingo no horário local. Relatos dão conta de que a tomada foi recebida com euforia pelos residentes da capital, com milhares de pessoas em carros e a pé se reunindo em uma praça central para agitar bandeiras e cantar pela liberdade após mais de meio século de domínio da família Assad —antes de Bashar, seu pai, Hafez, comandou o país.

Mais cedo, centenas de detentos haviam sido libertados de um complexo prisional nos arredores de Damasco, e ex-detentos incrédulos andavam pelas ruas da cidade mostrando quantos anos haviam ficado presos com os dedos e perguntando a pedestres o que havia acontecido, sem entender imediatamente que a ditadura tinha sido deposta.

Habitantes invadiram o palácio presidencial e o percorreram de cômodo em cômodo, posando para fotografias e deixando crianças correrem soltos pelos pomposos salões. Alguns foram vistos saqueando o local, carregando cadeiras nos ombros ao sair do local e deixando objetos espalhados no chão.

Os próprios insurgentes fizeram uma incursão à embaixada do Irã, outro dos principais parceiros do regime, de acordo com a Press TV, canal de notícias de Teerã em inglês, em Damasco. Também entraram na residência do embaixador da Itália na cidade, atirando contra a parede no interior no edifício e realizando buscas por documentos. Autoridades italianas afirmaram que eles não feriram o diplomata ou seus seguranças.

Mais tarde, apoiadores dos rebeldes em países como Espanha e Grécia entraram nas embaixadas da Síria de seus respectivos países para hastear a bandeira nacional.

Sob reserva, autoridades afirmaram à agência de notícias Reuters que o Hezbollah, grupo islâmico libanês que por anos forneceu apoio crucial a Assad, retirou todas as suas forças de segurança da Síria no próprio sábado (7), quando os rebeldes se aproximavam da capital.

Por outro lado, membros da minoria alauita —à qual Assad pertence— e outros aliados do regime encararam a derrocada com um misto de confusão e medo. De acordo com a agência Reuters, muitos questionaram como o colapso ocorreu de forma tão rápida e depois que vários agentes de segurança fiéis a Assad morreram para tentar mantê-lo no poder.

“Sei que há muitos homens que estariam dispostos a lutar se fossem convocados pelo presidente, mas isso não aconteceu. No lugar disso, vimos retiradas em todos os lugares. É estranho”, disse à Reuters um homem na região alauita entre as cidades de Tartous e Latakia.

O HTS (Organização para a Libertação do Levante, na sigla em árabe), organização cuja origem remonta à rede terrorista Al Qaeda, tem sido a protagonista dos combates contra o Exército sírio, e assumiu a conquista das principais cidades de Aleppo, Hama e Homs nestes últimos dias. Mas a própria facção é uma coalizão de cinco milícias principais e seis, secundárias, que têm desavenças entre si.

Outra importante facção, que controla todo o nordeste, é formada por curdos, uma minoria étnica com um longo histórico de inimizades com a Turquia —que, por sua vez, apoiou o levante da HTS. Os demais insurgentes tampouco compõem um grupo homogêneo, e a cidade de Daraa, simbólica por ter sido o berço da revolta síria em meio à Primavera Árabe, foi tomada por um grupo que só se juntou aos enfrentamentos contra o regime na sexta-feira, por exemplo.

A ressurreição observada na última semana e a facilidade com que ela derrubou as forças de defesa do regime impressionam. O conflito interno parecia basicamente congelado desde 2020. Naquele ano, a Turquia, que apoia os rebeldes, e a Rússia, parceira de longa data da ditadura de Assad, acertaram um cessar-fogo entre os grupos que apoiavam no norte e no nordeste do país.

A propalada queda de Assad se deve em parte ao atual contexto geopolítico. O regime sempre contou com seus aliados internacionais para subjugar os rebeldes. Bombardeios por aviões de guerra da Rússia eram frequentes, e o Irã enviou integrantes do grupo islâmico libanês Hezbollah e milícias iraquianas para reforçar o Exército sírio e atacar redutos de insurgentes.

Mas Moscou tem se concentrado na Guerra da Ucrânia desde 2022, e o Hezbollah sofreu grandes perdas em sua própria guerra contra Israel, o que limitou consideravelmente a capacidade da organização e do Irã de auxiliar o regime.

O futuro do país, por sua vez, continua incerto, e a instabilidade abre a possibilidade de que a guerra civil que matou 500 mil de sírios desde o início da guerra civil, em 2011, seja retomada com força total.

Além disso, o HTS é considerado uma organização terrorista pelos Estados Unidos, e seu líder, Abu Mohammad al-Jolani, é visto como autoritário e extremista, embora tenha insistido que conseguiu transformar a facção em uma força moderada nos últimos anos.

Mesmo assim, a queda do regime foi comemorada com festa não só na Síria, como em diversos países que abrigam os cerca de milhões de refugiados do conflito que há 13 anos devasta o país.

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